Brasilino Pindorama é um
comerciante. Herdou sua loja há muito tempo de um tio europeu, com algumas
dívidas, muito estoque e farta matéria-prima. Durante os anos, Brasilino
experimentou vários tipos de gerentes. Uns eram profundamente tradicionais em
seus métodos de gerência, outros ousados e afeiçoados ao risco, mais outros
austeros e duros no trato com os empregados, mais alguns doidivanas, muitos
inconsequentes. Por outro lado, o mercado em que sua empresa atuava ora estava
em franca expansão, ora em acentuado declínio. Houve tempo de bonança e tempo
de vacas magras. Certos anos foram muito bons. Certos anos foram desastrosos.
E, ainda, sempre algum amigo lhe segredava que seus gerentes desviavam parte do
lucro para os seus próprios bolsos, sem que a contabilidade percebesse. E
Brasilino, por mais que tentasse, nunca conseguiu fazer com que sua loja
atingisse o patamar dos grandes magazins,
dos imensos department stores ou dos
monumentais distribuidores do oriente.
Brasilino estava quase
desistindo quando um certo jovem de discurso simples, de nome Petrolino
Molusco, procurou-o e disse.
«Companheiro Brasilino, você
já tentou tudo e não deu certo. Mas, seus problemas acabaram! Eu tenho a
solução para o futuro de sua loja. Farei coisas nunca antes experimentadas. Ao
mesmo tempo, vou acabar com as maracutaias,
os jabaculês e os pixulecos que existem na firma. E seu
negócio se tornará no melhor negócio do mundo.»
Uma chama de esperança
brilhou no olho de Brasilino. E ele resolveu contratar o inflamado jovem e suas
promessas. Afinal, por que não?...
Os primeiros anos foram
extraordinários. Os mercados ajudavam, crescendo sem parar. Todo mundo queria
comprar os seus produtos, a loja funcionava a contento, contratou-se mais
gente, bônus generosos foram instituídos para os empregados. Um sucesso. Já se
cogitava construir um grande anexo para aumentar o negócio. Brasilino estava
tão contente, que nem se importou quando Molusco trouxe uma amiga para ajudá-lo
na administração. Embora conhecidos seus o tenham advertido que esta pessoa
entendia muito pouco do riscado, Brasilino não ligou. Estava tudo indo tão
bem...
Feliz, Brasilino resolveu
tirar umas férias ao mar.
Agora, Brasilino voltou.
Recebera no WhatsApp uma mensagem
estranha. Algo não ia bem com sua loja.
Assim que saltou do taxi, a
realidade quase o fez desmaiar. O grande anexo ao lado do prédio principal
estava inacabado e parte do muro caíra. Ao entrar, um porteiro que não conhecia
estava dormindo, com o uniforme desalinhado. E bêbado.
Começou a andar pelos corredores.
Tudo em desordem. Pouca gente realmente trabalhando. Reconheceu o antigo vice
gerente.
«Então Miguel, o que está
acontecendo?»
Miguel abaixou os olhos.
«Ah! Senhor Brasilino. Uma
tragédia. Estamos com muitas contas atrasadas. Luz, gás, água. E devendo uma
fortuna aos bancos. Com esses juros, imagine!... O piso do pátio interno está
cheio de buracos, o nosso ambulatório está sem leitos e remédios, o teto da
creche desabou. Metade dos funcionários está em greve porque não recebe
salários. A outra metade vive bajulando a Dona Wilma em troca de cargos e
aumentos...»
«Dona Wilma?! A amiga do
Molusco?»
«Sim. O senhor Molusco até
já brigou com ela e se mandou. Cá prá
nós, senhor Brasilino, ela é uma desgraça. Não entende nada de nada. Nem
escrever um memorando ela sabe. Tentou gerenciar a construção do anexo. Um
fiasco. A construtora recebeu o pagamento adiantado e sumiu. Dizem que há
alguém daqui de dentro que levou uma bolada para aprovar o pagamento. Falta
tudo. Tinta para impressora, fontes para os computadores, material de
escritório, até papel higiênico. O pessoal do estoque está dizendo que tem
mercadoria saindo sem nota...»
Brasilino está quase sem
fala.
«Mas.... Mas... eu recebi e-mails dela dizendo que a firma ia
lucrar 24 zilhões de irreais este ano...»
«Bullshit. Contabilidade fajuta. A minha turma de empregados antigos
chamou um auditor independente para fazer um levantamento. A previsão é de
PREJUÍZO. De 170 zilhões!...»
Brasilino desaba na cadeira
mais próxima.
O
que fazer, pensa ele, enquanto o velho Miguel, com sua
cara de fiscal de enterro, espera em silêncio. Mandar a Wilma embora? Colocar o vice gerente no lugar dela? E as
suspeitas sobre ele e seus colegas da velha-guarda, que também não resolveram a
situação da loja no passado?
Brasilino murmura baixinho.
«Deus meu, o que fazer?»
Você
sabe como ajudar Brasilino? Cartas para a redação...
Oswaldo Pereira
Maio 2016
Convoca uma reunião Brasilino......importante que todos os envolvidos, na administração, contratos, construtores do anexo, até boys e servidores de cafezinho compareçam para discutir democraticamente sobre o assunto........aí......todos reunidos avisa o Al Queda...........kkkkkkkk.
ResponderExcluirComeça do zero..........
Perfeito! rsrsrsrs....
ExcluirMuito bom, Oswaldo. Retrato perfeito...
ResponderExcluirBjs
Obrigado, Ana. Tenho também gostado muito das tuas aparições no Face. E o teu blog? Estou esperando...
ExcluirOlá Oswaldo,
ResponderExcluirE interessante ler a tragedia que o Brasil com essa ótica do Brasilino,e os personagens Molusco Petrolino e dona Wilma e o vice .
Brasilino ainda é forte Depois de tudo isso vai se recompor.
Pena é que se criou uma geração de talentosos oportunistas os quais tem que ser afastados , colocar a descoberto para todo o mundo saber suas falcatruas.
Brasilino terá que escolher novo gerente e ficar de olho nele toda hora e não descansar em berço esplendido.
Abraços
Perfeito, caro Almirante! Brasilino vai ter de contar com o que tem e ficar de olho. Será recomendável contratar a firma de Olheiros Independentes Moro & Janot...
ExcluirOlá Oswaldo,
ResponderExcluirE interessante ler a tragedia que o Brasil com essa ótica do Brasilino,e os personagens Molusco Petrolino e dona Wilma e o vice .
Brasilino ainda é forte Depois de tudo isso vai se recompor.
Pena é que se criou uma geração de talentosos oportunistas os quais tem que ser afastados , colocar a descoberto para todo o mundo saber suas falcatruas.
Brasilino terá que escolher novo gerente e ficar de olho nele toda hora e não descansar em berço esplendido.
Abraços
Você fez o retrato que estamos vendo. Prender todos é a única solução que resta.
ResponderExcluirMas é prazeroso ler a crônica, a tragédia que estamos vivendo.
Abraços.
Fechar para balanço, mandar todo mundo embora... E botar quem? A sociedade brasileira está doente. Gerações de desleixo com a educação cívica e o desrespeito à valores básicos de honestidade de princípios nos legaram um país já nem digo mais sem futuro, mas sem Presente.
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