Há praticamente um ano, a Organização
Mundial da Saúde, ainda à época uma entidade encarada com respeito por grande
parte dos habitantes deste planeta, batizou a disseminação de um vírus originário
da cidade chinesa de Wuhan com o apelido de Pandemia.
E o mundo, como o (des)conhecemos, nunca mais foi simplesmente uma bola redonda
(pleonasmo conscientemente assumido pelo autor).
De lá para cá, um filme Z de cenários lúgubres e assustadores, roteiros desencontrados e mal alinhavados, edições tendenciosas e falaciosas, atores medíocres e canastrões e diretores obscenos e temperamentais foi lançado, com sucesso de bilheteria, mas fracasso de crítica, nas telinhas de todo o mundo, já que os telões foram fechados.
Foi o ano em que o melhor e o pior, com todas as gradações in between, da raça humana afloraram com todo o seu esplendor ou sua miséria. Tivemos heróis a mancheias, e também vilões em profusão. Tivemos socorristas, plantonistas e toda uma legião universal de médicos e enfermeiros enfrentando um inesperado tsunami de doentes desesperados. Um denodo digno de titãs e semideuses.
Na outra ponta, surgiram os canalhas, os aproveitadores, os desonestos arautos do apocalipse, os assassinos que desviaram recursos que iriam salvar vidas, os abjetos bandidos que falsearam dados e estatísticas por orientação política, os mercadores da desgraça, os vendilhões de um templo em fogo.
Por isso e por tudo, chegamos ao aniversário da pandemia ainda perdidos e, dois e meio milhões de mortos depois, com quem nos devia esclarecer imerso em dúvidas e indagações, com apostas em vacinas experimentais, dançando no ritmo frenético de lockdowns intempestivos e aberturas precoces. Tudo extemporâneo. Tudo sem critério.
365 depois, há coisas que precisam ser analisadas. Por que, por exemplo, dos 15 países com o maior número de mortes per capita, 13 são europeus? Mas, não é na Europa que mais se aplicou uma política austera de confinamento e distanciamento social?
Qual a racionale que suporta um toque de recolher entre as 8 da noite e as 6 da manhã? Admitindo como verdade basilar (espero que todos concordem...) que o COVID não tem sensibilidade bastante para distinguir o dia da noite, e aceitando que, a estas horas noturnas, o movimento é menor, para que fechar bares e restaurantes que tanto investiram em precaução e atendimento às normas de prevenção?
Se acreditarmos na sabedoria popular do ditado que reza que caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém, qual a razão do feroz negacionismo ao uso de remédios ministrados há mais de 70 anos? Com pouco ou nenhum efeito colateral danoso, mesmo que sejam inúteis no combate ao coronavírus, por que impedir o seu uso?
No vácuo de afirmações dignas de crédito e ações coerentes vicejam achismos, providências esdrúxulas e teorias estapafúrdias. As da conspiração abundam. Mas, nenhuma delas é tão inconsistente e tragicamente absurda quanto a realidade em que vivemos.
Oswaldo Pereira
Março
2021
Um pouco de graça para amenizar, o Pelé já vacinou, John Lennon, se vivo fosse, também, e o chefe?
ResponderExcluirBem, eles, oitentões aqui e no céu, são gênios... Este simples mortal está de olho no que acontece com os meus colegas octogenários comuns de 1940. Mas, vou vacinar sim, logo que voltar para o Rio (estou em São Pedro). É a velha história: se correr o bicho pega, se ficar...
ExcluirCaro, sobre sua reflexão de porque 13 dos 15 campeoes de morte per capita estao na EU. Porque têm a população mais idosa. Porque tem menos subnotificaçao.
ResponderExcluirSim, seu comentário procede. De qualquer maneira, o Japão, que tem a população mais envelhecida do mundo, está em 95. lugar.
ExcluirAcho que vc não nasceu em 1940. Já me vacinei na primeira oportunidade e, face a mutação do RNA, pode ser que não venha a ser imunizado. A velocidade de tudo mudou tuod e essa terra redonda na verdade é plana, no sentido de que estamos simultâneos e à vista um do outro. Ela é uma bola porque não passa de uma astronave. Ficou pequena. 1.840 mortes num dia, passando dos mil há poucos dias, é algo para causar pânico, na medida em que hoje é o dia 04/03/2021 e as autoridades sanitárias disseram que é só a ponta do iceberg que tem até o fim do mês ainda escondido nágua.
ResponderExcluirPoético e verdadeiro este seu comentário, caríssimo Lustosa. Mas, eu nasci mesmo em 1940, 17 de outubro, oito dias depois de John Lennon e seis dias antes de Pelé. O raio da genialidade, que caiu duas vezes naquele mês, errou-me por pouco...
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