Sou do tempo pré-televisão (vejam se
conseguem imaginar isso...)
In illo tempore, que é como, nas missas ainda em latim, se dizia naquele tempo, o jornal era o rei da informação. O rádio era o príncipe. Este verbalizava as notícias, em geral em tiradas rápidas e sucintas, como o decantado Repórter Esso, da Rádio Nacional, “o primeiro a dar as últimas”. Mas aquele aprofundava o conteúdo, esmiuçava os detalhes, enriquecia a reportagem. Havia periódicos com até duas edições diárias e o sonho de então de todo o jornalista era conseguir um “furo” sensacional, que o regalasse com o supremo prazer de gritar para as oficinas gráficas: parem as impressoras!...
Na segunda metade da década de 1940, com o término da guerra e o ideal democrático soprando forte no mundo ocidental, à Imprensa escrita e falada foi permitida a existência de jornais e emissoras de rádio de todas as cores políticas à disposição. O espectro era grande.
Mas, e aí está o importante mas, a expressão do pendor ideológico dos donos do noticioso era cingida ao espaço do Editor-Chefe. Era nos seus editoriais, ou mesmo nas colunas dos comentaristas alinhados com ele, que o fato era interpretado. O relato puro da notícia real procurava ser o mais isento possível. Num tempo sem imagens, a palavra escrita tinha de ser o elemento informativo mais descritivamente fiel ao acontecimento.
A expectativa natural era de que, com o advento das radiofotos, depois dos documentários filmados e, por fim, da televisão, a autenticidade do fato reportado ficasse auto evidente. Afinal, a imagem não mente...
Aos poucos, entretanto, e à medida que as técnicas de contextualização dominaram os meios de comunicação, a suposta garantia de isenção conferida pela imagem e a esperança de que o fato estaria preservado em sua pureza e sua verdade foram sendo erodidas pelas ilhas de edição e por textos dúbios e explicitamente tendenciosos.
Em maior ou menor grau, este é o atual panorama vigente na imprensa mundial e seria de se admitir que o Brasil experimentasse o mesmo fenômeno.
De uns tempos para cá, no entanto, a coisa tomou, neste nosso país, um viés mais distorcido e mais desonesto. Embora indesculpável, o ato de maquiar um evento noticioso poderia até ser esperado por parte da mídia nacional num ambiente político tão polarizado como o que vivenciamos no presente.
Mas, o que vemos não é só isto. Por um motivo que pode dever sua explicação a interesses corporativos contrariados, praticamente TODA a grande imprensa brasileira resolveu bater no Governo Bolsonaro. E está-se desincumbindo desse expediente da maneira mais cega e decididamente perigosa possível, ou seja, pela descarada omissão de sua função de informar, simplesmente desprezando a existência de certos acontecimentos que, na sua miopia profissional, poderiam favorecer politicamente o atual Presidente.
O impenetrável silêncio que dominou os meios tradicionais de comunicação, no dia em que grandes manifestações de apoio a Bolsonaro tomaram conta das cidades, é uma prova.
Qualquer que seja a sua preferência, mesmo como um ferrenho antagonista de tudo o que este Governo faz, não acredito que você possa nutrir um mínimo vestígio de confiança numa imprensa com esse comportamento.
Isto já seria desastroso, por si só. Mas, numa época em que a percepção da sociedade é de que as redes sociais constituem a sua fonte de atualização por excelência, isso é suicídio.
Oswaldo Pereira
Março
2021
A síntese pode estar na forma de dizer não com a simples ausência.
ResponderExcluirRespostas...nunca mais ! Temos ainda a imensidão do mundo interior.
Políticas, capital, marqueting, governabilidade, legalidade, cidadania, arte, contágio, educação, comunicação; tudo isso parece estar naufragando num mar de non sense intransponível.
Apocalíptico, mas tenebrosamente verdadeiro....
ExcluirFaz muito tempo - e já aqui abordei a questão - que a chamada grande imprensa faz do hermético silêncio sobre pessoas e fatos a sua ferramenta de isenção: não mostro, não comento, logo não existe, não acontece ... Por absoluta falta de melhor opção ( se não , pura e simplesmente, por falta de opção ) sou assinante do jornal O GLOBO. É um espanto como esse jornal ( quase dizia pasquim, mas lembrei-me do respeito que me merece o assim intitulado ... ), depois de anos de absoluta ausência unilateral no por si mesmo inacreditável tema "Moro x Lula", de repente, não mais do que de repente, sem maiores explicações, introduz nas suas páginas o nome maldito e longamente proscrito ( Lula ) e, com o que parece envergonhada parcimônia, a dúvida - há muito evidenciada e explicitada por outros orgãos - que se abate sobre a isenção do longamente omnipresente e endeusado outro personagem ( Moro ). Quem, durante anos,tivesse limitado as suas fontes de informação ao O GLOBO e à TV GLOBO, estaria agora vivendo a estranhíssima sensação de ter estado durante anos ausente deste planeta e aqui caído como se fosse um alienígena ...
ResponderExcluirExcelente!
ExcluirBoas palavras.
ResponderExcluirVc deve estar em Portugal ou alhures meu amigo. Aqui não passaram desapercebidas as manifestações maniqueístas de apoio ao nosso presidente trump e a claque que o apoia. Se vc acha que depois de todo o negacionismo, a pandemia estar matando mais aqui no Brasil do que em qualquer outro lugar do mundo, a culpa é da grande imprensa, acho que está realmente viajando. O estilo task force da Lava Jato é a forma de se pegar corruptos, embora a origem de nosso sangue seja de um DNA que já vem corrompido. Daí acharmos natural o tipo "toma muito lá do que dá cá" do petrolão. Se os grampos da INTERCEPT tivessem revelado alguma violação de lei, senão a cooperação dentro da lei para que os processos chegassem onde nunca chegaram, vá lá. Mas é matéria de receptação vazia de conteúdo mas cheia de um estofo a que o país e o sistema não estão acostumados. Vergonha na cara. Acho que estou na contramão com o passo errado que era o certo. O único com o passo certo é o negacionista beócio que ocupa a presidência... e com meu voto!
ResponderExcluirCaríssimo Lustosa,
ExcluirEmbora preferisse estar em Portugal, ainda estou em Pindorama. Ou eu me expressei mal ou o amigo missed my point. Em nenhum momento inferi que é culpa da imprensa o crescimento da pandemia no Brasil. O que afirmei, e continuo afirmando, é que a grande mídia brasileira vai afundar se continuar, por motivos políticos, a maquiar e ocultar a realidade dos fatos.
Agora, quanto à sua análise do DNA tupiniquim, você está com o passo certo...
ExcluirCaro Lustosa
ExcluirO Brasil ocupa a 23° posição no ranking de mortes/milhão.
Você deve rever suas fontes.
https://www.worldometers.info/coronavirus/
Amigo Oswaldo, sempre apresentando uma análise objetiva e equilibrada. Hoje em dia, na grande imprensa não se tem mais a informação do fato mas apenas a sua interpretação. Virou moda a 'narrativa', não a noticia. Muitos fatos positivos deste governo não vêm à luz pela polarização que se instalou de vez.
ResponderExcluirCertíssimo, caro Zé. O fato foi para as cucuias há muito. Quando acabava de assistir aos noticiários da TV aberta (coisa que parei de fazer), ficava sempre, ao final, com a impressão de que nada me fora informado. Uma lástima!
ExcluirA realidade que escreve deveria estar nos jornais, mas qual jornal? O GLOBO CONTINUA SENDO COLOCADO DIARIAMENTE EM MINHA PORTA, E NAÕ ABRO. NÃO HÁ O QUE LER.A verdade que você escreve é lida por poucos. Sinto que as pessoas não gostam mais de ler. O que será de nosso povo e da juventude depois que tudo terminar e começarmos a sentir novos tempos.Isso é a esperança que não sai de mim, só assim poderemos sobreviver.O nosso governo tem cumprido suas obrigações. Sinto que devemos rezar e pedir a Deus misericordia .
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