quarta-feira, 7 de maio de 2014

TURISMO A SÉRIO




O aeroporto é grande, espaçoso e eficiente. As indicações são claras, os banheiros limpos e o atendimento gentil. Há várias lojas vendendo de tudo, mas privilegiando a oferta de produtos com forte sabor do folclore da sua terra e sua cultura. Os corredores são amplos e confortáveis. O ambiente tranquilo.

Não estou falando dos grandes aeroportos da Ásia, nem dos imensos airports americanos e nem os das badaladas capitais europeias. Estou falando de um país quase hermano, sul-americano como nós, membro desta nossa família de nações morenas descolonizadas há quase dois séculos, e que não irá sediar uma Copa do Mundo em dias. Aliás, nem vai jogá-la. Estou falando do Peru.

Turismo levado a sério, foi o único título que achei para descrever a sensação que tive ao chegar a Lima. Tudo funcionava como um relógio, sem o menor sobressalto. Uma impressão que se foi confirmando à medida que a programação contratada para visita ao país se desenrolava, evidenciando o cuidado, o profissionalismo e, bem nítido, o orgulho com que guias, motoristas, empregados de hotel e de restaurantes exerciam suas atividades na medida certa, sem bajulações excessivas nem descasos deseducados. A palavra de ordem é receber bem o turista e transformar a indústria do turismo numa prioridade de um País que, a até alguns anos, se viu presa de um cruel confronto com o Sendero Luminoso.



Agora, a sensação é de alívio. A paz reina desde o lago Titicaca até às florestas do Norte, permitindo a retomada de um desenvolvimento organizado e de um concentrado investimento em educação. Nem nos lugares mais pobres de Lima se vêem crianças pedindo nas ruas, evadidas das escolas. Eu as sempre vi, uniformizadas e em bandos organizados por instituições de ensino, nos museus, nos sítios históricos, nos parques. Cenas que adocicam o semblante brumoso e impenetrável da capital. Não chove em Lima. O sopro frio da corrente de Humboldt transforma as gotas d’água em neblina e melancolia e uma cidade que quase repousa na linha do Equador escapa das temperaturas ardentes, mantendo um ameno frescor moderado. Com mais de 9 milhões de habitantes, é uma mega cidade e, claro, tem seu lado pobre derramado por uma enorme periferia. Mas, à medida que se avança para o Pacífico, e longe se vai deixando o ocre e o barro das construções populares, a cenografia muda e desabrocha nos bairros cosmopolitas de Barrancos e San Isidro e no elegante Miraflores.


BALCÕES DE LIMA

















E é aí em Miraflores que outra agradável experiência espera o visitante. A nova cozinha peruana, uma verdadeira cocina de fusión, que soube misturar com expertise as raízes andinas, o celeiro infindável do mar e os mistérios da floresta com as influências das vertentes imigratórias, desde o colonizador espanhol até os requintes da mesa asiática. 

MERCADO DE SAN ISIDRO
MERCADO DE SAN ISIDRO



























CEVICHE

O resultado primordial desta mágica foi o ceviche, atualmente um das comidas mais premiadas do mundo e prato de rigueur em qualquer refeição limenha. Recomendo vivamente comê-lo, assim como outras delícias, no Alfresco, conceituadíssimo restaurante no Malecón Balta, uma comprida rua que vai do Parque Kennedy até a praia. Evidentemente que nada disso é possível sem a companhia de um Pisco Sour, drink tão emblemático do Peru como a caipirinha é do Brasil. O pisco é, na realidade, uma aguardente de uva e, portanto, existe em vários graus de qualidade, dependendo do tipo da uva e do ano da colheita. No restaurante Rosa Náutica, também em Miraflores, recebi uma aula prática de como preparar esta maravilha. Aí vai a (minha) receita:

3 partes de pisco (preferencialmente Mosto Verde)
1 parte de suco de limão
1 parte de jarabe de goma (preparado com 2kg de açúcar em 1 litro de água)
1 clara de ovo
Algumas gotas de bitter angostura

Modo de fazer: colocar os ingrediente (menos a angostura) numa coqueteleira, com cubos de gelo, esperar 8 segundos. Depois, chacoalhar por 12 segundos e coar para um copo pré-gelado. Colocar as gotas de angostura no centro da superfície. Salud!

Rudyard Kipling, o famoso escritor inglês, tarado pelo drink, assim descreveu-o poeticamente:
compounded of the shavings of cherub's wings, the glory of a tropical dawn, the red clouds of sunset and the fragments of lost epics by dead masters" (composto por finos pedaços de asas de querubins, a glória de um amanhecer tropical, as nuvens vermelhas do poente e os fragmentos de épicas histórias de mestres desaparecidos). Devia ter bebido vários…
PISCO SOUR

Enfim, entre aventuras gastronômicas, um povo amável e a benção dos incas, Lima vale a pena. Quanto mais não seja para que nós brasileiros observemos como se leva turismo a sério...


Oswaldo Pereira
Maio 2014



4 comentários:

  1. Vou mandar o seu texto para o meu cunhado que é peruano. Ele certamente vai gostar !

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  2. Que maravilha!
    Em agosto, eu e Luiz Fernando vamos passar uns 4 dias em Lima e vamos, com certeza, desfrutar tanto quanto vocês!
    Beijão saudoso, querido!

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  3. Gostava de provar o CEVICHE, tem mesmo um aspeto de apetecível.

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