Uma semana após António Guterres ter
assumido a Secretaria-geral da ONU, outro português vem ocupar as manchetes da
imprensa internacional. Desta vez, uma
despedida.
Mário Soares, morto no passado dia 7 aos
92 anos, dominou o cenário político de seu país durante mais de vinte anos,
desde que regressou do exílio dois dias depois da Revolução dos Cravos, na
mesma revoada de outros expatriados pelo Estado Novo, romanticamente apelidada de
“Comboio da Liberdade”, até o término de seu segundo mandato como Presidente da
República, em 1996.
E mesmo depois disto, apesar de ter sua
importância atenuada por alguns revezes eleitorais e se declarar afastado da
política ativa em 2006. Seu nome era grande demais para ser descartado. Assim,
sua presença continuou a ser sentida ainda no avançar de sua idade e na
corrosão natural que os mitos sofrem com o passar dos anos.
E, ironicamente, é a morte que salva a
memória dos homens históricos. À medida que suas ações, suas escolhas e seu
legado vão resvalando do noticiário cotidiano para os arquivos do passado, sua
imagem tende a crescer, a evocar uma reverência silenciosa, que talvez em vida
não lhe tenha sido oferecida.
É como se ascendessem a outro patamar, o
pedestal da posteridade perdoando seus pecados.
Mário Soares não é, e nem nunca foi, uma
unanimidade. Mas, é um pedaço da História de Portugal, um importante pedaço de
transição dos anos Salazar para uma democracia plena. Soares foi um dos
artífices dessa transição. Por isto, não pode nem deve ser esquecido.
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2017
Mário Soares não vai ser esquecido! foi ele que nos restituiu a Liberdade!
ResponderExcluirE será sempre lembrado por isto...
ExcluirCaro Oswaldo:
ResponderExcluirConheci o Homem de perto e durante quase seis décadas. De tudo o que li e ouvi nos últimos dias sobre Mário Soares nada chega perto da nota biográfica escrita por Miguel Esteves Cardoso, que nunca vi rotulado como "de esquerda" ou "socialista". Ainda que sucinta, é tão precisa e completa sobre o Homem que, se isso não violasse os limites de um comentário, pediria licença para a transcrever.
"Mário Soares deixou-nos e deixou-nos tudo
Era um revolucionário burguês. Os burgueses criticaram-no por ser revolucionário e os revolucionários criticaram-no por ser burguês. Era por isso que ele é tão refrescantemente moderno: ainda não nos aproximámos do que ele queria para nós.
Mário Soares não levou nada com ele. Deixou tudo connosco. É essa a maior generosidade que uma pessoa pode ter: querer tudo para os outros e dedicar a vida a lutar por isso — e por nós."
O texto completo foi publicado no Jornal PÚBLICO, onde pode e - me parece - deve ser lido.
"Nunca mais haverá um Mário Soares. Mas nunca ninguém nos deixou uma grandeza maior."
Obrigado
Jaime
Obrigado, Jaime. Foi procurar o artigo do Miguel Cardoso. É um prazer receber os seus comentários neste modesto blog.
ExcluirMario Soares esteve refugiado em Minas-B.Hte .Para sair de lá os amigos o vestiram de padre e assim não houve problema. Muito interessante o que aconteceu . Tinha bons amigos e era admirado e respeitado em Belo Horizonte.
ResponderExcluirUm agnóstico confesso vestido de padre... Ao que a vida nos obriga...
ExcluirNaquele famoso "VERÃO QUENTE", quando a vaca parecia querer ir para o brejo, esse agnóstico ( laico, como ele se dizia ) foi um dos grandes combatentes em defesa da Rádio Renascença ( emissora católica antes de tudo ) acuada pelos segmentos mais extremados. Ele não defendia ali o catolicismo ( como não defenderia qualquer outra religião ): defendia a LIBERDADE de pensar e de expressar o pensamento. Esteve sempre desse lado da barreira. Essa a sua luta permanente.
ExcluirMuito interessante, caro Jaime. Estive em Portugal rapidamente por essa época e o pêndulo da política tinha ido vertiginosamente para a esquerda. Lembro-me também que Mario Soares procurava segurá-lo próximo do Centro, o que, com sua excepcional habilidade, iria conseguir. Época turbulenta, aquela...
Excluir