Um adolescente com uma faca na mão transformou-se no
grande motivo de medo nas ruas do Rio. Em pouco mais de um mês, cerca de vinte
ocorrências, com vários feridos e uma morte, espantaram-nos a todos, em
especial por reunirem dois fatores socialmente explosivos: menoridade e violência.
Tenho lido e ouvido muito sobre o assunto, cuja
frequência nas páginas dos jornais e nos noticiários da TV eleva o grau de
inquietação nos habitantes de uma cidade que tem pela frente um evento de
enorme magnitude esportiva e turística. Muita gente apertou ainda mais seus
hábitos de deslocamento a pé ou de bicicleta em áreas de lazer e convívio, que
antes pareciam preservados, abrindo mão de preciosos componentes de sua
qualidade de vida.
A maioria dos cronistas que se pronunciaram, em
entrevistas e em suas colunas, aponta como causas o problema social de uma
adolescência carente e abandonada e a falta de policiamento.
É. Pode ser. Mas, eu acho que há outras razões. Pelo
menos, três.
A primeira é uma razão de fundo, ou seja, um processo que envolve várias gerações e foi
crescendo sob o beneplácito de um Estado inoperante e corrupto, cujo
desinteresse criminoso permitiu o vicejar de imensos guetos em cujas vielas
perderam-se as noções de família e dignidade. Só muito recentemente vem-se
procurando o seu resgate, um trabalho que as décadas de descaso tornam sobre
humano e demorado.
O segundo componente, ainda mais danoso, é a leniência
da nossa legislação. Enquanto a discussão da maioridade penal se arrasta no
pântano do Congresso, menores com
idade legal para votar e casar permanecem imunes à punição e ao encarceramento.
Quando o Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, e até seu
Governador, declaram abertamente que a ação da Polícia em apanhar os menores criminosos
é desfeita no dia seguinte por um juiz obediente à lei que protege tais inocentes, dá para perceber que algo vai
muito, muito mal.
Mas o terceiro motivo é, para mim, o mais grave. Todos
estes pequenos bandidos atacam para
roubar. Os alvos mais comuns têm sido as bicicletas e os telefones celulares.
Por que? Simplesmente porque há um ilimitado mercado para eles. O adolescente
que empunha a faca não está minimamente interessado no bem que arranca de sua
vítima. O seu objetivo é vendê-lo ao receptador que o contratou e lhe pagará a
ninharia que sustentará seu vício de cheirar cola. Por sua vez, o receptador
está apenas atendendo a encomendas de uma rede de vendedores ambulantes
que, no dia seguinte, estarão satisfazendo a uma legião de compradores no
centro da cidade ou em camelódromos espalhados
pelas ruas do Rio.
E aí, sim, está a origem de tudo. O esperto cidadão, talvez até aquele que
no conforto de sua sala de estar, ao assistir às cenas dos assaltos, execra a
Polícia, a sociedade, Deus e o mundo, sem se dar conta, em sua profunda hipocrisia,
que são a sua isperteza e o seu sorriso ganancioso ao comprar um Galaxy 5 por duzentos reais numa banca
da Avenida Rio Branco os pavios que acendem
este rastilho de crime e violência que nos horroriza.
Oswaldo
Pereira
Junho
2015
Muito bom, Oswaldo. A hipocrisia está nas pessoas que subornam policiais, que compram produtos baratos, e é claro que sabem que existe algo errado ali, e muitas outras atitudes diárias que vai de encontro ao que elas criticam nos outros...
ResponderExcluirEsta, sim, é a fonte. Falo isto há tempos.....
ResponderExcluirO primeiro comentário que fiz também sumiu.
ResponderExcluirDisse que você tem toda a razão descrita na página. Falta das autoridades nos cuidados com as escolas e falta de um melhor policiamento. Isto para o momento atual, mas o principal é afalta de boas escolas com horário integral. Continuamos com nossa esperança de dias melhores.