Meus
poucos, mas abnegados e pacientes, leitores brindaram-me com um surpreendente e
expressivo interesse em minha recente postagem sobre o bicentenário da nossa
independência. Correndo o risco de parecer repetitivo, animei-me a aproveitar
mais o tema e tentar entender o que foram estes últimos 200 anos de um país
que, segundo Tom Jobim, não é para principiantes.
Primeiramente, faz-se importante perceber o que era o mundo ocidental (já que o Oriente muito pouco tem a ver com o que se passava do lado de cá) em 1822. A Europa estava saindo do furacão napoleônico; Waterloo pusera um ponto final numa era de profundas perturbações há apenas sete anos. Ainda havia muita ferida para lamber, muita reencenação no teatro do velho mundo, muita fronteira para ser redefinida, muitas casas reais fragilizadas procurando manter-se acima da linha do desgaste. Para usar uma surrada frase, o continente europeu nunca mais seria o mesmo.
Portugal, evidentemente, não poderia ter ficado imune. A própria rivalidade entre franceses e ingleses havia jogado o império português em rota de colisão com Bonaparte. O destino apontava como inevitável a mesma sina de outras vítimas do expansionismo da França napoleônica: a entrega da coroa a algum irmão ou marechal de Napoleão. Mas, aí aconteceu o inédito. D. João VI foi para o Brasil.
Até então, nenhum rei colonizador havia posto seus pés em suas colônias. A chegada da corte portuguesa e sua permanência no Brasil, mesmo após a derrota final de Napoleão, foram fatores mais que decisivos para a história comum luso-brasileira. Com o fogo da emancipação se alastrando pela América Latina, em grande parte alimentado pela independência dos Estados Unidos menos de cinquenta anos antes, era inevitável que a mesma chama se acendesse por aqui.
Em 1820, Portugal estava em ebulição. A ausência prolongada de seu rei criara um redemoinho de interesses e uma quase revolução havia defenestrado o Marechal Beresford, o regente nomeado por D. João para chefiar seu governo. Paralelamente, o absolutismo agonizava em toda a Europa; para as casas coroadas, tinha início o processo de corrosão que, eventualmente, iria destruí-las no início do século XX. Enfim, D. João VI tinha de voltar.
Essa percepção acabou por criar aqui várias correntes antagônicas, que iam desde aqueles que defendiam a permanência da corte no Rio de Janeiro aos que queriam vê-la partir. Todas, entretanto, tinham origem na profunda insegurança com relação ao futuro do país. E todas comungavam do mesmo pensamento: não seria mais admissível o Brasil voltar à condição de colônia.
Tente imaginar o espírito do rei português ao se preparar para partir. Ia ao encontro de pressões terríveis, de uma corte hostil e ressentida do longo abandono, de ventos estranhos que sopravam no continente. E deixava para trás uma nação em gestação. Sagaz como era (já escrevi vários textos sobre a fascinante personalidade de D. João VI), ele já intuíra – o processo de independência era imparável. E essa sagacidade ficou evidente no que fez, antes de embarcar. Contrariando toda e qualquer regra da cartilha do absolutismo colonizador europeu, ele instruiu seu filho, o Príncipe Pedro, a, na hora certa, cooptar o movimento e liderar o processo, antes que algum aventureiro (em suas supostas palavras) o fizesse.
Assim, em abril de 1821, enquanto as âncoras do navio com seu nome eram recolhidas e a viagem de regresso de D. João VI tinha início, começava o capítulo final da participação do Brasil no Reino Unido de Portugal e Algarves. D. Pedro, por decreto do pai, ficava para trás como regente e com sua missão. Daí, até setembro do ano seguinte, a escalada da emancipação brasileira seguiria seu destino.
Oswaldo
Pereira
Agosto
2022
Olá Oswaldo
ResponderExcluirMesmo não sendo brasileiro nato mas tentando ser brasileiro por opção, fico interessado pela história do Brasil e sua abordagem sobre o retorno de D. João VI
a Portugal deixando a D. Pedro a difícil e árdua tarefa de governar um povo ávido pela sua independência como os outros que já o tinham feito.
Um povo, de um pais onde se plantando tudo dá e de um território "abençoado por Deus" desde seu inicio sofrido para a conquista do seu território , diversas vezes cobiçado por franceses espanhois e holandeses resultou difícil governa-lo. desde aquela época . Não é para qualquer principiante.
Vamos aguardar.
Continue Oswaldo que esta muito bom.
Emilio Gonzalo
Gracias, Almirante.
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