quarta-feira, 10 de junho de 2015

DIA DE PORTUGAL







Em maio de 1550, consta do rol de alistamentos para uma viagem à Índia o seguinte:

“Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na mouraria, escudeiro, 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador seu pai. Vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses, entre os homens de armas.”

Só que o jovem não chegou a embarcar. No dia da procissão de Corpus Christi, altercou-se com Gonçalo Borges, empregado do Paço, ferindo-o com a espada. Foi para a cadeia. Só três anos depois, perdoado com indulto real, embarcou enfim para o Oriente. Anos antes, por frustrações amorosas, alistara-se como soldado e fora para a África, onde participou de várias campanhas e acabou perdendo um olho na batalha de Gibraltar.

Brigão, turbulento, boêmio, mulherengo, aventureiro. Este era Camões. Bebia a vida aos grandes goles. E a descrevia em seus poemas, com a centelha do insuperável gênio que era, criando uma linguagem tão perfeita em sua obra que acabou, a partir daí, por servir de norma à nova língua portuguesa. Foi o acordo ortográfico da época...

Em 1553, em plena navegação para o Índico, Camões escreve sua maior obra. As ondas, a magia do Levante, o vento nas velas, a coragem dos marinheiros, as gentes estranhas de um mundo estranho, os cheiros das especiarias, tudo devia espicaçar a sua verve galopante. Já está com Os Lusíadas pronto quando, ao chegar à Cochinchina (hoje mais conhecida como Viet Nam) o seu navio soçobra no rio Mekong. Camões, nadando só com um braço, enquanto a outra mão mantém o poema acima da linha d’água, é um dos poucos sobreviventes. Não havia backups naquela época e nuvens eram apenas as que rolam no céu...

Muitas peripécias ainda iriam povoar o caminho do poeta. Só em 1570 ele regressa a Portugal. Por esta altura, sua fama de grande vate já se espalhara pelo país e ele, em récita especial, recita Os Lusíadas para o Rei D. Sebastião e para a Corte. A obra é impressa e publicada em 1572, às expensas da Coroa, que ainda outorga uma pensão anual de 15.000 réis ao seu autor. O valor não é muito e é pago irregularmente, e Camões acaba por viver dificuldades financeiras. Depois de um fulgurante lançamento, sua obra cai pouco a pouco no esquecimento. Acabrunhado pela situação e profundamente entristecido após a derrota dos portugueses em Alcácer-Quibir e o desaparecimento do Rei, adoece e morre em 10 de junho de 1580.

E esta foi a data escolhida para celebrar o Dia de Portugal, a mais importante do seu calendário cívico. Uma homenagem ao seu povo, sua história e ao homem que teve a arte e o engenho de trazer para a palavra escrita, domada, rimada e viva, a genialidade lusa em um de seus melhores momentos.


Oswaldo Pereira

Junho 2015

2 comentários:

  1. Bravoooo !!!!!! Pra vc, Camões e Portugal.

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  2. Novamente sumiu meu comentário. Farei outro.
    Bem contada um pouco da vida de Camões, o eterno. Imagina ele com toda a energia que parece ter tido , se não fizesse as viagens? É imortal, tantos séculos e estamos sempre a fazer comentários de seus belos escritos.

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