“SE
SÓ EXISTE NO BRASIL, E NÃO É JABUTICABA, É BESTEIRA...”
Este antigo ditado tem sido repetido vezes sem
conta, toda vez que alguém quer acentuar muitas das nossas incongruências, falhas
ou deficiências. É uma maneira meio jocosa, e meio autopunitiva, de reconhecer
realidades pouco ou nada recomendáveis, imputadas ao nosso DNA, ao nosso caldeirão étnico-cultural, ao nosso tropicalismo e até à propalada isperteza que
conferimos a nós mesmos no trato com o cotidiano.
Há muitas coisas que só existem aqui e que são jabuticabas estranhas e sem motivo, como
a proibição do jogo num país como forte apelo turístico, o efeito colateral do jogo-do-bicho, praticado em cada esquina
com o beneplácito comprado das autoridades, um programa radiofônico governamental
que por sessenta minutos diários ocupa obrigatoriamente TODAS as emissoras
nacionais, chamado de A Voz do Brasil.
O ditado é então uma espécie de mea-culpa bem-humorado, uma variação mais leve do complexo de vira-lata que por algum tempo nos
afligiu como Nação de Terceiro Mundo, subdesenvolvida e, como no Hino, deitada eternamente em berço esplêndido,
inerte e preguiçosa.
Felizmente, de meados do século XX para cá, muita
coisa mudou, o país cresceu e apareceu, viramos BRIC, fizemos bonito em muitos
campos, não só os de futebol, mas em transições políticas dentro da ordem a da
lei, no resgate de milhões de famílias do abismo da pobreza, no ressurgimento
de um justo orgulho pelo nosso tamanho, nossa tolerância religiosa, nosso
respeito às minorias, nossa liberdade de expressão, nossa inclusão social.
É claro que nada é perfeito. Essa moeda tem um
reverso (desculpem a rima) perverso. É a face da corrupção, este desgraçado monstro
que vem parindo a morte nas filas dos hospitais sem verbas, a ignorância nas
escolas sem carteiras e professores, a tragédia nas estradas sem asfalto e sem
sinalização, a serpente inflacionária que engole o ganha-pão do pobre, o
imposto imoral e desviado que corrói o salário do trabalhador de classe média,
o desmantelamento da maior empresa pátria com o objetivo único de financiar com
bilhões de dólares de propinas e superfaturamentos um projeto político de
poder.
Uma enorme, brutal e amarga jabuticaba que poderá nos envenenar.
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2015
Acho que por estar longe quero muito acreditar que vai melhorar. Acreditar que muito mais vai mudar para melhor. "A esperança é a última que morre" .. mas no caso do Brasil, ela esta em coma profundo. Tomara que esse "Jabuti" acabe.
ResponderExcluirBruno