O ex-Ministro Delfim Neto dizia que países não iam à
falência, a Igreja excomungava quem se divorciasse, o homossexualismo era
punido com prisão nos Estados Unidos, de Gaulle concedia a independência à
Argélia por acreditar na causa árabe, o PT lutava pelos direitos trabalhistas e
denunciava a corrupção no poder, o
Real valia um Dólar, o Brasil era o deus do futebol, Pelé era chamado de “o bom
crioulo”, música caipira era brega, a
China ia de Mao a pior, a violência no cinema era a do Tom caçando o pobre Jerry.
Escreviam-se cartas e conversava-se à mesa. Tudo isto na última esquina do
tempo, logo ali atrás.
Só nesta semana, a Grécia está para fechar as portas, o Papa Francisco
reconhece os percalços de uma relação, a bandeira gay é hasteada na América, o
EI se torna a principal ameaça na França, Dilma e seu desGoverno derretem o ideário da esquerda, a moeda americana vale
três das brasileiras, a Seleção foi para a “segundona” do futebol mundial, o
verbo denegrir foi colocado no index,
os artistas country estão todos milionários,
a China esbanja seu capitalismo e os filmes glorificam, com os mais variados
efeitos especiais, as cascatas de sangue. A caneta e a fala foram aposentadas
pelo movimento frenético do dedo numa tela e por um novo vocabulário. Td mto xôu, né véi? Lol! rsrsrs...
Nem tudo foi para melhor, e nem tudo para pior. Assim evoluímos desde os tempos da mulher
sapiens, e nem sempre graças à mandioca (meu Deus, por que ainda deixam
a Dilma falar de improviso?...) O caminho é como dizia um ascensorista,
perguntado sobre o seu trabalho. Cheio de altos e baixos...
Nada é linear. Tentativa e erro, e tentativa de novo,
são o ritmo da humanidade desde que o primeiro neanderthal esqueceu-se de
colocar as folhas secas perto do graveto que friccionava e o fogo não se
acendeu. “Hummm...”, ele disse. E
corrigiu o erro. Assim, o título idiota que um censor brasileiro inventou para
o filme Giant na década de 1950, “Assim Caminha a Humanidade”, nunca
foi tão adequado.
Só que agora a Humanidade parece correr, em vez de andar,
e a insustentável leveza do ser de
Milan Kundera passou a ser a insustentável
permanência do viver. Toneladas de teorias perdem a validade em meses,
postulados morrem nos laboratórios, apodrecidos pela obsolescência instantânea
em seus tubos de ensaio. O que era deixa de ser em menos tempo que o comum dos
mortais leva para apreender o que havia antes do “já era”. Não há mais tempo
para olhar a lentidão de um poente de Outono, as esculturas que as nuvens
desenham numa tarde preguiçosa, o quebrar de uma onda numa praia morna e
deserta, ouvir o silêncio de uma longa madrugada receber a sinfonia de um galo campina,
que quando canta muda de cor...
O foguete em que estamos embarcados ruma ao futuro cada
vez mais rápido. Mas sempre haverá desvios, curvas apertadas, correções de rota
e, quem sabe, uma pausa para apreciarmos um céu cheio de estrelas...
Oswaldo
Pereira
Junho
2015
Adorei!! Você realmente tem o dom da escrita!! Parabéns!!
ResponderExcluirBeijocas
Valeu querida. E, para ficar "na onda", mtos bjs...
ExcluirÉ, está tudo aí: nosso passado e os tempos muito loucos que estamos vivendo. Ainda bem que o foguete que nos leva rumo ao futuro é capaz de correções de rota e, tenho certeza, de "fazer uma pausa para apreciarmos um céu cheio de estrelas". Amei.
ResponderExcluirPS: Também gostaria de saber como deixam a Dilma falar de improviso. Talvez seja por ser ela uma mulher sapiens.
Muito bom, Tetê.
ExcluirGostei muito. So nao entendi o comentario sobre o verbo denegrir. Estou por fora. Depois me explica.
ResponderExcluirDe-negrir. "Negrir" vindo de "negro" e, portanto, denegrir significaria insultar, diminuir, difamar uma pessoa por ela ser "negra". Capisci?
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
Excluir