Era
tanta coisa presa na garganta que a voz saiu, rouca de raiva, com todos os
erres de revolta, repúdio, rancor. Alguns disseram que não há propostas, não há
ideias, é só tumulto.
Como
não há?
São
centenas de milhares de cartazes, centenas de milhares de frases escritas com a
espontaneidade de uma letra desenhada às pressas, desenquadradas na urgência do
clamor, alguns erros de grafia e sintaxe para dar lugar a um anseio maior do
que a gramática. São milhares de palavras esfregadas na cara da indiferença de
uma classe política que, distanciada dos cidadãos que a elegeu, acreditando-se
onipotente dada a nossa longa complacência,
roubou a esperança de uma geração e traiu o futuro de outra.
Relação de causalidade.
Sempre
me perguntei por que o brasileiro não a vislumbrava.
Como
um pai que assistia impotente à filha morrer nos corredores de um hospital
abandonado pelo poder público não atinava com a relação de causalidade entre
aquela tragédia e a desonestidade do político que, meses antes, untuoso e
sorridente, conquistara seu voto, para depois abocanhar a verba que estava
destinada a equipar aquele mesmo hospital?
Como
não foi capaz de discernir que a condenação de seu filho às trevas de um
analfabetismo funcional derivava diretamente dos conchavos escusos da câmara
municipal de sua cidade, o dinheiro da infraestrutura escolar surrupiado por
vereadores e prefeitos com os quais ele era capaz de esbarrar todos os dias nas
ruas?
Como
uma população inteira encarava os desmandos
de deputados, senadores, governadores, dirigentes de grandes estatais,
chefes de agências e repartições públicas, escancaradas todos os dias na
imprensa, com fatalismo, com a vaga ideia de que alguém roubava o governo, sem realizar que o governo não possui fundos e que a
apropriação indébita era de uma importante parte de seu salário?
O que
está ocorrendo agora nas ruas do pais inteiro, finalmente, é a relação de
causalidade. Está sendo feita pelos cartazes que são mostrados nas avenidas, no
impromptu das declarações gravadas
pelo povo nos celulares e divulgadas nas redes sociais. A notícia agora é
instantânea, colhida na hora pelos milhares de repórteres anônimos que a disseminam sem censura prévia de
redatores-chefes, sem copy desk nem
opinião de patrocinadores.
Espero
muito que esta recente conscientização tenha bom uso. A mensagem que resultou
foi clara. Queremos, enfim, uma democracia que funcione. É ela que nos permite reclamar, examinar as
contas públicas, ter acesso aos atos do governo, em qualquer nível. É ela que
nos permite escolher e votar. Mas, é preciso exercê-la com a vigilância e a
paixão que vimos desdobrar nas ruas do Brasil.
Dá
trabalho? É claro que dá. Mas a recompensa é a desoneração do nosso futuro.
Oswaldo
Pereira
Junho
2013
Muito bem escrito, como de costume e muito bem observada e posta esta questão dos governados e dos governantes.
ResponderExcluirAqui pela Europa "culta" é tudo "igualzinho" até assusta de "chulisse" e de mediocridade.
Abraço,
Vasco
analise muito bem feita representando um clamor.....um basta....
ResponderExcluirMuito boa sua crônica, mas estou desesperançada a partir dos 5 pactos dessa senhora proferidos ontem numa reunião com governadores e prefeitos. Novamente ela nos vende o futuro.
ResponderExcluirNão dá para crer num presidente que numa altura dessas foi procurar soluções de marqueteiros e do ex.
1- 100% para educação dos royalties do petróleo do pré-sal? Ridículo. Quando, daqui há 10 anos?
2- 50 milhões para melhoria dos transportes: de onde ela vai tirar? debaixo do colchão?
3- Plebiscito onde o TRE deverá organizar; pelo menos levam 6 meses para tal, e muita grana, para 6 meses após organizar as eleições de 2014? Fora isso, somente o congresso pode propor Plebiscitos e aos atuais congressistas não há interesse
4- Trazer médicos de fora para tirar o emprego dos nossos profissionais de medicina? basta darem aos nossos médicos condições e salários dignos..O problema da saúde no Brasil não se prende a falta de médicos, mas sim das condições de trabalho e dos baixos salários.
Enfim, preocupada e desesperançada estou. Zezé
Fiquei curiosa para saber quem é esse Vasco. Conheci um no passado, será o mesmo?
Alguém já disse que as propostas da Dilma são as mesmas feitas por todos os candidatos nos últimos 20 anos...
ExcluirQuanto ao meu amigo Vasco, é um grande amigo português, engenheiro químico de alto gabarito que mora em Famalicão, no norte de Portugal. Já esteve no Brasil algumas vezes. Será o mesmo?...
Dilma Roussef, não é nada, nem ninguém; fria, inexpressiva, quase um manequim de vitrine, com tailleurs para senhoras maduras. O prototipo daquilo que os homens menos dotados esperam de uma mulher; cabeça de mumia. Um bauzinho mto xinfrin de textos decorado, desfilando modelitos pelos salões do Poder pelo mundo afora. Nada mais. Lula pelo menos nos acordou e depois veio esta senhora nos ninar, nos entorpecer, com seu discurso vazio. Preocupados estamos todos, mas basta olhar em volta e ver como o povo segue sua rotina de trabalho... e lembrar de Baudelaire: ¨trabalhar é menos enfadonho do que se divertir.¨e também de J. Lacan ¨os erros cometidos de boa fé são imensamente mais danosos do que os cometidos de ma fé¨: Acho que precisamos nos preparar para a Anarquia, pq de bagunça, ja entendemos bastante.
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