Memorial
do Convento estava
na minha lista de resoluções há muito. Um livro indispensável no currículo de
leituras, quase uma obrigação para quem quer intitular-se uma pessoa lida. Resolvi, então, preencher essa
imperdoável lacuna.
Mas, para ler Saramago é preciso uma
preparação séria, um tomar de fôlego antes de mergulhar nas suas páginas e
nadar debaixo da superfície de seus intermináveis parágrafos, de seus diálogos
emendados, banhar-se na cachoeira de palavras buscadas nos confins de um complicado dicionário. É preciso fé e vontade. E é preciso, sobretudo, perseverança.
Como já lera O Evangelho Segundo Jesus Cristo e A Jangada de Pedra, julgava-me apto a enfrentar o desafio, até
porque ambos me haviam revelado o intrigante estilo do velho mestre, o inesperado
intercalar de páginas áridas com oásis literários de extrema beleza, a
deliciosa surpresa de encontrar de repente, no virar de uma folha, aninhada no seio
de longas frases descoloridas, uma cintilante imagem, burilada com o toque
inconfundível do gênio.
Além disso, estivera dias antes no
Palácio de Mafra, a icônica obra setecentista de D. João V, cuja construção,
que levou vinte anos, é o tema central do Memorial.
Estava, assim, motivado para embarcar em mais um Saramago. Um livro de 400
páginas sobre a construção de um convento no início do século XVIII? Bem, seria
o que Deus quisesse...
É um acostumar que leva umas vinte
páginas. Como um afinar de instrumentos antes de uma grande sinfonia. As
primeiras trocas de tintas numa paleta de Van Gogh. As marteladas iniciais de
Michelangelo no mármore frio. E, não mais que de repente, a magia começa a
trabalhar. Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas deixam de ser argila e
ganham a vida que nos fará enveredar pelas montanhas do oeste português,
palmilhar as ruas de uma Lisboa cortesã e miserável, subir aos céus na Passarola do padre Bartolomeu de Gusmão
(sim, aquele nosso padre voador) e
sentir a monumental obra arquitetônica crescendo mercê do trabalho e do
sacrifício de um caudal de gente arrebanhada aos milhares pela necessidade ou
pelo sonho. Todo o seu drama está lá, cru e poético, lírico e brutal.
É Saramago em todo o seu esplendor de
ser Saramago. Sua cadência, sua linguagem, seu gênio. Para descrevê-lo só me
ocorre um adjetivo. Incomparável.
Oswaldo
Pereira
Novembro
2018
que prazer em poder ler suas cronicas longe de casa estou em houston etsa muitofrioecom saudades de casa abraco itibere
ResponderExcluirValeu, Itiberê. Amanhã haverá o almoço comemorativo de 60 de formatura do Santo Inácio. Vai ser no Piraquê. Pena você não estar...
ExcluirSempre um texto que nos leva a um outro mundo... novas realidades... deliciosa leitura. Beijos primo
ResponderExcluirBrigadão, prima. Semana que vem em São Pedro!!
ExcluirClara ideia do que é ler Saramago.Precisa estar preparado.Imagino a satisfação na determinacao para ler .Seria bom comentar em partes sua leitura.Entrariamos no livro, sem ler.Parabens.
ResponderExcluirQuem sou eu para fazer comentários mais profundos...
ExcluirAcredito que poderá fazer comentários e n'os poderemos sentir ,em partes, Saramago.
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