O discurso de posse de um Presidente,
seja de qualquer país, traz sempre uma aura de transcendência. Vai ficar na
História, ou pelo menos num rodapé dela, dependendo da importância daquele país
na comunidade planetária. Mas, será guardado, gravado e, em função de sua
qualidade literária ou sua importância política, lembrado para sempre nos arquivos
nacionais.
Quando este país é os Estados Unidos da
América, então, o eco desse pronunciamento solene é imenso, haja vista a
inegável influência global da nação americana. O ritual vem desde George
Washington, do berço da Independência, e tem sido observado com mis-en-scène e divulgação cada vez
maiores. Hoje, dado o crescimento da presença americana no cenário mundial, é
um espetáculo midiático transmitido para todos os povos, e assistido com
atenção e interesse.
Como vivemos no reino da informática e
da informação ao alcance de um click, descobri
um site que reproduz TODOS os
discursos inaugurais, desde Washington até Trump. Leitor inveterado que sou, li
a maioria deles e, descontadas as idiossincrasias de época e o rebuscado das
frases, de rigueur nos séculos XVIII
e XIX, as mensagens são claras e afirmativas, proferidas por homens que se
sabiam encontrar num momento único de suas vidas, como políticos, cidadãos e
estadistas.
Assim, o tom é, invariavelmente, de
celebração e de compromisso com as ideias e princípios da Democracia e de
obediência à letra da Constituição. Especialmente nos momentos de turbulência
interna, como a Guerra da Secessão, de esgarçamento do tecido social, como na
Grande Depressão ou nos protestos dos anos 1970, ou dos conflitos das duas
Grandes Guerras, o discurso aumenta seu fervor no desejo de fraternidade, de
preservação da unidade e da grandeza nacionais e de esperança no futuro. Os que
tomam posse após acirradas disputas eleitorais pregam a união e o esquecimento
das farpas trocadas nos embates de campanha.
Há momentos sublimes, como o de Thomas
Jefferson, em 1801, buscando amparar os primeiros passos da nova nação, de
Abraham Lincoln, em 1865, festejando o fim de uma guerra cruel e a reunificação
do país (seria assassinado um mês depois), de Franklin Roosevelt, em 1933,
revertendo a maior crise econômica da História, de Ronald Reagan, em 1981,
espalhando otimismo e mudando as leis da Economia para fugir da Recessão, de
Barack Obama, em 2009, fazendo o mesmo.
E, é claro, o insuperável discurso de
John Kennedy, em 1961, em que ele anunciava que a tocha havia passado para as
mãos de uma nova geração de americanos, que nunca se deveria negociar pelo medo,
mas nunca se ter medo de negociar (estávamos em plena Guerra Fria), que seus
concidadãos não deveriam se perguntar o que a América podia fazer por eles e,
sim, o que eles podiam fazer pela América.
O que vimos (e ouvimos) no passado dia
20 das escadas do Capitólio não foi nada disto. Nem de longe. Trump foi, bem...
Trump. O que ele derramou em 16 minutos foi o seu script de campanha, seus bordões e suas promessas, seus ácidos
comentários sobre a Administração Obama, seu gesto repetitivo, sua war face. Nada para a História.
Não sei o que vai ser daqui para a
frente. Donald Trump, ou a persona que
ele criou, e da qual não poderá mais afastar-se, é uma aposta, um jogo de
apenas duas opções. Ou será um dos maiores nomes a ocupar a
Presidência dos Estados Unidos, ou vai meter os pés pelas mãos de tal maneira
que poderá não terminar seu primeiro mandato.
Em ambas as opções, o Mundo nunca mais será
o mesmo...
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2017
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA Escrita por si só é um ato que inaugura. E os seus textos, Oswaldo, são precisos. Quem escreve precisa ser rápido, fiel ao pensamento.
ResponderExcluir"Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra", pensei. Pode não ser verdade, mas é lindo e comovente.
O Sermão da Montanha é uma linda alegoria, mas não é da "Terra" que fala. Sua dimensão e suas promessas referem-se a outro reino, o dos céus. A Terra, esta que conhecemos e onde vivemos, jamais será dos mansos...
ExcluirA nível de Poder certamente não, mas a experiência cognitiva sempre levou e sempre levará a espécie humana pra inumeráveis Reinos. Essa experiência que habita os discursos,(lato sensu) não os de Trumps ou similares,mas de autores como o gajo que escreveu o Sermão da Montanha.E esse reino é aqui e agora, bem na Terra como ela é.
ResponderExcluirSó citando Vinicius (outro gajo que sabia escrever...)
Excluir"As vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
E aí pergunto a Deus - Escute amigo
Se foi prá desfazer, por que é que fez?"
Boa pergunta, sobretudo pq sendo irrespondivel, faz pensar. Só nos resta. Sorrir.
ResponderExcluirÉ assustador o que pode estar por vir.Já começou a batalha. Vamos ver até onde pode chegar.
ResponderExcluirEstamos só no começo... Depois do México, quem será a bola da vez?
ExcluirO que mais me chama atenção é ele estar preso na gestão do Obama, na intenção de apagar tudo o que o antecessor fez.
ResponderExcluirOs nossos políticos fazem promessas nas campanhas e não cumprem, já o Trump tem sido coerente e vem cumprindo o prometido em seus discursos desarrazoados.
Que ele não abra ainda mais a sua caixa de Pandora deixando escapar todos os males do mundo. Quem viver verá.
bjs Zezé
Trump "engessou-se" a si mesmo. Vai ter de cumprir seus compromissos de campanha, sob pena de fazer a "Middle America", que o elegeu, abandoná-lo e chamá-lo de traidor se não cumpri-los.
ExcluirNão sei o que é pior. Imaginar uma fraude eleitoral ou admitir que os Americanos puseram e lá.
ResponderExcluirO sistema eleitoral americano o pôs lá. Um sistema que vem da época da Independência, quando só os 13 estados compunham o país. Mas, é a regra do jogo.
Excluir* ele lá
ResponderExcluirNão é fácil imaginar " o quanto " as palavras de Trump serão cumpridas. Suas promessas estão assentadas na destruição do que foi o governo Obama. Impressiona o quanto ele se "considera o "UNICO" e isto é que nos apavora.Ele se julga mais capaz, penso, pelo dinheiro, que lhe dá o poder de um "ser absoluto."
ResponderExcluirPreocupa ele colocar sua família em postos importantes do governo, como o genro que negociará com os problemas de Israel X Palestina. E, tudo o que já disse até agora nos dá insegurança com as realizações por vir.
Abr., Cleusa.
Os americanos votaram nesta proposta. Agora, vão ter de engolir. E nós por tabela...
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