sábado, 7 de fevereiro de 2015

JABUTICABAS






SE SÓ EXISTE NO BRASIL, E NÃO É JABUTICABA, É BESTEIRA...”

Este antigo ditado tem sido repetido vezes sem conta, toda vez que alguém quer acentuar muitas das nossas incongruências, falhas ou deficiências. É uma maneira meio jocosa, e meio autopunitiva, de reconhecer realidades pouco ou nada recomendáveis, imputadas ao nosso DNA, ao nosso caldeirão étnico-cultural, ao nosso tropicalismo e até à propalada isperteza que conferimos a nós mesmos no trato com o cotidiano.

Há muitas coisas que só existem aqui e que são jabuticabas estranhas e sem motivo, como a proibição do jogo num país como forte apelo turístico, o efeito colateral do jogo-do-bicho, praticado em cada esquina com o beneplácito comprado das autoridades, um programa radiofônico governamental que por sessenta minutos diários ocupa obrigatoriamente TODAS as emissoras nacionais, chamado de A Voz do Brasil.

O ditado é então uma espécie de mea-culpa bem-humorado, uma variação mais leve do complexo de vira-lata que por algum tempo nos afligiu como Nação de Terceiro Mundo, subdesenvolvida e, como no Hino, deitada eternamente em berço esplêndido, inerte e preguiçosa.

Felizmente, de meados do século XX para cá, muita coisa mudou, o país cresceu e apareceu, viramos BRIC, fizemos bonito em muitos campos, não só os de futebol, mas em transições políticas dentro da ordem a da lei, no resgate de milhões de famílias do abismo da pobreza, no ressurgimento de um justo orgulho pelo nosso tamanho, nossa tolerância religiosa, nosso respeito às minorias, nossa liberdade de expressão, nossa inclusão social.

É claro que nada é perfeito. Essa moeda tem um reverso (desculpem a rima) perverso. É a face da corrupção, este desgraçado monstro que vem parindo a morte nas filas dos hospitais sem verbas, a ignorância nas escolas sem carteiras e professores, a tragédia nas estradas sem asfalto e sem sinalização, a serpente inflacionária que engole o ganha-pão do pobre, o imposto imoral e desviado que corrói o salário do trabalhador de classe média, o desmantelamento da maior empresa pátria com o objetivo único de financiar com bilhões de dólares de propinas e superfaturamentos um projeto político de poder.

Uma enorme, brutal e amarga jabuticaba que poderá nos envenenar.


Oswaldo Pereira
Fevereiro 2015





Um comentário:

  1. Acho que por estar longe quero muito acreditar que vai melhorar. Acreditar que muito mais vai mudar para melhor. "A esperança é a última que morre" .. mas no caso do Brasil, ela esta em coma profundo. Tomara que esse "Jabuti" acabe.
    Bruno

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