O aeroporto é grande, espaçoso e eficiente. As
indicações são claras, os banheiros limpos e o atendimento gentil. Há várias
lojas vendendo de tudo, mas privilegiando a oferta de produtos com forte sabor
do folclore da sua terra e sua cultura. Os corredores são amplos e
confortáveis. O ambiente tranquilo.
Não estou falando dos grandes aeroportos da Ásia, nem
dos imensos airports americanos e nem
os das badaladas capitais europeias. Estou falando de um país quase hermano, sul-americano como nós, membro
desta nossa família de nações morenas descolonizadas há quase dois séculos, e
que não irá sediar uma Copa do Mundo em dias. Aliás, nem vai jogá-la. Estou
falando do Peru.
Turismo
levado a sério, foi o único título que achei para
descrever a sensação que tive ao chegar a Lima. Tudo funcionava como um
relógio, sem o menor sobressalto. Uma impressão que se foi confirmando à medida
que a programação contratada para visita ao país se desenrolava, evidenciando o
cuidado, o profissionalismo e, bem nítido, o orgulho com que guias, motoristas,
empregados de hotel e de restaurantes exerciam suas atividades na medida certa,
sem bajulações excessivas nem descasos deseducados. A palavra de ordem é
receber bem o turista e transformar a indústria do turismo numa prioridade de
um País que, a até alguns anos, se viu presa de um cruel confronto com o Sendero Luminoso.
Agora, a sensação é de alívio. A paz reina desde o lago
Titicaca até às florestas do Norte, permitindo a retomada de um desenvolvimento
organizado e de um concentrado investimento em educação. Nem nos lugares mais
pobres de Lima se vêem crianças pedindo nas ruas, evadidas das escolas. Eu as
sempre vi, uniformizadas e em bandos organizados por instituições de ensino,
nos museus, nos sítios históricos, nos parques. Cenas que adocicam o semblante
brumoso e impenetrável da capital. Não chove em Lima. O sopro frio da corrente
de Humboldt transforma as gotas d’água em neblina e melancolia e uma cidade que
quase repousa na linha do Equador escapa das temperaturas ardentes, mantendo um
ameno frescor moderado. Com mais de 9 milhões de habitantes, é uma mega cidade
e, claro, tem seu lado pobre derramado por uma enorme periferia. Mas, à medida
que se avança para o Pacífico, e longe se vai deixando o ocre e o barro das
construções populares, a cenografia muda e desabrocha nos bairros cosmopolitas
de Barrancos e San Isidro e no elegante Miraflores.
BALCÕES DE LIMA |
E é aí em Miraflores que outra agradável experiência
espera o visitante. A nova cozinha peruana, uma verdadeira cocina de fusión, que soube misturar com expertise as raízes andinas, o celeiro infindável do mar e os
mistérios da floresta com as influências das vertentes imigratórias, desde o
colonizador espanhol até os requintes da mesa asiática.
MERCADO DE SAN ISIDRO |
MERCADO DE SAN ISIDRO |
O resultado primordial
desta mágica foi o ceviche, atualmente
um das comidas mais premiadas do mundo e prato de rigueur em qualquer refeição limenha. Recomendo vivamente
comê-lo, assim como outras delícias, no Alfresco, conceituadíssimo restaurante no Malecón
Balta, uma comprida rua que vai do Parque Kennedy até a praia.
Evidentemente que nada disso é possível sem a companhia de um Pisco Sour, drink tão emblemático do
Peru como a caipirinha é do Brasil. O pisco
é, na realidade, uma aguardente de uva e, portanto, existe em vários graus
de qualidade, dependendo do tipo da uva e do ano da colheita. No restaurante
Rosa Náutica, também em Miraflores, recebi uma aula prática de como preparar
esta maravilha. Aí vai a (minha) receita:
3
partes de pisco (preferencialmente Mosto Verde)
1
parte de suco de limão
1
parte de jarabe de goma (preparado com 2kg de açúcar em 1 litro de água)
1
clara de ovo
Algumas
gotas de bitter angostura
Modo
de fazer:
colocar os ingrediente (menos a angostura) numa coqueteleira, com cubos de
gelo, esperar 8 segundos. Depois, chacoalhar por 12 segundos e coar para um
copo pré-gelado. Colocar as gotas de angostura no centro da superfície. Salud!
Rudyard Kipling, o famoso escritor inglês, tarado pelo drink, assim descreveu-o poeticamente:
”compounded of the shavings of cherub's wings, the glory of a
tropical dawn, the red clouds of sunset and the fragments of lost epics by dead
masters" (composto por finos pedaços de asas de querubins, a glória de
um amanhecer tropical, as nuvens vermelhas do poente e os fragmentos de épicas
histórias de mestres desaparecidos). Devia ter bebido
vários…
Enfim, entre aventuras gastronômicas, um povo amável e a benção dos
incas, Lima vale a pena. Quanto mais não seja para que nós brasileiros
observemos como se leva turismo a sério...
Oswaldo Pereira
Maio 2014
delícia
ResponderExcluirVou mandar o seu texto para o meu cunhado que é peruano. Ele certamente vai gostar !
ResponderExcluirQue maravilha!
ResponderExcluirEm agosto, eu e Luiz Fernando vamos passar uns 4 dias em Lima e vamos, com certeza, desfrutar tanto quanto vocês!
Beijão saudoso, querido!
Gostava de provar o CEVICHE, tem mesmo um aspeto de apetecível.
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