Alguns anos parecem perfeitos, quando os
olhamos de longe. Especialmente aqueles que nos trouxeram algo de bom, de
repente todos os da juventude, quando o presente só tinha canções e o futuro só
sonhos. Esses anos, distantes e amortecidos num passado encantado, ainda nos
soam como cascatas cristalinas de água pura e perfumada, correndo para um vale
florido, onde nada de mal podia acontecer e, como na música do Chico, “a gente
era obrigado a ser feliz...”
Mas, os anos não podem ser julgados
assim, pela medida pessoal. Cada um vive seus enredos próprios durante os
trezentos e sessenta e cinco (no caso de 2016, trezentos e sessenta e seis...)
dias que os calendários nos atribuem. Somos bilhões de seres humanos nesta
esfera azul e são outros tantos dramas, destinos, sagas e esperanças. O
veredito final tem de ser objetivo, deve basear-se numa análise compreensiva,
tem de responder à pergunta: o mundo melhorou neste ano?
Julguem.
ATENTADO EM NICE |
Bruxelas, Lahore, Istambul, Nice,
Berlim. Em 2016, estas cidades passaram a ter a tragédia como laço comum. E a
mensagem de terror em estado puro que fica é a de que o inimigo agora é
invisível, imprevisível, inindentificável,
uma palavra que ainda não está no dicionário, mas que já existe no
consciente das gentes. O ataque agora não virá de onde se espera. Poderá ser
feito sem armas, sem bandeiras, sem uniformes, sem declarações de guerra. Basta
um caminhão. E uma mente embriagada por um ideário de violência e horror.
GUERRA CIVIL SÍRIA |
Trezentas mil pessoas é a população de
uma cidade de porte médio. E é também o número de pessoas mortas no conflito
sírio. Seu recrudescimento este ano carrega um viés de total desprezo dos donos
do xadrez político mundial pela vida de um simples ser humano, de crianças,
mulheres e velhos desfeitos pelas bombas, eviscerados pela fome, esmagados pelo
medo. Nada mais parece comover os senhores da guerra. Nem lagrimas, nem sangue,
caindo na poeira de um futuro cruel que não tem data para terminar.
O tapete foi preparado para a troca da
guarda. Sai Obama, que reverteu o caos econômico, embalou programas sociais,
preferiu usar a palavra em vez da força, escutou as vozes que rezam pela saúde
do planeta, quis controlar o big business
e a venda das armas. Entra Trump. E os Estados Unidos vão fazer meia-volta
volver. God help us.
Houve o Brexit. Os britânicos simplesmente confirmaram o que sempre
vigorou. O canal que os defendeu desde o tempo dos normandos continua
intransponível, nas duas mãos. Saíram do Euro sem nunca ter efetivamente
entrado.
E, no Brasil, houve o impeachment. E, mais do que isso, a abertura das
entranhas deste monstro pegajoso que se instalou no organismo do poder público
brasileiro. Um polvo gigantesco, cujos tentáculos envolveram Governo Central,
Estados e Municípios num imenso pantanal tenebroso. Denúncias, delações
premiadas e acordos de leniência expuseram a correnteza lamacenta que corre
debaixo das nossas instituições, levando em seu aluvião a poupança e os sonhos
de um povo enganado, espoliado, surrupiado e a estarrecedora constatação de que
a maior empreiteira do país tinha em seu organograma um Departamento da Propina... E o ano se despede sem que se possa
vislumbrar o fim desta tragédia.
As Olimpíadas do Rio foram um oásis de
beleza e competência. Mais que tudo, foi uma maravilhosa performance do povo
carioca. Sediamos os Jogos com alegria, orgulho e paixão, do nosso jeito, com a
nossa cara. Um sucesso inquestionável e a pergunta que ficou. Se podemos isso,
por que não podemos o resto?
Portugal ganhou a Eurocopa, Bob Dylan o
Nobel. Houve, então, justiça no mundo.
Mas, no geral, a contabilidade de 2016
não ajudou, aqui e lá fora. Houve a queda da ciclovia, o voo final da Chapecoense,
a zika e a chicungunha. Muita gente foi embora. Fidel, Ali. As Artes ficaram
menores com a ida de David Bowie, Prince, Leonard Cohen, Umberto Eco, George
Michael, Carrie Fisher, Hector Babenco, Gene Wilder, Billy Paul.
É hora, pois, de suspirar. E, pelo
menos, tentar aprender com o que passou. Está na hora de descer para a arena de
um novo ano. Vamos nessa, moçada. Não se esqueçam de que muito do que 2017 vai ser, depende só de nós...
UM FELIZ
ANO NOVO!
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2016
Desejo-lhe também um Feliz 2017, pleno de saúde, de felicidade e de saborosa palavra escrita.
ResponderExcluirAbraço do vizinho da frente - Alcochete.
Um grande abraço para você também, querido amigo.
ExcluirBelo texto que relevou a fotografia de um ano cuja travessia enfrentou um mar de sofrimentos, onde muitos desapareceram tragicamente. Esperemos um 2017 mais ameno. Desejo a vocês um ano próximo de paz, serenidade e muita saúde.
ResponderExcluirAbraços do Zeca
Da mesma forma para você,caro amigo, e família. Um 2017 mais ameno é tudo o que queremos...
ExcluirVocê retratou o mundo com todos os problemas e também alegrias que ficaram sufocadas. Vamos ter confiança que Deus nos ajudará e tomará conta de nossos passos
ResponderExcluire corações. Vamos esperar que o 2017 nos traga surpresas para que possamos esquecer um pouco da realidade triste que foi 2016.
Felicidades para toda a família e um abraço carinhoso.
Obrigadíssimo querida amiga. Que o Ano Novo inspire textos mais alegres...
ExcluirO poder sempre instala como parceiro, a ganância, e deles nascem filhotes tipo fascismo. Já conhecemos isso. A consciência dos indivíduos um por um ampliada pela comunicação e pela seriedade de muuuuuitos, ainda pode, se não extinguir de vez, a voragem dos despotas minimizar a incoerência das ações políticas destrutivas. Convencer-nos de evidência dá escalada fã desgraça já não é tão fácil qdo se sabe é se divulga mundialmente coisas tais como o noticiário falso implantado pela Rússia sobre as eleições na América. Agora,a Avaaz está afirmando que o Mundo melhorou ! Eu no momento estou acreditando na mensagem deles. É a ganância gerada pelos sistemas despoticos que devora seus próprios autores.
ResponderExcluirTrump, ISIS, Síria, a classe política brasileira, são pílulas difíceis de engolir que 2016 nos serviu goela abaixo. Espero que 2017 tenha à mão vários pacotinhos de Engov e Alka Seltzer...
Excluir*convencer-nos da evidência da escalada da desgraça como "arma de guerra"
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