FELIZ NATAL PARA TODOS!
AOS MEUS ABNEGADOS LEITORES, DESEJO UM NATAL CHEIO DE PAZ & AMOR
E, PARA NÃO PERDER A TRADIÇÃO, AÍ VAI MAIS UM
CONTO DE NATAL
“24 de dezembro.
Oito da noite. Uma vila no norte da Estragônia Setentrional.
«Não acredito,
não acredito, NÃO ACREDITO!!»
O pai e a mãe entreolham-se. E depois,
olham para o filho, sete anos, na mais completa contestação. O pai tenta
argumentar.
«Mas, filho, é
claro que ele existe. Quem é que você acha que coloca os seus presentes ao pé
da árvore, na noite de Natal, enquanto você dorme? E quem...»
O filho não o deixa terminar.
«Ora, papai, não
me faça de bobo. Na escola, os meus colegas já me contaram tudo. Fizeram até
troça de mim. Quem coloca os presentes são os pais!»
A mãe ainda tenta.
«Mas...»
«Que mais que
nada. Vocês me enganaram!»
E vai correndo para o seu quarto,
batendo a porta atrás de si.
O silêncio da consternação abate-se
sobre a pequena sala. Até as luzes do pinheiro comprado há dias parecem
abrandar sua intensidade colorida. A mãe pergunta.
«E agora? Sem ele crer nesta nossa
encenação, a Noite perde o sentido...» Seus olhos estão úmidos. O pai procura
racionalizar.
«Bem... Mais cedo ou mais tarde, ele iria
mesmo descobrir que Papai Noel não existe. Acontece com todo o mundo, faz parte
das dores do crescimento.» A mulher
retruca.
«Pare já com este seu cinismo costumeiro!
Se ia acontecer mais cedo ou mais tarde, por que não mais tarde? Por que
perdermos mais esta magia? Nosso filho sonhando com o bom velhinho trazendo os
seus presentes, a inocência de seu olhar, a alegria em seu coração menino...»
«Ora, vamos mas é parar com este drama.
As coisas são assim mesmo. As pessoas crescem. Amadurecem. Perdem algumas
fantasias, perdem...» A mulher está
irada.
«Cale-se! Vá
já mas é resolver este problema. Sem aparecer um Papai Noel aqui em casa, não
vai haver ceia, ouviu bem?»
«Resolver?! Mas, como? São oito da noite.
Está tudo fechado nesta vila. Está escuro e frio lá fora...» A mulher
vira-lhe as costas.
«Não me interessa! Vire-se!»
Cinco minutos depois, ele já está do
lado de fora da porta, o pesado capote com a gola levantada, o vento gelado
quase arrancando seu gorro, as mãos enluvadas nos bolsos. Ninguém nas ruas.
Para complicar, há uma névoa espessa. Ele quase não enxerga um palmo à frente
do nariz. Mas, ele sabe que tem de tentar achar uma solução. Seu amor de pai
cutuca-lhe o coração. E ele começa a caminhar sobre a neve.
Passado um quarto de hora, ele se sente
perdido. O fog ficou mais grosso.
Sabe que andou em direção à praça principal da vila, mas agora não tem mais
certeza. Aos poucos, começa a enxergar um clarão alaranjado, muitos metros à
frente. Vai chegando. E, então, ele vê.
Segurando um candeeiro, um homem alto e
gordo está encostado num muro, como que à espera de alguma coisa. Com cautela,
ele saúda.
«Olá... Como vai?»
O homem solta uma larga risada.
Prestando mais atenção, ele nota que o desconhecido está vestido com calças
largas e bufantes, um casaco curto com golas de pele e um barrete na cabeça.
Vermelhos. As botas negras apoiam-se firmes na neve.
Ele arregala os olhos, enquanto o outro
lhe pergunta, entre mais risadas.
«Surpreso?»
Ele sente-se um pouco inseguro.
«É... Desculpe, mas quem é você? E o que
faz aqui?... Posso tentar chamar alguém e...»
O homem afasta-se do muro. Parece
amistoso.
«É claro que você sabe quem eu sou. E o
que estou fazendo aqui, agora.»
Ele procura resistir à sensação estranha
que o invade lentamente.
«Não... Não sei...»
«Ora, vamos. Com esta indumentária, esta
risada que mais parece um urso com soluços. E nesta noite? O que você acha?»
Ele se refaz um pouco.
«OK, qual é a pegadinha?»
O outro fita-o nos olhos.
«Pegadinha?! Não há nenhuma pegadinha, amigo. Sou eu mesmo. O
próprio. Papai Noel, em pessoa.»
Ele começa a rir.
«Ora, cara. Tá pensando que eu sou trouxa? Papai Noel não existe.»
Nova risada cavernosa.
«Não existo? Espere um momento...»
O homem endireita o torso e solta um
curto assobio. Da escuridão, saem três renas. Estão com os chifres enfeitados e
têm o olhar doce. Ele levanta o braço, num gesto de apresentação
«Prancer, Dancer e Vixen.»
«Bem... E daí? Às vezes, aparecem umas
renas lá nas montanhas... Estas podem ter vindo da...»
O outro torna a assobiar. Mais uma rena
aparece. Só que esta tem o nariz de um encarnado brilhante.
«E este é Rudolph... Venha»
Levantando
o candeeiro, o homem dirige-se para o final da pequena rua. Uma sombra larga
vai sendo clareada e revelando suas formas. É um imenso trenó, de desenho
elaborado e festivo, com um enorme compartimento na parte de trás. Está
atulhado de sacos vermelhos de vários tamanhos. Ao chegar perto, o homem aciona
um botão e o trenó ilumina-se. São milhares de luzinhas de todas as cores,
piscando incessantemente.
«E então?...»
Ele está
desnorteado. Embora parte de seu cérebro lute contra, a magia do momento quer
sucumbir seu ceticismo. Por que alguém
estaria aqui, nesta noite agreste, fingindo ser Papai Noel? Quais as chances de
isto acontecer numa vila perdida na Estragônia Setentrional?
O homem
fala com voz alegre.
«Você me
perguntou o que eu estava fazendo aqui. Pois estava esperando seu filho
adormecer para lhe levar os presentes. Está na hora. Vamos.»
Cinco
minutos depois, o trenó está parando na frente da porta. A vinda foi tranquila,
parecia que as renas sabiam de cor o caminho, mesmo através da neblina. Com
cuidado, eles entram na casa.
Os olhos da
mulher brilham, banhados em lágrimas de cristalina emoção. «Como você conseguiu?...» Ele leva
os dedos aos lábios. «Shhh... Depois eu explico.» Com a mão,
indica o quarto do menino. «Por aqui, Papai Noel...»
Os três
entram. Enquanto os embrulhos são colocados ao pé da cama, o menino acorda.
Olha com intensidade para a figura que despeja seu saco encarnado. Depois, com
um pouco de contrariedade, resmunga.
«Ora, papai,
não adianta tentar me enganar. É você vestido de novo de...»
O pai sai
da sombra.
«Eu estou
aqui, filho.»
O rosto do
menino transforma-se num súbito encantamento.
«Papai
Noel... Você existe...»
Enquanto o
menino fica no quarto desempenhando-se da alegre rotina de abrir os presentes,
os outros três dirigem-se para a porta de saída. O pai, ainda profundamente
emocionado, fala.
«Obrigado,
Papai Noel. Não sei como lhe agradecer.»
O outro
solta um sorriso curto.
«Agradecer?!» Leva a mão ao bolso superior do casaco e tira um cartão. Nele, está
escrito:
JOÃO DA
SILVA
Personal Papai
Noel
«São 250
dólares.»
O pai entra
em choque.
«Mas, como
assim?... Você então não é o...»
O outro
olha, intrigado.
«Espera
aí... Não acredito... Você pensou MESMO que eu era o Papai Noel de verdade?»
Oswaldo Pereira
Dezembro 2018