quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

UM PORTUGUÊS NO TOPO DO MUNDO



Eleito pela Assembleia Geral, por recomendação do Conselho de Segurança, o português de 67 anos António Manuel de Oliveira Guterres acaba de tomar posse como Secretário Geral da Organização das Nações Unidas.

Seus compatriotas o conhecem bem.

Político atuante desde 1974, Guterres é um dos maiores nomes do Socialismo luso. Eleito para a Assembleia da República em 1976, logo destacou-se nas fileiras de seu Partido, presidindo uma série de comissões e secretarias. Por cinco mandatos, foi presidente da Assembleia Municipal, o equivalente ao nosso Prefeito, da cidade de Fundão, na região Centro de Portugal. Em 1992, chegou ao cargo de Secretário-Geral do Partido Socialista e, em 1995, foi eleito Primeiro Ministro. Reeleito em 1999, acabou por demitir-se em 2002, ao verificar que disputas políticas internas do PS ameaçavam jogar o país num “pântano político”, segundo suas próprias palavras. A partir daí, retirou-se da cena pública, assumindo um cargo de consultoria na Caixa Geral de Depósitos.

Em 2005, entretanto, efetivou uma aproximação que já se desenrolava há algum tempo com a ONU, sendo nomeado Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Quem acompanha com interesse a História moderna não terá dificuldade em compreender a importância que o momento reservava para esse cargo. A data coincidiu com o enfraquecimento das ditaduras norte-africanas e do Oriente Próximo, em seguida à invasão do Iraque pela coalizão liderada pelos Estados Unidos. Esta situação iria desaguar na Primavera Árabe e, posteriormente, na desestabilização política de toda a zona e no advento do radicalismo islâmico.

Tudo isto acabou por acender o estopim de inúmeros conflitos internos nos países da região e, eventualmente, no surgimento de uma imensa onda de refugiados, nunca vista desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. Guterres previu este tsunami. Já em 2012, intuiu que grandes massas de fugitivos iriam vir. Restava só saber “como iremos administrar sua vinda e quão humanamente o faremos”, conforme ele próprio declarou à época.

Ainda bem que, segundo as pessoas que o conhecem desde os bancos escolares, onde sempre se destacou como o melhor de sua turma, Guterres não tem medo de problemas. O que o espera a partir de agora, como Secretário-Geral da maior organização internacional do planeta, é um receituário de problemas para ninguém botar defeito.

O fluxo permanente de refugiados, a ameaça sinistra das falanges do ISIS, do Boko Haram, do Al-Shabab, a queda de braço assassina na Síria, o Brexit e seus possíveis efeitos negativos na união do Euro, o crescimento da Direita em países de topo na Europa, o infindável empurra-empurra entre judeus e palestinos, uma pedra no sapato do Extremo-Oriente chamada Coreia do Norte, os piratas somalis, as discussões internas sobre ampliação do Conselho de Segurança... Que tal?

E, como se fosse pouco, here comes Trump e suas ameaças de retaliações à decisão do Conselho de Segurança de condenar os assentamentos judaicos na Cisjordânia.

Sensato e inteligente, António Guterres tem agora a oportunidade histórica de se tornar um respeitado líder mundial. Que os heróis da epopeia lusa dos Descobrimentos o inspirem e protejam.

Oswaldo Pereira
Janeiro 2017










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