Em maio de 1550, consta do rol de alistamentos
para uma viagem à Índia o seguinte:
“Luís
de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na mouraria,
escudeiro, 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador seu pai. Vai na nau de S.
Pedro dos Burgaleses, entre os homens de armas.”
Só que o jovem não chegou a embarcar. No dia da
procissão de Corpus Christi,
altercou-se com Gonçalo Borges, empregado do Paço, ferindo-o com a espada. Foi
para a cadeia. Só três anos depois, perdoado com indulto real, embarcou enfim
para o Oriente. Anos antes, por frustrações amorosas, alistara-se como soldado
e fora para a África, onde participou de várias campanhas e acabou perdendo um
olho na batalha de Gibraltar.
Brigão, turbulento, boêmio, mulherengo, aventureiro.
Este era Camões. Bebia a vida aos grandes goles. E a descrevia em seus poemas,
com a centelha do insuperável gênio que era, criando uma linguagem tão perfeita
em sua obra que acabou, a partir daí, por servir de norma à nova língua
portuguesa. Foi o acordo ortográfico da
época...
Em 1553, em plena navegação para o Índico, Camões
escreve sua maior obra. As ondas, a magia do Levante, o vento nas velas, a
coragem dos marinheiros, as gentes estranhas de um mundo estranho, os cheiros
das especiarias, tudo devia espicaçar a sua verve galopante. Já está com Os Lusíadas pronto quando, ao chegar à Cochinchina (hoje mais conhecida como
Viet Nam) o seu navio soçobra no rio Mekong. Camões, nadando só com um braço,
enquanto a outra mão mantém o poema acima da linha d’água, é um dos poucos
sobreviventes. Não havia backups naquela
época e nuvens eram apenas as que
rolam no céu...
Muitas peripécias ainda iriam povoar o caminho do
poeta. Só em 1570 ele regressa a Portugal. Por esta altura, sua fama de grande
vate já se espalhara pelo país e ele, em récita especial, recita Os Lusíadas para o Rei D. Sebastião e
para a Corte. A obra é impressa e publicada em 1572, às expensas da Coroa, que
ainda outorga uma pensão anual de 15.000 réis ao seu autor. O valor não é muito
e é pago irregularmente, e Camões acaba por viver dificuldades financeiras.
Depois de um fulgurante lançamento, sua obra cai pouco a pouco no esquecimento.
Acabrunhado pela situação e profundamente entristecido após a derrota dos
portugueses em Alcácer-Quibir e o desaparecimento do Rei, adoece e morre em 10
de junho de 1580.
E esta foi a data escolhida para celebrar o Dia de
Portugal, a mais importante do seu calendário cívico. Uma homenagem ao seu
povo, sua história e ao homem que teve a arte e o engenho de trazer para a
palavra escrita, domada, rimada e viva, a genialidade lusa em um de seus
melhores momentos.
Oswaldo
Pereira
Junho
2015
Bravoooo !!!!!! Pra vc, Camões e Portugal.
ResponderExcluirNovamente sumiu meu comentário. Farei outro.
ResponderExcluirBem contada um pouco da vida de Camões, o eterno. Imagina ele com toda a energia que parece ter tido , se não fizesse as viagens? É imortal, tantos séculos e estamos sempre a fazer comentários de seus belos escritos.