Semana passada, morreu um dos mais
conhecidos diretores de cinema europeus, o italiano Bernardo Bertolucci. Da mesma
privilegiada safra que revolucionou a arte de fazer filmes, Bertolucci pode ser
equiparado sem reservas a Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Franco
Zefirelli e Sergio Leone. Entre as décadas de 1950 e 1980, só para ficar na
Itália, eles fizeram o diabo, reescrevendo o manual de como contar estórias através
da telona, mudando o ritmo, espantando conceitos, revirando de pernas para o ar
as regras da métrica adotada, desde os anos 30, por Hollywood.
Foram várias as homenagens, como não podia
deixar de ser, a um mago da sua estirpe. Cenas de suas premiações anteriores,
extratos de suas filmagens, mensagens de atores, críticos e colegas diretores inundaram
os noticiários, mundo afora.
Em todas as suas alusões biográficas a
Bertolucci, entretanto, a mídia internacional considerou como momento indispensável,
como instante fulcral de uma carreira que teve exemplos de extrema maestria em 1900, O Céu Que Nos Protege, Beleza Roubada,
La Luna e o premiadíssimo O Último
Imperador, a tristemente famosa “cena da manteiga” de O Último Tango em Paris, em que Marlon Brando e Maria Schneider
encenam um episódio de sexo anal. Presente em quase todas as citações à obra do
grande cineasta, deixa a sensação de que, às vezes, a imagem para a posteridade
de uma pessoa pública é construída a partir de um momento menor, um descuido inconsequente que se sobrepõe ao verdadeiro valor
de uma obra extensa e meritória.
Se assim podem ser as biografias, eternizando
talvez apenas dez por cento de uma vida de grandes conquistas, deixando para a
poeira do esquecimento os outros noventa, fico pensando nos cuidados que
alguém, colocado num pedestal que lhe assegura um lugar nos livros da História,
deve ter para que o futuro o registre favoravelmente. E, aí, pensei em Michel
Temer.
Como Presidente do Brasil, Temer
certamente será uma rubrica nos alfarrábios pátrios. Daqui a centenas de anos,
seu nome estará na lista de governantes brasileiros, como hoje encontramos os
nomes de Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Hermes da
Fonseca, homens que fincaram sua marca no solo político nacional. Todos têm
seus verbetes nos compêndios bibliográficos. Qual será o verbete de Michel
Temer? Será que ele se preocupa com isto?
Bem, pelos seus últimos atos, no ocaso
de um governo inodoro, insípido e inoperante, parece que não. Ao aprovar um
aumento inoportuno para os juízes do Supremo Tribunal Federal, cujo efeito em
cascata onerará o orçamento da União em R$6 bilhões nos próximos anos, ceifando
ainda mais o combalido estado de nossas infraestruturas na Saúde, na Educação e
na Segurança, ele põe um ponto final vergonhoso em sua medíocre crônica
pessoal.
E ao adicionar o post scriptum de um indulto de Natal que, praticamente, livra das
garras da justiça algumas levas de corruptos, ele demonstra seu desapego quanto
à imagem que deixará para o porvir. Em vez de rematar sua vida pública com
honra, ele prefere o toma lá dá cá que
o poderá proteger de ações penais que lhe deverão ser imputadas.
Um nojo.
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2018
Será? Que Temer estará na lista de governantes brasileiros ?????E, penso que ele não se preocupa com isso. É tão negativa sua biografia !Quem sabe ficará esquecido ...
ResponderExcluirRealmente, melhor seria se o futuro o apagasse...
ExcluirPenso que já acabou o futuro do Temer. E será melhor esquecê-lo, mas não conseguimos esquecer o movimentos de suas mãos. Parece que ele é o FÃ número um de suas mãos.....
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