sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

BELÍSSIMO ENSAIO








Um elegante ensaio sobre a violência. Violência física, moral, em várias gradações. Violência da mentira, da traição, da incompreensão. Violência da corrupção, do poder, da ganância. Violência do desamor, do abandono, da ira nua, do preconceito.

Um rico ensaio sobre o amor. Amor de mãe, de pai sem o ser, de pai verdadeiro, de pai renascido. Amor desespero, cego, amor perdido, final, terminal. Amor sonhado, de sinal trocado. Amor roubado, culpado, fingido, virtual.

Um precioso ensaio sobre sexo. Sexo como profissão, como jogo, como arma. Sexo redenção, sexo liberdade, sexo com gosto. Sexo oposto, liberal e proibido, sexo que leva à morte.

Em minha opinião, a minissérie “Felizes para Sempre?”, levada ao ar pela Rede Globo nas últimas duas semanas, foi isso tudo. E mais.

Foi uma lufada de ar novo naquele formato televisivo, especialmente por sua magistral linguagem cinematográfica. Produzida pela O² Filmes, uma produtora independente brasileira, responsável por outras obras-primas como Cidade de Deus e Blindness (Ensaio sobre a Cegueira), e dirigida por um dos seus sócios, o premiado Fernando Meirelles que, além dos dois filmes citados acima, também foi o realizador de 360 e The Constant Gardener (O Jardineiro Fiel), a série realmente tinha de bombar.

Começando pelo roteiro. O enredo é uma releitura que o próprio autor, Euclydes Marinho, fez de outra obra sua, Quem Ama Não Mata, de 1982. O tema, à época, estava na moda, dada a frequência com que delitos passionais alimentavam a crônica policial. Ainda matava-se em nome da honra, por ciúmes e por despeito. O assassinato da socialite Ângela Diniz pelo seu namorado, Raul “Doca” Street, na Praia dos Ossos, em Búzios, gerara uma onda de discussões apaixonadas sobre os agravantes e os atenuantes dos crimes por amor.

Quem Ama Não Mata fez um grande sucesso e Marinho resolveu homenagear os atores da primeira versão de Felizes Para Sempre? dando seus prenomes aos atuais personagens, como Marilia Pêra, Claudio Marzo, Denise Dumont, Hugo Carvana, Tania Scher, Dionísio Azevedo, Daniel Dantas e assim por diante.

E aí podemos falar do presente elenco. Não sei quem foi o responsável pelo casting, mas quero acreditar que o faro de Fernando Meirelles teve influência. Especialmente na escolha de Maria Fernanda Cândido e de Enrique Diaz para o casal de mais destaque na trama. Ele, perfeito no crápula sem escrúpulos cujo retrato se vê, nos dias de hoje, repetido nos escândalos reais que submergem o país (não por acaso, a ação se passa em Brasília...). Ela, um contraponto suave no charco de ganância e intriga engendrado pelo marido, prenhe de amor para dar, à espera de uma redenção. Jogando no time com maestria, há nomes de respeito da dramaturgia da Globo e do cinema nacional, como Adriana Esteves, João Miguel, Cássia Kis Magro e Perfeito Fortuna.


MARIA FERNANDA CÂNDIDO COMO MARÍLIA


ENRIQUE DIAZ COMO CLÁUDIO
















Mas foi na escalação da atriz para representar a personagem central da história que a inspiração não poderia ter sido mais efetiva. Paolla Oliveira conseguiu compor Denise, ou Dany Bond, a garota de programa que se torna o fio condutor de toda a trama (desencapado, diga-se de passagem...), com uma eletricidade pouco comum de se ver todos os dias na telinha. Falar somente da cena em que ela aparece de costas, vestida apenas com uma mínima lingerie preta, como referência da sua atuação, como parece ser a preferência dos colunistas em geral, é uma injustiça com a dramaticidade demonstrada pela atriz em todo o trabalho.

PAOLLA OLIVEIRA COMO DANNY BOND

Um belo ensaio, um real presente de início de ano para nós, espectadores ávidos de boas produções.

Quem não viu, procure ver. Vale a pena.


Oswaldo Pereira
Fevereiro 2015







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