quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

BIOGRAFIAS





Semana passada, morreu um dos mais conhecidos diretores de cinema europeus, o italiano Bernardo Bertolucci. Da mesma privilegiada safra que revolucionou a arte de fazer filmes, Bertolucci pode ser equiparado sem reservas a Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Franco Zefirelli e Sergio Leone. Entre as décadas de 1950 e 1980, só para ficar na Itália, eles fizeram o diabo, reescrevendo o manual de como contar estórias através da telona, mudando o ritmo, espantando conceitos, revirando de pernas para o ar as regras da métrica adotada, desde os anos 30, por Hollywood.

Foram várias as homenagens, como não podia deixar de ser, a um mago da sua estirpe. Cenas de suas premiações anteriores, extratos de suas filmagens, mensagens de atores, críticos e colegas diretores inundaram os noticiários, mundo afora.

Em todas as suas alusões biográficas a Bertolucci, entretanto, a mídia internacional considerou como momento indispensável, como instante fulcral de uma carreira que teve exemplos de extrema maestria em 1900, O Céu Que Nos Protege, Beleza Roubada, La Luna e o premiadíssimo O Último Imperador, a tristemente famosa “cena da manteiga” de O Último Tango em Paris, em que Marlon Brando e Maria Schneider encenam um episódio de sexo anal. Presente em quase todas as citações à obra do grande cineasta, deixa a sensação de que, às vezes, a imagem para a posteridade de uma pessoa pública é construída a partir de um momento menor, um descuido inconsequente que se sobrepõe ao verdadeiro valor de uma obra extensa e meritória.

Se assim podem ser as biografias, eternizando talvez apenas dez por cento de uma vida de grandes conquistas, deixando para a poeira do esquecimento os outros noventa, fico pensando nos cuidados que alguém, colocado num pedestal que lhe assegura um lugar nos livros da História, deve ter para que o futuro o registre favoravelmente. E, aí, pensei em Michel Temer.

Como Presidente do Brasil, Temer certamente será uma rubrica nos alfarrábios pátrios. Daqui a centenas de anos, seu nome estará na lista de governantes brasileiros, como hoje encontramos os nomes de Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Hermes da Fonseca, homens que fincaram sua marca no solo político nacional. Todos têm seus verbetes nos compêndios bibliográficos. Qual será o verbete de Michel Temer? Será que ele se preocupa com isto?

Bem, pelos seus últimos atos, no ocaso de um governo inodoro, insípido e inoperante, parece que não. Ao aprovar um aumento inoportuno para os juízes do Supremo Tribunal Federal, cujo efeito em cascata onerará o orçamento da União em R$6 bilhões nos próximos anos, ceifando ainda mais o combalido estado de nossas infraestruturas na Saúde, na Educação e na Segurança, ele põe um ponto final vergonhoso em sua medíocre crônica pessoal.

E ao adicionar o post scriptum de um indulto de Natal que, praticamente, livra das garras da justiça algumas levas de corruptos, ele demonstra seu desapego quanto à imagem que deixará para o porvir. Em vez de rematar sua vida pública com honra, ele prefere o toma lá dá cá que o poderá proteger de ações penais que lhe deverão ser imputadas.

Um nojo.

Oswaldo Pereira
Dezembro 2018

3 comentários:

  1. Será? Que Temer estará na lista de governantes brasileiros ?????E, penso que ele não se preocupa com isso. É tão negativa sua biografia !Quem sabe ficará esquecido ...

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  2. Penso que já acabou o futuro do Temer. E será melhor esquecê-lo, mas não conseguimos esquecer o movimentos de suas mãos. Parece que ele é o FÃ número um de suas mãos.....

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