quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

2016



Alguns anos parecem perfeitos, quando os olhamos de longe. Especialmente aqueles que nos trouxeram algo de bom, de repente todos os da juventude, quando o presente só tinha canções e o futuro só sonhos. Esses anos, distantes e amortecidos num passado encantado, ainda nos soam como cascatas cristalinas de água pura e perfumada, correndo para um vale florido, onde nada de mal podia acontecer e, como na música do Chico, “a gente era obrigado a ser feliz...”

Mas, os anos não podem ser julgados assim, pela medida pessoal. Cada um vive seus enredos próprios durante os trezentos e sessenta e cinco (no caso de 2016, trezentos e sessenta e seis...) dias que os calendários nos atribuem. Somos bilhões de seres humanos nesta esfera azul e são outros tantos dramas, destinos, sagas e esperanças. O veredito final tem de ser objetivo, deve basear-se numa análise compreensiva, tem de responder à pergunta: o mundo melhorou neste ano?

Julguem.

ATENTADO EM NICE
Bruxelas, Lahore, Istambul, Nice, Berlim. Em 2016, estas cidades passaram a ter a tragédia como laço comum. E a mensagem de terror em estado puro que fica é a de que o inimigo agora é invisível, imprevisível, inindentificável, uma palavra que ainda não está no dicionário, mas que já existe no consciente das gentes. O ataque agora não virá de onde se espera. Poderá ser feito sem armas, sem bandeiras, sem uniformes, sem declarações de guerra. Basta um caminhão. E uma mente embriagada por um ideário de violência e horror.

GUERRA CIVIL SÍRIA
Trezentas mil pessoas é a população de uma cidade de porte médio. E é também o número de pessoas mortas no conflito sírio. Seu recrudescimento este ano carrega um viés de total desprezo dos donos do xadrez político mundial pela vida de um simples ser humano, de crianças, mulheres e velhos desfeitos pelas bombas, eviscerados pela fome, esmagados pelo medo. Nada mais parece comover os senhores da guerra. Nem lagrimas, nem sangue, caindo na poeira de um futuro cruel que não tem data para terminar.


O tapete foi preparado para a troca da guarda. Sai Obama, que reverteu o caos econômico, embalou programas sociais, preferiu usar a palavra em vez da força, escutou as vozes que rezam pela saúde do planeta, quis controlar o big business e a venda das armas. Entra Trump. E os Estados Unidos vão fazer meia-volta volver. God help us.


Houve o Brexit. Os britânicos simplesmente confirmaram o que sempre vigorou. O canal que os defendeu desde o tempo dos normandos continua intransponível, nas duas mãos. Saíram do Euro sem nunca ter efetivamente entrado. 


E, no Brasil, houve o impeachment.  E, mais do que isso, a abertura das entranhas deste monstro pegajoso que se instalou no organismo do poder público brasileiro. Um polvo gigantesco, cujos tentáculos envolveram Governo Central, Estados e Municípios num imenso pantanal tenebroso. Denúncias, delações premiadas e acordos de leniência expuseram a correnteza lamacenta que corre debaixo das nossas instituições, levando em seu aluvião a poupança e os sonhos de um povo enganado, espoliado, surrupiado e a estarrecedora constatação de que a maior empreiteira do país tinha em seu organograma um Departamento da Propina... E o ano se despede sem que se possa vislumbrar o fim desta tragédia.


As Olimpíadas do Rio foram um oásis de beleza e competência. Mais que tudo, foi uma maravilhosa performance do povo carioca. Sediamos os Jogos com alegria, orgulho e paixão, do nosso jeito, com a nossa cara. Um sucesso inquestionável e a pergunta que ficou. Se podemos isso, por que não podemos o resto?

Portugal ganhou a Eurocopa, Bob Dylan o Nobel. Houve, então, justiça no mundo.

Mas, no geral, a contabilidade de 2016 não ajudou, aqui e lá fora. Houve a queda da ciclovia, o voo final da Chapecoense, a zika e a chicungunha. Muita gente foi embora. Fidel, Ali. As Artes ficaram menores com a ida de David Bowie, Prince, Leonard Cohen, Umberto Eco, George Michael, Carrie Fisher, Hector Babenco, Gene Wilder, Billy Paul.

É hora, pois, de suspirar. E, pelo menos, tentar aprender com o que passou. Está na hora de descer para a arena de um novo ano. Vamos nessa, moçada. Não se esqueçam de que muito do que 2017 vai ser, depende só de nós...


UM FELIZ ANO NOVO!

Oswaldo Pereira
Dezembro 2016
 








9 comentários:

  1. Desejo-lhe também um Feliz 2017, pleno de saúde, de felicidade e de saborosa palavra escrita.
    Abraço do vizinho da frente - Alcochete.

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  2. Jose Antonio S. Bordeira29 de dezembro de 2016 às 17:18

    Belo texto que relevou a fotografia de um ano cuja travessia enfrentou um mar de sofrimentos, onde muitos desapareceram tragicamente. Esperemos um 2017 mais ameno. Desejo a vocês um ano próximo de paz, serenidade e muita saúde.
    Abraços do Zeca

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    1. Da mesma forma para você,caro amigo, e família. Um 2017 mais ameno é tudo o que queremos...

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  3. Você retratou o mundo com todos os problemas e também alegrias que ficaram sufocadas. Vamos ter confiança que Deus nos ajudará e tomará conta de nossos passos
    e corações. Vamos esperar que o 2017 nos traga surpresas para que possamos esquecer um pouco da realidade triste que foi 2016.
    Felicidades para toda a família e um abraço carinhoso.

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    1. Obrigadíssimo querida amiga. Que o Ano Novo inspire textos mais alegres...

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  4. O poder sempre instala como parceiro, a ganância, e deles nascem filhotes tipo fascismo. Já conhecemos isso. A consciência dos indivíduos um por um ampliada pela comunicação e pela seriedade de muuuuuitos, ainda pode, se não extinguir de vez, a voragem dos despotas minimizar a incoerência das ações políticas destrutivas. Convencer-nos de evidência dá escalada fã desgraça já não é tão fácil qdo se sabe é se divulga mundialmente coisas tais como o noticiário falso implantado pela Rússia sobre as eleições na América. Agora,a Avaaz está afirmando que o Mundo melhorou ! Eu no momento estou acreditando na mensagem deles. É a ganância gerada pelos sistemas despoticos que devora seus próprios autores.

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    1. Trump, ISIS, Síria, a classe política brasileira, são pílulas difíceis de engolir que 2016 nos serviu goela abaixo. Espero que 2017 tenha à mão vários pacotinhos de Engov e Alka Seltzer...

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  5. *convencer-nos da evidência da escalada da desgraça como "arma de guerra"

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