domingo, 15 de janeiro de 2017

OPOSTOS



Água e vinho. Não. A diferença não é só essa. Fogo e água. Mais perto.

Vamos pelos signos. Um é Leão, com ascendente em Aquário. O outro é Gêmeos, ascendente em Leão.

Não entendo de Astrologia, mas se alguém me disser que estas cartas zodiacais não implicam uma total incompatibilidade, eu deixarei imediatamente de acreditar nos astros.

Estou falando de Barak Hussein Obama e de Donald John Trump. Desde que Thomas Jefferson sucedeu a John Adams, em 1801, que tamanha dissociação de personalidades não ocorre na crônica política da grande nação norte-americana.

E, desta vez, outros ingredientes vêm jogar mais lenha na fogueira. Um é negro. O outro é esfuziantemente louro. Um tem um nome que revela suas origens multiétnicas e transnacionais. O outro crava as origens de seu sobrenome nas linhas mestras da imigração branca do século passado que iria abocanhar o sonho americano. Obama vem da academia, do campus, onde as ideias circulam livremente entre pontos e contrapontos instigantes. Trump vêm da selva do empreendedorismo, do mata-mata instigado pela disputa de mercados e de fortunas.

Basta olhar para os dois. Basta ouvi-los. Não é só uma dicotomia partidária, uma questão de postura inspirada pelas cores opostas de democratas ou republicanos. Obama e Trump são visceralmente diferentes, opostos, antagônicos.

Se alguma dúvida incomoda seu espírito, caro leitor, esta já deveria ter sido dissipada pelos acontecimentos da semana passada. Demore-se sobre o discurso de despedida de um, em Chicago, e compare com a entrevista coletiva do outro, em Nova Iorque.  

Em quase duas horas, Obama desfiou os feitos de sua administração, o que fez e o que não conseguiu fazer, no mesmo tom calmo que permeou sua passagem histórica pela Casa Branca. Sabia que falava para os arquivos do porvir. Mesmo assim, ainda achou tempo para, numa lindíssima homenagem, declarar seu amor por Michelle.  

Trump, como se esperava, partiu para a briga com a CNN, reafirmou todos as suas polêmicas promessas de campanha, auto elogiou-se como um emissário dos deuses e jurou desfazer as iniciativas de seu antecessor.

Fogo e água.

Daqui a algum tempo, olharemos para hoje do futuro. Os anos terão passado e os amanhãs de agora serão um grande estoque de ontens. Aí, saberemos. Quem estava certo, quem melhorou o mundo, a nossa vida, os nossos sonhos. Quem os prejudicou ou os destruiu. A História sempre sabe. Mas, ela só olha para trás...

Oswaldo Pereira
Janeiro 2017



3 comentários:

  1. Meu caro Oswaldo. Aí uma análise de rara percuciência. Estou fora do país e não consigo verbalizar isso o que vc fez. Acho que entramos numa dimensão quântica. Até agora com um Shakespeare chinês de que estou tomando conhecimento no Manhattan Connection. Muito bem elaborada a tua análise. Só um reparo: implicam isso não nisso. O único reparo na sua inteligente crônica. Grande abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Lustosa,
      Obrigadíssimo pelos elogios. E pelo reparo. Às vezes, as lições duramente aprendidas do Professor Vianna, no lendário Santo Inácio do nosso tempo, me escapam... Vou já corrigir. Abração.

      Excluir
  2. É esta análise que nos aumenta a preocupação com o governo Trump. Ele é o oposto de todos os governantes que os EEUU tiveram. Até nossa vontade de ir para N.York passar uns dias, como sempre foi hábito, está esmaecida e prefere esperar um pouco.
    Vaço votos para que tenhamos boas surpresas !!!!!!Abraço.

    ResponderExcluir