A Idade Média, no Japão, terminou em
meados do século XIX. Antes disso, o país vivera 200 anos sob o mando dos shoguns, fechado para o mundo, preservando
sua cultura e o código de honra dos samurais. Mais para trás, os primeiros
ocidentais a aparecer haviam sido os portugueses, à espera de incluir aquelas
ilhas de pescadores em sua rota de comércio. Ao tentarem implantar a cruz do
cristianismo num povo profundamente enraizado nos princípios de suas crenças ancestrais,
os portugueses cometeram um erro. Foram rechaçados. A experiência gerou o
isolacionismo. Só em 1866, quando o Imperador Meiji iniciou sua reforma,
abolindo o shogunato e o regime feudal, o Japão abriu-se para o mundo. E isto
explica muita coisa.
A primeira grande percepção de quem
chega é cultural. É um Oriente quase paradoxal, em que hábitos ocidentais estão
apenas na superfície, nos ternos escuros dos executivos, nos vestidos de grife das mulheres, na profusão
intoxicante de celulares e grande magazines
de eletrônica, nos imensos edifícios empresariais feericamente iluminados,
nos trens a 300 quilômetros por hora.
Debaixo desta pátina de modernidade está
um Japão austero, hierárquico, ritualístico e religioso. É o Japão de uma
paisagem repetida de casas cinzentas, de templos e santuários em permanentes
celebrações silenciosas, de relacionamentos secos e sem efusão, de uma dedicação
quase visceral à limpeza, à ordem e ao respeito. A família está na base de uma sociedade
altamente competitiva, onde a formação e a disponibilidade para trabalhar acima
e além do razoável são indispensáveis. O bushido,
o código de honra dos samurais, ainda está muito presente na alma japonesa.
A autodisciplina e a exigência pessoal de cumprir à risca os propósitos de
sucesso na escola, no trabalho e na vida familiar geram uma pressão às vezes
insuportável. São 30.000 suicídios por ano.
TÓQUIO (GINZA) À NOITE |
Para quem vem passear, entretanto, é uma
viagem, no sentido mais delicioso da
palavra. Uma experiência que toca com nitidez e força os sentidos. Os
intrigantes sabores dos sashimis, do sakê e dos doces de chá verde, o som
reverencial de um gongo num templo budista, a energia de uma manhã fria e sem nuvens no sopé do Monte Fuji, a
deslumbrante profusão outonal de incríveis matizes nas folhas dos plátanos nos
Alpes Japoneses, a poderosa mensagem de Paz nos jardins de Hiroshima, a majestade do grande Tori
vermelho flutuando na preamar da ilha de Myiagima, o Grande Buda de Nara, as geikos do bairro Gion em Quioto, o
formigueiro humano no cruzamento de Shibuyia e as luzes de Ginza em Tóquio
ficarão para sempre na minha memória.
ILHA DE MYIAGIMA |
MONTE FUJI, COMO EU O VI... |
Um enigma e um sonho. Assim é o Japão.
Oswaldo
Pereira
Novembro
2018
Muito BOM! APRECIEI E aprende -se muito com este escrito! Continuação de boas escritas e boa viagem!
ResponderExcluirObrigadíssimo, Isabelinha.
ExcluirFoi realmente uma viagem de descobertas sobre uma cultura diferente.
Imagino a surpresa, mesmo depois de ler sobre este país,para mim misterioso,o que ele nos revela.Nunca escolhi o Japão para visitar.Depois da descrição de sua viagem ainda sinto " um país misterioso'.
ResponderExcluirPenso que cometi erro ao clicar no responder e mão sei se seguirá.Desculpa.
ExcluirMisterioso e instigante, ao mesmo tempo. Sempre vale conhecer.
ExcluirPenso que Não fui muito clara,tentarei colocar melhor.Nao sei explicar bem,mas sempre tive "medo" do povo japonês.E, assim,mesmo lendo sobre o país e povo, Não consigo entender a cultura e o que o povo é.Voce diz: cultura diferente,sim, mas Não penetramos nesta cultura.Sinto misterio e sentimento de medo, nao saber o que eles são e como pensam.Sinto que lá nao teria liberdade para fazer o que quiser.Meu neto esteve lá com o avo e disse : é diferente, bonito, fantástico o trem... Continuo sentindo o mesmo.
ResponderExcluirAcho que o "medo" com relação ao povo japonês foi, em parte, incutido pela propaganda americana depois de Pearl Harbor. Mas, apesar de não ser um povo efusivo, ainda assim é delicado e atencioso com o visitante. E, para exemplificar a alma japonesa, ao visitar Hiroshima, verifiquei que os japoneses não culpam os americanos pela Bomba e sim a si próprios por terem atacado Pearl Harbor sem uma declaração formal de guerra...
ExcluirObrigada por estas observações.Sinto que minha impressão é relacionada também ser a familia chinesa e sofreu quando ainda jovem estudante .Disse que muitas vezes tinha que pular o muro da casa para ter acesso a outras ruas que não eram ocupadas por japoneses.Vieram para o Brasil e aqui ficaram.
ResponderExcluirRealmente, o que as tropas japonesas fizeram na China na década de 1930 foi uma atrocidade sem limites. Coisas de um tempo em que o Japão estava dominado por uma casta militar expansionista.
ExcluirOlá 2
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