WILLIAM WALLACE: "ELES PODEM TIRAR-NOS NOSSAS VIDAS, MAS JAMAIS TIRARÃO NOSSA LIBERDADE" |
Frases. A história está cheia delas. Ditas em
momentos decisivos, por pessoas decisivas, elas fizeram-na. E, ao lê-las e
reverenciá-las, fica-se imaginando que milagre de inspiração, que epifania
dadivosa abençoou o orador que as pronunciou, em momentos em que só um mote, um
dístico, era necessário para salvar um povo, promover uma conquista, difundir
um credo, salvar impérios e construir outros. Há as que demonstram um agudo
senso de oportunidade, de profundo conhecimento dos anseios de uma nação
inteira, do vocábulo chave que levanta uma tradição amortecida, um orgulho
espezinhado, uma esperança acalentada. Existem outras que transformam uma sina
adversa numa luta mítica, a falta de propósitos e de futuro num novo
renascimento. São frases que pavimentam o caminho de grandes conquistas, que
viram o jogo quando a derrota é iminente.
Na Antiguidade Clássica, são muitas. Só a César se
creditam várias. Veni, vidi, vici. Alia
jacta est. Tu quoque, Brutus. Orgulho e denúncia que perpetuaram a saga de
um império que durou mil anos. Trezentos anos antes, nas Termópilas, o
espartano Leônidas teria respondido, quando confrontado com a notícia de que os
persas possuíam tantos arqueiros que suas flechas cobririam o sol – “melhor, combateremos à sombra”...
Todas as religiões as têm. Jacó, Jesus, Buda,
Confúcio, Maomé e muitos outros ícones santos cunharam frases que são repetidas
em mantras durante suas cerimônias
religiosas, difundindo sua fé. Muitas nações celebram em seus símbolos
nacionais frases como um resumo perfeito de sua vocação e sua filosofia como
país. E Pluribus Unum (De Muitos Um, dos Estados Unidos). Ordem e Progresso, bem, este você
sabe...
Ficando, para não alentar muito este post, só nos anos recentes, podemos
identificar alguns grandes frasistas. Quase
uma unanimidade mundial, a Winston
Churchill, primeiro ministro britânico durante a Segunda Grande Guerra, são
creditadas algumas das mais inspiradoras frases do século passado. Quando todos esperavam a rendição das Ilhas após
a contundente derrota da França ante os alemães, ele contrapôs com nada menos
que três exortações ao povo inglês nas quais ele prometia pouco mais que Blood, Sweat and Tears (Sangue, suor e
lágrimas), determinava que We Shall Fight
on the Beaches (Lutaremos nas Praias) e acreditava em This Was Their Finest Hour, na qual descrevia que, centenas de anos
após a vitória inglesa contra o nazismo, as pessoas consagrariam aquele momento
como o mais sublime da Comunidade Britânica.
No desenrolar da Guerra, depois de três anos em que a Inglaterra só
colecionava reveses, a vitória aliada no Norte da África foi uma virada do destino.
Uma coisa de ser celebrada, mas longe ainda da vitória final. E Churchill disse, na ocasião: Now,
this is not the end. It is not even the beginning of the end. But, perhaps, it
is the end of the beginning. (Agora, isto não é o
fim. Não é nem mesmo o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo). Mágico.
Outro da mesma hora foi o presidente americano Franklin D. Roosevelt. Político de
abundante carisma, usava e abusava de um discurso pragmático, bem ao alcance do
americano comum. Antes do ataque japonês a Pearl Harbor, conviveu com um
intenso antagonismo à participação do país na guerra “europeia” e, só usando de
ardilosos expedientes, conseguiu abastecer seu amigo Churchill de equipamentos
bélicos indispensáveis à defesa das Ilhas Britânicas. Quando navios americanos
foram postos a pique em 1942, ele aproveitou o incidente para justificar um
maior envolvimento num magistral discurso em que disse:
We have wished to avoid shooting. But the shooting has
started. And history has recorded who fired the first shot. In the long run,
however, all that will matter is who fired the last shot. (Nós
quisemos evitar o tiroteio. Mas, o tiroteio começou. E a história registrou
quem disparou o primeiro tiro. No longo prazo, entretanto, o que importará será
quem disparou o último tiro). Sem dúvida, uma linguagem western. Mas uma mensagem que todo americano entendeu
perfeitamente...
No Brasil?
“Independência ou morte”. Inspirador, sem dúvida.
Mas, será que D. Pedro disse mesmo isto? Há as incontestáveis, e o nosso
passado guarda muitas. “Sigam-me os que forem brasileiros”, a frase símbolo da
liderança do Duque de Caxias não permite controvérsias. “Brasil, o País do
Futuro”, título de um livro de Stefan
Zweig, transformou-se de esperança em quimera. A última sentença da
carta-testamento de Getúlio, “deixo a vida para entrar na história”, salvou
todo um ideal político e resgatou a imagem de Vargas. O slogan “Cinquenta anos em cinco”, resumo em três palavras do
furacão desenvolvimentista de Juscelino, ganhou uma eleição. Embora copiado dos
americanos, o “Brasil ame-o ou deixe-o” ganhou um inteligente complemento do Jô
Soares (e o último apaga a luz do
aeroporto) e tornou-se uma bandeira nos tempos da ditadura. Até algumas de
má lembrança terminaram por servir de mea
culpa de muitas de nossas mazelas, como o bordão “brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?”.
Hoje temos um deserto de frases. Alguns vão mais
além e denunciam um vazio de ideias, um vácuo de criação, uma sociedade vivendo
no rarefeito ar do desencanto. Nossos “líderes” preferem o discurso rasteiro.
“Nunca antes na História deste país”, repetido ad nauseam por Lula, caiu no ridículo das frases feitas sem
respaldo e sem conteúdo real. E o que acaba restando são a fala monótona e
incompreensível da Dilma e as expressões chulas de nosso ex-presidente. Uma
“babaquice”, sem dúvida...
Oswaldo
Pereira
Maio
2014
Bem plotado. Falar em Churchill: "Success is to go from a failure to another without loss of enthusiasm". A esta altura da vida com isso aí que nos governa, há muita adversidade a enfrentar ainda sem perder o ânimo. A ausência de motes que congregam e a linguagem chula do nosso xurxo, são só um começo do que vem por aí. O que era excêntrico passou a ser central e o umbigo de cada é o centro do universo neste país em que vivemos. Haja entusiasmo!
ResponderExcluirDaria para escrever um livro só com frases que marcarm a historia. Uma frase que tambem ficou para a nossa história é "A peteca nunca cai do lado dos Pereira" do excelente frasista Gabriel Pereira.
ResponderExcluirAbço, Bruno
Aqui vai uma frase de Goethe: " O máximo a que o homem pode chegar é a consciência de mentalidades e pensamentos próprios, o reconhecimento de si mesmo, o que lhe dá a condição para reconhecer intimamente também temperamentos alheios. Há homens que nasceram com essa disposição natural, e que a educam, pela experiência, para objetivos práticos." Daí provém a capacidade de, num sentido elevado, ganhar algo do mundo e da sociedade.
ResponderExcluirAbr., Cleusa.