O vídeo viralizou (mais um neologismo parido pelas redes...)
Uma professora de Minas Gerais teve uma aula virtual sua gravada por pais escandalizados e postada no oceano revolto do Face. O rastilho de pólvora aceso por um clic ganhou o país.
Explica-se. Nessa “aula” (desculpe, mas tenho de colocar o substantivo entre aspas; aquilo tem outro nome...), a referida mestra usa o tempo em que deveria estar, e para o qual estava sendo paga, ainda que miseravelmente, ensinando português (tão em falta...) e aritmética, fazendo proselitismo, doutrinação política ou outro qualquer nome que se queira dar a um rosário de afirmações tendenciosas, subjetivas e até falsas, contra o Governo Bolsonaro.
Acresça-se à transgressão o abuso. A professora em causa ensina no primário e seus alunos são crianças entre sete e dez anos. São mentes no início do caminho em direção à sua formação cognitiva. Tudo o que nelas entra, entra sem reservas e sem filtros. É o período do desenvolvimento intelectual em que tudo se compra pelo valor face.
O problema é que isto não é novidade, e nem é único. Tem mais de cem anos. Antonio Gramsci, um italiano da Sardenha, captou a atenção de Stalin e do bolchevismo com sua teoria do historicismo absoluto e, espalhando sua premissa de que uma revolução era muito mais eficaz pela educação do que pelas armas, elaborou uma estrutura programática a ser aplicada desde os níveis mais elementares do ensino soviético até a universidade. De acordo com esse programa, revisões, releituras e mascaramentos de fatos eram permitidos, desde que úteis para suportar o objetivo final da doutrinação comunista.
Não me interpretem mal. A filosofia de Gramsci também foi utilizada pela direita radical de Goebbels, e por todos os ditadores de qualquer cor ao longo das últimas dez décadas. Se pensarmos bem, com outros nomes e outros adereços, esta prática tem a idade dos egípcios.
Mas, mesmo essa permanência histórica não lhe dá legitimidade. Escamotear a verdade, entupir ouvidos ingênuos e cérebros em formação com mentiras, aleivosias, tretas e inverdades é uma traição, um estelionato do futuro.
Há duas coisas que me causam arrepio. A primeira é que essa “aula” da professora mineira pode ser multiplicada por milhares de exemplos iguais, Brasil afora. Desde as acanhadas salas do primário às plataformas do ensino virtual universitário, a cantilena e o mantra são os mesmos. É o mesmo crime hediondo de se aproveitar da entrega inocente de mentes ávidas por conhecimento para instila-las de lixo ideológico.
A segunda ainda é mais grave. Recentes pesquisas mostram que, dado o sucateamento da profissão de professor, historicamente mal remunerada e, nos dias atuais, desrespeitada por uma sociedade de alunos mal-educados e violentos, acobertados por pais da mesma índole, tem sido relegada a uma das últimas opções na preferência dos jovens.
Isto significa que os quadros docentes das escolas brasileiras serão preenchidos, cada vez mais, por pessoas com formação incompleta, ou mesmo sem ela. Nem preciso elaborar muito sobre o que isto representa para o futuro do país...
Oswaldo Pereira
Fevereiro
2021
É bem entristecedor pensarmos q aquela escola onde íamos com um chapéuzinho azul com uma fita branca, aprender "coisas" acabou. A escola acabou embora ainda exista.
ResponderExcluirMe consola a afirmativa de Enrique Vila Matas. " Seriamos talvez bem mais felizes, se não fossemos à Escola. Ou ainda se nos coubesse um mestre tipo aquele q Guimarães Rosa menciona:
"mestre, não é aquele que sempre ensina, mas aquele q, de repente! aprende."
Exatamente. Gostaria de ter dito a mesma coisa...
ExcluirTerrível e desanimador. Lamentável a situação de alunos que caem nas mãos ( = garras) de um humanoide dessa estirpe. Como você diz, sem futuro ou com um futuro contaminado.
ResponderExcluirTempos sombrios...
ExcluirA educação no Brasil é renegada a segundo plano. Em alguns municípios vacinam os veterinários, nada contra, e detrimento dos professores. As escolas publicas deveria ser "centros de Luz" ou seja ter o melhor da infraestrutura da cidade, a melhor rede de internet, esgoto iluminação e etc...Descobri o erro de meus votos anteriores, procuro agora candidatos que o item educação é o primeira segunda e terceira prioridade, mas o mesmo não acontece com os demais votantes. Desculpe o textão, mas esta pauta me revolta muito, nossos filhos estão indo para fora do país, e em seguida vamos nós, e aqui ficaram os medíocres que adoram concursos públicos.
ResponderExcluirMuito bem posto. A Educação como prioridade fez países como a Coreia do Sul, Singapura, Japão e tantos outros saírem, no espaço de duas ou três gerações, de situações penosas para o topo das nações de maior IDH do planeta.
ExcluirDesculpe o erro de digitação "é a primeira.....
ResponderExcluirPara não generalizar, gostaria de assistir a uma aula dessas. Embora impróprio o tema na alfabetização, a falta de coerência criminosa deste governo cuja política de saude já matou mais do que meio milhão de brasileiros, que mais parece método de distribuição de renda, chama a atenção excepcionalmente deve ser retificado em aula. Mas daí para descambar para a propaganda ideológica pura e simples vai toda a diferença. Isso se torna educativo até para que as pequenas cabeças pensantes não comecem combatendo o que aprendem na escola, que a terra é redonda, que não existe a destruição dolosa do ambiente, que a vacina é um bem numa pandemia e não um método para mutação genética da espécie e tantas outras asneira a mais que esse governo que traiu seus eleitores está capaz capaz de produzir.
ResponderExcluirGraças ao STF (que devia tratar só daquilo para o que foi criado, i.é, legislar sobre a aplicação da Constituição), não existe uma "politica governamental" sobre a COVID. O comando das ações foi retirado do Governo central e fracionado pelos milhares de municípios brasileiros. Deu no que deu...
ExcluirPara não falar da corrupção endêmica (ou até pandêmica), hedionda, putrefata e obscena de governadores e prefeitos que surrupiaram a grana que lhes foi enviada pelo governo para combater o corona.
ExcluirFiz uma errata e não logrei enviar.
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