quarta-feira, 27 de julho de 2022

BOD 60 (26): FOR YOUR EYES ONLY (PARTE II)

 


Chegando a Corfu, Bond encontra-se com Kristatos no hotel cassino pertencente a Colombo e pede-lhe ajuda para localizar o contrabandista. Kristatos aponta para uma mesa próxima, onde Colombo está em companhia de sua amante, a Condessa Lisl von Schlaf. Há uma discussão entre o casal, e a Condessa retira-se da mesa. Bond aproveita-se da ocasião e aproxima-se dela, oferecendo-se para acompanha-la até sua casa, perto de uma praia.

Os dois passam a noite juntos. Na manhã seguinte, enquanto caminham pela areia, Emile Locque os ataca. A Condessa morre no confronto e, antes que o assassino mate Bond, este é resgatado pelos homens de Colombo e levado à sua presença. O contrabandista, então, revela a Bond que o verdadeiro inimigo é Kristatos, a quem Locque na verdade se reporta e que está trabalhando em parceria com os russos para apropriar-se do ATAC.

Juntos, eles preparam um ataque a uma planta de processamento de cocaína na Albânia, pertencente a Kristatos. A operação é bem sucedida e Bond mata Locque (a cena é uma das mais conhecidas do filme. Para vê-la, clique neste   LINK   ). Mais tarde, o agente encontra-se com Melina e os dois mergulham no local do naufrágio do St. Georges para recuperar o ATAC. Entretanto, eles são seguidos pelos homens de Kristatos e obrigados a entregar o aparelho. Melina e Bond são levados para a lancha de Kristatos, que tenta eliminá-los arrastando-os no mar para que se afoguem. Os dois, é claro, conseguem escapar e descobrem que o vilão levou o ATAC para St. Cyril, um mosteiro situado no topo de uma montanha.

ST. CYRIL


Com a ajuda de Colombo, Bond invade o mosteiro e apossa-se do ATAC. Na refrega, Kristatos é morto por Colombo. Quando o General Gogol, o Chefe da contraespionagem russa, chega em seu helicóptero para receber o aparelho das mãos de Kristatos, Bond o recebe e atira o ATAC no despenhadeiro. Nem nós, nem vocês, camarada, em nome da détente, diz Bond.

A cena final mostra 007 e Melina gozando as delícias de um mergulho noturno au naturel nas águas azuis da Grécia. Quando o MI6 tenta estabelecer uma ligação telefônica com a Primeira-Ministra Margareth Thatcher, desejosa de parabenizar Bond pelo sucesso da missão, quem reponde o chamado é o papagaio de Melina, deixado sozinho na cabine do barco...

O PAPAGAIO DE MELINA


Lançado em junho de 1981, For Your Eyes Only marca a tentativa de retorno da série ao conceito inicial, com um roteiro mais enxuto e mais próximo do desenho original. Como a United Artists havia quase ido à falência com o filme Heaven’s Gate de Michael Cimino, o orçamento foi reduzido e a EON não teve cacife para contratar nenhum dos diretores precedentes. O jeito foi promover o editor-chefe das outras produções anteriores, John Glen, para o cargo. Os cenários grandiosos foram encolhidos e Bond teve de se valer mais de seu próprio engenho do que de gadgets mirabolantes.

Não havia certeza de que Roger Moore iria trabalhar em For Your Eyes Only. O ator havia assinado um contrato para três filmes (fizera quatro até então) e colocava em dúvida mais uma participação sua. A EON começou a busca por um substituto, tendo inclusive contatado Timothy Dalton, que recusou por não gostar do rumo que a série tomara. Ao final, o jeito foi convencer Moore a ser Bond mais uma vez.

M, o chefe do MI6, não aparece. Bernard Lee falecera de câncer em janeiro daquele ano e Broccoli, em sua homenagem, decidiu não incluir o personagem, substituindo-o pelo Ministro da Defesa e pelo Chefe do Staff no comando da agência. Carole Bouquet foi a escolhida para interpretar Melina. Críticas posteriores ressaltaram o fato de que houve muito pouca química romântica entre ela e Moore. Isto, e o fato de que Bond, no filme, recusa os avanços da espevitada Bibi Dahl (representada por Lynn-Holly Johnson, uma patinadora artística na vida real), tornam For Your Eyes Only o capítulo de menor temperatura sexual de toda a série, mesmo levando em conta a fugaz noite de Bond e Lisl von Schlaf. Como curiosidade, o papel da Condessa foi desempenhado pela atriz Cassandra Harris, na época mulher de Pierce Brosnan.

O israelense Chaim Topol (famoso por Fiddler on the Roof) encarnou o contrabandista Milos Colombo e Julian Glover (veteraníssimo ator, recentemente o Grande Mestre Pycelle em Game of Thrones) o vilão Aris Kristatos.

A trilha sonora ficou a cargo de Bill Conti. Ele e Michael Leeson compuseram a bela música título, entregue à poderosa voz de Sheena Easton. Impressionado com a figura de Easton, Maurice Binder, o designer da vinheta de entrada, resolveu, pela primeira vez, colocar o rosto de uma intérprete na sequência. Vale a pena ouví-la neste LINK.


For Your Eyes Only custou US$28 milhões e retornou, até hoje, US$195 milhões à EON. E deu novo impulso à franquia.

(continua)

Oswaldo Pereira
Julho 2022

domingo, 24 de julho de 2022

BOND 60 (25): FOR YOUR EYES ONLY (PARTE I)

 


Em 1960, Ian Fleming escreveu um livro de contos, muito ao estilo de Sommerset Maugham, de quem ele era um profundo admirador. Eram cinco histórias: For Your Eyes Only, Risico, From a View to a Kill, Quantum of Solace e The Hildebrand Rarity. As duas primeiras foram escolhidas para, depois de várias adaptações dos roteiristas Richard Maibaum e Michael G. Wilson, comporem a décima segunda produção da série.

O LIVRO DE FLEMING


Como já é de praxe, o filme começa com a habitual pré-sequência. Só que, dessa vez, o enredo nada tem a ver com o plot principal. Bond está num cemitério inglês, colocando flores no túmulo de sua falecida esposa Teresa, quando um padre vem avisá-lo de que um helicóptero do MI6 está chegando para levá-lo a algum compromisso urgente. O agente embarca e logo alguém, manejando um controle remoto, mata o piloto e assume o controle da aeronave. Mostrado sempre de costas e sentado numa cadeira de rodas, esse alguém tem todas as características de Ernst Stavro Blofeld, o Número Um da SPECTRE, como foi personificado por Telly Savalas em On Her Majesty´s Secret Service, inclusive com um gato branco no colo. Mas, nem seu nome é mencionado e nem aparece nos créditos. Isto era decorrência de uma disputa legal entre a EON e Kevin McClory, que escrevera, a quatro-mãos com Fleming, Thunderball, primeiro livro em que o vilão e a SPECTRE aparecem. McClory reivindicava os direitos sobre o personagem e sua organização. Como a querela ainda estava em andamento, “Cubby” Broccoli resolveu incluir a absurda sequência, em que, ao final, Bond retoma o controle do helicóptero e joga o suposto Blofeld dentro de uma chaminé, para dar um recado a McClory de que a franquia podia dispensar tal figura.

O filme propriamente dito tem início com o naufrágio acidental do barco pesqueiro St. Georges (na verdade, um navio espião inglês) no mar Iônico. Como o navio carregava a bordo um aparelho de localização e direcionamento da frota de submarinos equipados com mísseis Polaris da Marinha britânica, denominado ATAC, o MI6 é acionado para prevenir que ele caísse nas mãos soviéticas. Sir Timothy Havelock, um arqueólogo marinho, é encarregado de resgatar o ATAC, mas ele e sua mulher são assassinados por um matador de aluguel, o cubano Hector Gonzáles. A filha dos Havelock, Melina, assiste ao assassinato e jura vingança. (Se desejar ver a cena, clique neste   LINK  ).

Com a morte do arqueólogo, Bond é convocado para descobrir quem está por trás da contratação de Gonzáles. 007 vai para a Espanha, onde o hitman tem uma suntuosa villa. Ao penetrar na propriedade, Bond é apanhado pelos seguranças e levado à presença de Gonzáles. Depois de identificar o agente, o assassino manda eliminá-lo, mas, ao mergulhar em sua piscina, ele é morto com uma flechada nas costas. Na confusão que se segue, Bond consegue livrar-se, não sem antes vislumbrar um homem que poderia ser o mandante da morte dos Havelock.

O CITRÖEN 2CV DE MELINA


Tem início uma perseguição pelos jardins e arredores da villa, durante a qual Bond encontra Melina, que, procurando vingar seus pais, havia disparado a flecha. Os dois conseguem fugir no carro dela, um antigo Citröen 2cv amarelo, despistando os perseguidores em estreitas estradas espanholas. Mais tarde, na segurança de um hotel, Bond tenta convencer Melina a não prosseguir em sua vingança.

Voltando a Londres, e com a ajuda de Q, Bond identifica o homem que vira com Gonzáles. Trata-se de Emile Leopold Locque, um operador do submundo do crime que, segundo informações dos órgãos de inteligência, encontra-se em Corina d’Ampezzo. Com a assessoria de um agente local do MI6 em Cortina, Luigi Ferrara, Bond se aproxima do empresário e informante Aris Kristatos, que revela ser Locque um comparsa do super contrabandista grego Milos Colombo. Kristatos é também o patrocinador de Bibi Dahl, uma patinadora aspirante à medalha olímpica. A pedido de Kristatos, Bond acompanha Bibi a uma competição de biatlo na neve. Lá, entretanto, há uma emboscada preparada para 007, que tem de escapar da perseguição pelas encostas e até numa pista de bobsled, de duas motocicletas e do campeão de esqui Eric Kriegler, que trabalha para os russos.

Ileso, Bond vai, com Ferrara, ao encontro de Bibi num rinque de patinação, mas sofre outro atentado nas mãos de jogadores de hóquei. Ao derrotá-los e voltar para o seu carro, ele descobre que Ferrara foi morto. Um alfinete, com a figura de uma pomba (colomba, em italiano) está colocado em cima do corpo. Convencido de que o contrabandista está por trás de tudo, 007 parte para  Corfu, onde Colombo se encontra.

(continua)

Oswaldo Pereira
Julho 2022

 

 

terça-feira, 19 de julho de 2022

SONETANDO...

 


TESOURO

 

As coisas que eu vi, guardo comigo
Aquelas que vivi são meu tesouro
Não tenho precisão de prata e ouro
Só preciso me lembrar de um sonho antigo

Me basta o som do verso em voz singela
A música e a canção do meu passado
As tardes e as manhãs de um céu dourado
Que tantas vezes tive na janela

Tenho o que é preciso prá viver
Lembranças, de infortúnios e de festa,
Guardadas bem no fundo de meu ser

Tenho tudo aquilo que me empresta
A força, a teimosia e o saber
Prá caminhar o tempo que me resta

Oswaldo Pereira
Julho 2022

 

sábado, 16 de julho de 2022

JAMES WEBB

 


Visto de um determinado ângulo, ele tem um certo quê de Millenium Falcon, a mítica nave de Han Solo. Mas, você não vai vê-lo. Neste exato momento, ele paira numa órbita a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, num ponto Lagrange, isto é, um local do espaço onde a força gravitacional de dois corpos celestes de grande massa proporciona uma órbita estável a um corpo significativamente menor. É o lugar ideal para satélites.

Estamos falando da maior conquista recente da astrofísica: o telescópio James Webb. Batizado em homenagem ao administrador da NASA em seu período dourado (1961-1968), o fantástico artefato é o coroamento de um trabalho que começou em 1996, quando as primeiras pesquisas sobre a exploração do universo utilizando sensores infravermelhos tiveram início. É também o fruto de um esforço conjunto da Agência Espacial Europeia (ESA), da Agência Espacial Canadense (CSA) e da própria NASA.

Com um olho de 6,5 metros de diâmetro, composto de 18 espelhos hexagonais de berílio folheados a ouro, o James Webb é capaz de detectar emissões baixíssimas de raios infravermelhos, muitas vezes abaixo do que os outros telescópios em uso, inclusive o Hubble, conseguem fazer. Seu objetivo principal é captar as imagens das primeiras galáxias e indicar condições atmosféricas de exoplanetas. Sua missão é nos mostrar o início do universo e descobrir se há mundos como o nosso.

Colocado em sua posição espacial em janeiro deste ano, as primeiras imagens do James Webb começaram a ser veiculadas anteontem. São contornos luminosos que saíram de sua origem há mais de 13 bilhões de anos. Estamos olhando para um passado quase incompreensível, para as luzes de galáxias formadas nos primeiros 180 milhões de anos após o Big Bang, o surto primordial que criou tudo o que vemos e somos. O que haverá lá agora? Não sabemos. Nunca saberemos. O presente daquelas galáxias levará outros 13 bilhões de anos para nos atingir.

E então, afinal, qual o sentido disto tudo? Para que ou para quem é montado este extraordinário espetáculo? A que serve podermos tentar entende-lo, se nunca iremos dele usufruir?

E, além de nós, há mais gente na mesma situação? Aqui, perto de casa, já temos quase certeza de que nem a Lua e nem Marte abrigam vida. Podemos quase inferir também que o resto de nossa família solar não mantem civilizações em grau mais avançado, ou já teríamos captado algum sinal. Estamos, pois, sozinhos, como únicos hóspedes de um gigantesco hotel deserto?

Ou será tudo uma grande ilusão, um universo multifacetado navegando em planos distintos e paralelos? Ou um grande cenário fake lá colocado por alguém só para nos fazer sonhar?

É bem provável que o James Webb não nos traga qualquer resposta para estas divagações. Mas, eu adoraria que trouxesse...

Oswaldo Pereira
Julho 2022

quarta-feira, 13 de julho de 2022

30/30/30

 


30/30/30. Esta é a fórmula da tempestade perfeita. Temperatura acima de 30º, umidade do ar abaixo de 30% e ventos com mais de 30km/hora. E estão presentes todas as condições para um devastador incêndio florestal.

E é isto que Portugal, de norte a sul, está enfrentando no momento. Em alerta máximo, o país prepara-se para um período de dez dias em que essas condições poderão deflagar fogos de grandes proporções. Na cabeça de todos, estão os ecos das tragédias de junho de 2017 quando, só na região de Pedrógão Grande, quase 100 pessoas morreram, muitas delas dentro de seus carros numa malograda tentativa de fuga. Em outubro de mesmo ano, mais 54.000 hectares arderam, e mais 50 vítimas pereceram no inferno que dominou o nordeste do país.

As medições assustam. Já desde o início da Primavera, Portugal vem enfrentando uma estiagem sem precedentes. Em meados de junho, 93% do território português se encontrava em situação de seca severa. Com a natural falta de chuva do Verão, a coisa vem-se agravando, se isto ainda é possível. Para piorar as coisas, uma onda de calor, apontada pelas estatísticas como a mais forte desde que essas medições começaram, prepara-se para abater sobre os portugueses.

E é mesmo bom ter cautela. Numa vegetação já estorricada pelo sol inclemente, basta uma guimba de cigarro mal apagada, a brasa de uma churrasqueira descuidada, um fósforo atirado a esmo, e o mundo pode arder. Uma brisa mais forte vai tornar quase impossível o apagar das chamas. Muita gente não faz ideia da velocidade com que as labaredas avançam. Um cunhado meu passou por isto há cinco anos. Seu relato da rapidez com que o fogaréu se aproximou de sua casa (felizmente, foi debelado a tempo) impressiona.

Por mais incrível que pareça, ainda por cima existe a figura dos pirômanos, os incendiários que, por uma tara soturna, se comprazem em atear fogo ao campo. E, mais incrível ainda, a legislação portuguesa pune com inaceitável benevolência os crimes desta natureza.

Sol e calor, o binômio que inspira o lazer das praias, as noites de festa, a alegria das férias tem também sua face sombria. É preciso ter cuidado.

Oswaldo Pereira
Julho 2022

 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

BOND 60 (24): MOONRAKER (PARTE II)

 


Assim que conseguem livrar-se do ataque de Jaws no teleférico do Pão de Açúcar, Goodhead e Bond são apanhados por capangas de Drax, mas 007 consegue fugir. Por essa altura, a seção Q do MI6 já havia examinado a amostra recolhida por Bond em Veneza e verificado que a toxina era produzida a partir de uma rara e venenosa espécie de orquídea existente na região amazônica. Bond vai atrás da pista e, a bordo de uma lancha munida de uma bateria de gadgets e defesas, se envolve numa frenética corrida pelos igarapés amazônicos, perseguido por uma frota de barcos inimigos. Ao aproximar-se de uma imensa cachoeira, Bond manipula os comandos de sua lancha, que se transforma numa asa-delta, e desliza pelo ar em cima das quedas d’água (cenas que foram filmadas em Iguaçu, a mais de 1.000 quilômetros da região amazônica...).

Aterrizando na floresta, Bond segue seus instintos e descobre, no meio da selva, a Base Espacial de Drax, que ali prepara o lançamento de vários shuttles Moonraker. Apanhado logo à entrada, ele e Goodhead, que já lá estava prisioneira, são condenados por Drax a morrer debaixo dos foguetes de propulsão de uma das naves. Mas, evidentemente, Bond é Bond. Os dois conseguem dominar seus carcereiros e tomam o lugar dos pilotos de um dos shuttles e partir para o espaço.

Logo percebem que a nave, como todos os outros Moonrakers, se dirige automaticamente para uma estação espacial e que, como passageiros, levam centenas de casais escolhidos a dedo para serem os fundadores de uma nova raça humana. O plano de Drax estão se revela. Satélites com a toxina serão lançados à Terra, eliminando toda vida no planeta (providencialmente, o veneno não tem efeito sobre animais e plantas...), cujo repovoamento será feito pelos escolhidos e governado por Drax.

Percebendo que nem Jaws e nem a garota sardenta enquadram-se nos parâmetros da nova humanidade, Bond consegue reverter a lealdade do brutamontes e, com a ajuda deste, inicia uma batalha dentro da estação. Isto acaba alertando os controles das bases americanas na Terra e um regimento de marines astronautas parte para atacar a estação de Drax, num confronto a la Star Wars.

Tudo acaba bem para a humanidade e, é claro, para Bond e Goodhead, que são flagrados pelas câmeras do MI6 fazendo amor em gravidade zero dentro do Moonraker. Indagado pelos chefões da agência britânica sobre o que 007 está fazendo, Q profere uma das respostas mais ambíguas de toda a série:“I think he is attempting reentry, Sir...” (eu acho que ele está tentando reentrar, Senhor...).

BOND & GOODHEAD EM GRAVIDADE ZERO...







Apesar de Steven Spielberg ter-se oferecido para dirigir Moonraker, “Cubby” Broccoli, o chefão da EON, preferiu manter Lewis Gilbert e as filmagens tiveram início em agosto de 1978. Como o roteiro exigia locações exóticas, Índia e Birmânia chegaram a ser consideradas, mas Broccoli preferiu o Brasil, onde havia estado em férias anos antes. A maior parte das outras cenas foram filmadas em França e, como foi considerada uma produção franco-inglesa, muitos dos papéis importantes foram preenchidos com atores daquele país, como Michael Lonsdale (lembram-se dele? O detetive que persegue Edward Fox em The Day of the Jackal) para encarnar Hugo Drax, Corinne Cléry como a malograda pilota Corinne Dufour e Blanche Ravalec, a sardenta namorada de Jaws. A Bond girl principal, a Dra. Holly Goodhead, foi interpretada por Lois Chiles, depois que Jacklyn Smith (das Panteras) recusou o papel, devido a conflitos de agenda com as gravações do seriado.

MICHAEL LONSDALE COMO HUGO DRAX
John Barry continuou a comandar a trilha sonora, que faz diversas citações a outros filmes, como trechos do tema de The Magnificent Seven, quando Bond, vestido a la gaúcho e com um grupo de cavaleiros sai à procura de Drax, e os acordes da comunicação alienígena de Close Encounters of the Third Kind na botoeira eletrônica de um laboratório. A música título, de pouco sucesso de vendas e de críticas (embora eu a considere uma da mais inspiradas de Barry) foi gravada pela veterana dos temas Bond, Shirley Bassey, após ter sido oferecida a Kate Bush.

Estreando em junho de 1979, o filme inicialmente recebeu algumas análises favoráveis, mas, com o passar do tempo, foi sendo rebaixado à qualificação de um dos piores episódios da franquia. O plot absurdo, situações inverossímeis, como a conversão do assassino Jaws, e a inapropriada comicidade de certas cenas fizeram torcer o nariz dos aficionados da série. Moonraker é hoje considerado como um dos piores momentos de Bond.

(continua)

Oswaldo Pereira
Julho 2022

segunda-feira, 4 de julho de 2022

BOND 60 (23): MOONRAKER (PARTE I)

 


Nos títulos finais de The Spy Who Loved Me vem a indicação de que James Bond voltaria em For Your Eyes Only. Mas, tal não aconteceu. O final da década de 1970 assistiu ao sucesso retumbante do início da primeira trilogia de Stars Wars. A ficção cientifica da exploração do universo começava a dominar as preferências, o coração e as mentes dos cinéfilos. O Espaço (e além...) estava em pauta.

Os donos da EON resolveram surfar a onda. E o único livro de Ian Fleming que continha alguma referência a foguetes de longo alcance era Moonraker. Escrito em 1954, muito longe ainda do início da corrida espacial, o livro conta a história de um excêntrico milionário inglês, chamado Hugo Drax, que constrói um poderoso foguete e o oferece ao governo britânico. O artefato, na verdade, está muito mais próximo do desenho das V-2 alemãs (a Segunda Guerra era um passado recente) do que de uma nave interplanetária. Ao final, descobre-se que Drax é um ex-nazista, empenhado em vingar a derrota da Alemanha disparando o míssil em cima de Londres.

Usando apenas o nome do vilão e pouco mais, os roteiristas Tom Mankiewicz e Christopher Wood praticamente escreveram uma outra aventura, mais consoante com os objetivos especificados por Albert “Cubby” Broccoli, que eram o de colocar 007 em órbita...

A pré-sequência tem início com o sequestro em pleno ar de uma nave tipo shuttle, que estava sendo entregue ao Reino Unido pelas Indústrias Drax. O MI6 é acionado e M incumbe Bond de descobrir o seu paradeiro. Na viagem de avião para se encontrar com Drax, o agente é atacado pelo já conhecido brutamontes Jaws (personagem surgido em The Spy Who Loved Me) e jogado para fora da aeronave sem paraquedas. Na mirabolante sequência (um arrepiante trabalho dos dublês Jake Lombard e B. J. Worth), Bond consegue aproximar-se do piloto da aeronave (que saltara antes) e apoderar-se de seu paraquedas (vale a pena ver neste    LINK ).

No complexo das Indústrias Drax, situado na Califórnia, (cenas, na verdade, filmadas no Castelo de Vaux-le-Vicomte, em França), Bond encontra-se com o dono, um excêntrico e sofisticado empreendedor e milionário. Ao percorrer as instalações, Bond conhece a Dra. Holly Goodhead, uma cientista e astronauta cedida pela NASA. Durante a visita, ele sofre uma tentativa de assassinato dentro de um centrifugador a alta velocidade por mãos de Chang, um capanga a serviço de Drax.

Escapando, Bond acaba por seduzir Corinne Dufour, a secretária e pilota particular de Drax e, com sua ajuda, abre um cofre, cujos documentos ele fotografa. No dia seguinte, durante uma demonstração de tiro aos falcões promovida por Drax, 007 novamente evita outro atentado e retira-se ileso. Corinne não tem a mesma sorte. Com sua traição descoberta por Drax, ela é morta por uma matilha de cães ferozes.

As fotos tiradas por Bond revelam que Drax está comprando uma grande quantidade de recipientes de vidro de uma fábrica situada em Veneza. Para lá, ele parte. E percebe que a Dra. Goodhead também está na cidade italiana à procura do mesmo endereço. Após uma frenética cena de perseguição pelos canais, Bond consegue penetrar na tal fábrica e descobre que as instalações incluem um laboratório secreto, onde se desenvolve a fabricação de uma toxina de alto poder letal. Conseguindo recolher uma amostra, Bond ainda enfrenta Chang numa luta mortal dentro do museu de vidros antigos da fábrica. Ao vencer a luta, ele verifica que todo este material está sendo enviado para o Rio de Janeiro.

Bond e Goodhead se reencontram. Afinal, ela é uma agente da CIA, também em missão de descobrir o que há por trás das Indústrias Drax. Os dois passam a noite juntos, mas cada um parte separadamente na manhã seguinte.

Bond chega ao Rio em pleno Carnaval carioca. Uma agente local o espera e os dois vão à procura do armazém usado por Drax para estocar as remessas vindas de Veneza. Enfrentando Jaws mais uma vez na confusão da festa de rua, Bond constata que o armazém foi esvaziado, e toda a mercadoria despachada em aviões da empresa de Drax. Na manhã seguinte, ele vai ao Pão de Açúcar, de onde pode observar a movimentação do aeroporto. Goodhead também está lá e os dois resolvem unir forças para investigar Drax e seu objetivo. Ao descerem da montanha, Jaws novamente os ataca e tem a início a célebre cena de luta a bordo do conhecido teleférico.  Num final com toques cômicos, Jaws se esborracha com o bondinho na estação de chegada dos teleféricos e, saindo de debaixo de um monte de escombros, depara-se com uma sorridente garota de óculos. Amor à primeira vista. Se quiser ver a luta no bondinho, clique AQUI     .

(continua)

Oswaldo Pereira
Julho 2022

 

sábado, 2 de julho de 2022

OS DONOS

 


Quase dois anos. Desde outubro de 2020, a mansão não recebia seus donos. Apenas o staff permanecera, desde a última reunião, em que os sete proprietários haviam acessado seus ganhos com a situação fabricada por eles e que criara a maior crise (até agora) do século XXI.

Se você não leu os relatos anteriores sobre esta história (se desejar, clique nos dois links a seguir  LINK 1 e LINK 2    ), saiba o seguinte: os integrantes desse grupo de 7 (seis homens e uma mulher) são os verdadeiros controladores do planeta. Abandone todas as suas outras teorias da conspiração. Através de participações acionárias secretas e usando uma intrincada engenharia societária, eles são, na sombra e no anonimato, os donos do mundo.

Procurando manter o sigilo sobre suas identidades, mesmo nestas reuniões secretas e esporádicas eles se fazem conhecer apenas por seus codinomes. Herr Doktor, o alemão, é o rei dos fármacos; Mr Green, o americano, detém o controle global da banca e da indústria de entretenimento; Sheik, o saudita, comanda a OPEP; Zhivago, o mega oligarca russo, domina a indústria bélica e o mercado internacional de ouro; Samurai, o japonês, os conglomerados de distribuição de energia; Rio, o brasileiro, o agro negócio internacional e a distribuição global de alimentos; e Madame Z, a chinesa que, para a alegria e o lucro de todos, havia engendrado  a crise COVID e era a eminência parda por trás do novo capitalismo chinês.

Como de praxe, os sete haviam chegado na noite anterior em seus helicópteros. Agora, às 9 da manhã, o eficiente staff da casa já deixara tudo pronto para a reunião e, pontualmente, o grupo entrou na imensa sala. O clima era descontraído e de inegável satisfação. Especial atenção era dedicada ao russo. Todos queriam ouvi-lo. Zhivago não se fez de rogado.

«Caros amigos. Isto era tudo o que precisávamos. Com a pandemia arrefecendo, eu tinha de fazer algo. E, posso confessar sem modéstia, a minha ideia de bancar a eleição de um ator ambicioso na Ucrânia há dois anos foi genial. O vaidoso do Putin achou que ia engoli-lo. Mas, aí contamos com a inestimável ajuda do nosso colega Mr Green (Zhivago inclina respeitosamente sua cabeça na direção do americano) que, com a mídia internacional, transformou o pequeno Zelensky num super herói. Spassiba, tovarich Green. Agora temos uma guerra de duração imprevisível. O que poderia ser melhor?»

«Nada!», exclamou Sheik. «É só ver o preço do barril de petróleo. Alá seja louvado...» Samurai, Rio e Madame Z também sorriam. Mr Green complementou.

«E o melhor é a atuação do meu amigo Biden. Foi fácil botar pilha no Sleepy Joe, que estava com a sua popularidade caindo pelas tabelas. Com ele e seus amigos da NATO colocando cada vez mais lenha nessa fogueira, vamos ter esta zona de instabilidade ardendo por muito tempo. Como costumamos dizer cá entre nós, nada melhor do que uma...»

«CRISE!», outros repetiram em uníssono.

Oswaldo Pereira
Julho 2022