Uma das regras de
sabedoria que muito aprecio é a que manda desconfiar da Unanimidade. O próprio
sábio Nelson Rodrigues já a chamava de burra. E, pensando bem, é impossível
admiti-la como normal.
Somos feitos de
proteína, água e neurônios. Cada exemplar de nossa espécie é a síntese de
infindáveis combinações de códigos genéticos, instiladas nos cromossomas de
pais, avós, bisavós, numa cadeia de variações que nos irá definir no momento da
nossa concepção. A resultante que somos nós não tem a menor chance matemática
de se repetir. Somos únicos na nossa individualidade.
Se juntarmos a isto o
mundo de informações que recebemos desde o primeiro choro na maternidade, que
nos entram pelos sentidos sob a forma de exemplos, lições, influências, crenças
e experiências, o produto resultante é uma mente que processa sua observação do
universo de uma maneira que ela, e somente ela, será capaz de fazer. Nem os
gêmeos univitelinos, embora fisicamente idênticos, serão intelectualmente
iguais.
Dito isto, é
humanamente normal que as pessoas interpretem os fatos diferentemente. Se eu
olhar para uma linda tarde de sol morrendo no mar azul de Ipanema, e acreditar
que é uma obviedade achá-la deslumbrante, vou estar certamente enganado. Do meu
lado, posso ter alguém para o qual a cena evoque coisas tristes, um naufrágio,
um amor perdido no mar, ou que simplesmente não goste de poentes.
Assim, divergências e
discordâncias fazem parte do comportamento do homem social. Se assim não fosse,
torceríamos todos pelo mesmo time de futebol, comeríamos a mesma fruta,
pintaríamos as casas da mesma cor. E votaríamos no mesmo partido político. Só
que assim não é.
Mas, existe uma
vertente que faz, ou deveria fazer, convergir as opiniões para um sentido
comum, um amplo acordo ou, pelo menos, uma concordância básica sobre um
determinado tema. A esta vertente damos o nome de Bom Senso. Independente de
observações diversas ou de índoles particulares, o Bom Senso assenta-se na
compreensão generalizada de que uma certa opção reúne os ingredientes básicos
para oferecer a melhor solução para ou o melhor entendimento de um problema.
Uma opção que aproveita a todos. E que, portanto, deveria ser desejada por
todos.
Lamentavelmente, no
entanto, este óbvio conceitual parece não existir em fartas doses na
mentalidade de nossos homens públicos. E, por mal dos nossos pecados, também
inexiste neste incipiente Governo Interino. Depois de alertar o País para a
gravidade da desastrosa situação a que a inépcia política e administrativa de
Dilma Rousseff nos atirou e de prenunciar um purgatório de medidas austeras
como única via de salvação, acaba de aprovar um generoso pacote de aumentos
para o funcionalismo público, com percentuais que vão de 16 a quase 50 por
cento. Um mimo de quase 60 bilhões de reais, enquanto quase 12 milhões de
brasileiros amargam o desespero da falta de emprego.
Será que, após esta
demonstração de total insensibilidade, ainda terão a cara de pau de, como já
acenado pelo Ministro Meirelles, vir à Sociedade pedir mais impostos?
Oswaldo Pereira
Junho 2016
Total insensibilidade é romper com um processo democrático e imaginar que com isso, alguma coisa dentro desta nação, ainda vai dar certo.
ResponderExcluirÉ difícil falar de Democracia com d maiúsculo num país onde a maioria dos eleitores, no dia seguinte a uma eleição, já não se lembra em quem votou. Onde mais de 50% dos deputados não são eleitos por voto direto, e sim por voto "de legenda". Onde votos são atirados ao vento em troca de cargos, sinecuras, vantagens, até de dentaduras. Ainda temos muito o que aprender até sabermos substituir democracia por Democracia...
ExcluirNo momento em que se espera uma posição mais firme para demonstrar o desmando em que estamos, nos deparamos com essa decisão de completa insensibilidade. Difícil algo dar certo com essa desqualificada classe política.
ResponderExcluirZé Correa
Temer está jogando fora um oportunidade histórica. Ruim para ele. Pior para nós. E não nos esqueçamos de que a decisão final sobre o impeachment depende de 54 votos no Senado. Como está a cabeça de nossos "probos" senadores, com tanta denúncia no ar?...
ExcluirOswaldo,
ResponderExcluirMais uma vez ótimo enfoque.
Eu também não entendo aumento para o funcionalismo em um momento de corte de despesas.
O que pode estar por trás disso tudo?
Convenhamos ,se não estou enganado, que o funcionalismo publico não é um aclasse desprotegida. Ser funcionário público pelo menos era um privilegio alcançar uma certa estabilidade
E os demais que não estão dentro dessa manobra terão que pagar por isso com impostos e outras incomodidades.
È difícil e desanimador mais temos que fazer o que V. faz DENUNCIAR.
Abraços
Emilio Gonzalo
Têm estabilidade no emprego e uma aposentadoria generosíssima. Coisas que o resto dos brasileiros nem sonham. Meu pai já os chamava de "príncipes da República"...
ExcluirCaro Primo,
ResponderExcluirEmbora reconheça que você tem toda razão, aliás, seria impossível não admitir, mas como "para náufrago crocodilo é tronco", quero conservar a vã esperança de que, talvez seja a fragilidade de governante interino que tenha levado o presidente a não vetar o aumento em momento tão inoportuno.
Abraços,
Geraldo
Concordo, caro primo. O Michel tem mesmo muito a Temer... Pisando em ovos, não os dele, é claro, é a maneira mais gráfica de descrever o seu interino governo. Que país difícil,o nosso...
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