Assim que comecei a me entender como
gente o suficiente para ir ao cinema, o mundo encantado de Hollywood era
dominado pelos musicais. O Technicolor
havia sido inventado há pouco e suas cores hiper-reais aumentavam a fantasia
alegre das fantásticas coreografias, dos cenários pintados ao infinito, os céus
muito azuis, as matas muito verdes, do guarda roupa exuberante. Nos filmes, a leveza do ser era, sim,
sustentável, Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers e Ann Miller provavam isto
com seus passos de dança flutuantes zombando da lei da gravidade, seus gestos
naturalmente graciosos, feitos aparentemente sem um mínimo sequer de esforço.
KELLY & ASTAIRE |
Junto a esta magia, vinha a Música. Ah!
a Música, brotando no ar de repente, na brisa de uma manhã de Primavera, na
hora em que um sorriso antecipava uma declaração de amor, ou a seguir à queda
de uma estrela numa noite suave, em que pirilampos competiam com as
constelações. Todo mundo cantava. Alguns, maravilhosamente, como Doris Day,
Howard Keel, Jane Powell. Outros, com charme e bossa, como Danny Kaye, Marlon Brando (sim, em Guys and Dolls), James Steward.
BRANDO EM GUYS & DOLLS |
O artista
de cinema, nessa época, tinha de fazer de tudo. Cantar, dançar, sapatear.
Até representar... E seduzir as audiências, convencê-las a pagar o ingresso e ir
às salas escuras viver quase 120 minutos em completo enlevo, para depois saírem
ainda envoltas na magia de um resto de melodia, um pas-de-deux apaixonado à luz
do poente, um conto de fadas em Cinemascope.
Depois, o gênero mudou. Agentes
secretos, caubóis italianos, catástrofes planetárias, naves espaciais e o
cinema novo vieram ocupar os telões.
E os musicais ficaram mais densos, mais comprometidos com mensagens sociais, ou
da contracultura, símbolos de protesto e de rebeldia. Alguns foram magníficos,
como West Side Story, Hair, Jesus Christ
Superstar, Cabaret. Mas, a antiga leveza,
os cenários ingênuos e multicoloridos deram lugar a bailados vigorosos,
filmados em backgrounds de periferia,
cotidianos, às vezes cruéis.
WEST SIDE STORY |
Há sete anos, a antiga magia teve um
auspicioso renascimento, com Mamma Mia. Atores
sérios, como Meryl Streep, Pierce
Brosnan, Stellan Skarsgård e Colin
Firth calçaram as sapatilhas e amaciaram a garganta, e nos brindaram com
inesquecíveis sequências de música e dança, daquelas de nos dar vontade de
despregar da cadeira e seguir a melodia.
MAMMA MIA |
Agora, veio LA LA LAND.
Logo nos primeiros cinco minutos, a cena
do engarrafamento ao som de “Another Day of Sun” dá a dica. Estamos de volta
aos velhos tempos. Daí para a frente, é um encantamento, um revival inédito, uns toques de American In Paris pintados em Los
Angeles do século XXI, um pouco de Brigadoon
salpicando uma linguagem jazzística de terceiro milênio, Singing In The Rain sem precisar da
chuva. Há até uma citação real ao clássico Rebel
Without a Cause (Juventude Transviada), o icônico “clássico” de James Dean
de 1956.
Novamente, atores insuspeitadamente
musicais, como Ryan Gosling e Emma Stone (ambos ótimos), levam com extrema
competência os números de dança e de canto. Mas, acima de tudo, paira a
requintada e encantadora trilha sonora deste
novo gênio chamado Justin Hurwitz. Quando for assistir, preste atenção às
delicadas joias compostas por ele. A
Lovely Night, City of Stars e, é claro, Mia
& Sebastian’s Theme o farão sonhar sonhos perdidos lá nos anos 50, se é
que você entende do que estou falando...
A mensagem é simples. Não percam.
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2017
Estamos precisando "sonhar " e os filmes que fala são "contos de fadas " que nos levam a sonhos e magia de tempos que não voltam mais.
ResponderExcluirIsto mesmo. Um antídoto contra o "mundo da maldade"...
ExcluirEstou com saudades de mim mesmo!Adorei aqueles filmes de que falas, mais o Oklahoma(!) e outros ,porque parece que agora as pessoas já não sonham .Claro que vou vou ver La La Land
ResponderExcluirVá, prima, e embarque no sonho. O problema será continuar a sonhar depois de sair do cinema...
ExcluirAntes de Sartre e depois de Sartre. O existencialismo nos pegou no meio do sonho, às portas da maioridade. Nós lançou na nouvelle vague. Uma reviravolta de responsa. Alain Resnai, Antonioni, Polanski,Bunuel, e o mago supremo, Ingmar Bergman. Eu pirei! Mas nunca vou esquecer. Cydia Charisse, Katherine Grayson, Mário Lanza, William Holden, Julie London. E a turma do bang bang?O máximo! Adolescência mto bem ser vida! Bom lembrar!
ResponderExcluirDesculpem os erros de digitação mas corrigir esse corretor paranóico é dose: Cyd Charisse !
ResponderExcluirTambém fui arrancado do sonho pelo "Hiroshima, mon Amour", aquela frase repetindo-se "tu est Nevers EN FRANCE!"... Meu Deus, "Il Sorpasso", "Bon Jour Tristesse"... e o resto. Depois do filme, ficávamos horas tentando explicar tudo e mais o Mundo fumando Gauloises e bebendo campari... Eta tempo bão...
ExcluirOs mineiros são mestres em manter uma certa fleugma com essa vontade inusitada de viver. Acho admirável !
ResponderExcluirE por falar em MmeDuras lembrei de outro filme soberbo! O Amante ou O Amante das China do Norte. Marguerite Duras devia ser eterna. Viver para sempre, para escrever!
ResponderExcluirEla, Papa Hemingway e John Lennon...
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVc conhece Henrique Vila Matas? de Barcelona. WG Sebald ? Alemão do pós guerra. Esse,escreveu O Anéis de Saturno. O único livro que li duas vezes. Daqui alguns anos vou ler de novo. A Fórmula Etrusca tb pretendo reler.A chegada no labirinto naquele castelo.
ResponderExcluirJá ouvi falar do Sebald, mas ainda não o li. Vou correr atrás do "Anéis de Saturno". O "Formula Etrusca" eu conheço. É bom, mas nem se compara ao UYRAN.O HERÓI...
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