sábado, 24 de maio de 2014

FRASES


WILLIAM WALLACE: "ELES PODEM TIRAR-NOS NOSSAS VIDAS, MAS JAMAIS TIRARÃO NOSSA LIBERDADE"


Frases. A história está cheia delas. Ditas em momentos decisivos, por pessoas decisivas, elas fizeram-na. E, ao lê-las e reverenciá-las, fica-se imaginando que milagre de inspiração, que epifania dadivosa abençoou o orador que as pronunciou, em momentos em que só um mote, um dístico, era necessário para salvar um povo, promover uma conquista, difundir um credo, salvar impérios e construir outros. Há as que demonstram um agudo senso de oportunidade, de profundo conhecimento dos anseios de uma nação inteira, do vocábulo chave que levanta uma tradição amortecida, um orgulho espezinhado, uma esperança acalentada. Existem outras que transformam uma sina adversa numa luta mítica, a falta de propósitos e de futuro num novo renascimento. São frases que pavimentam o caminho de grandes conquistas, que viram o jogo quando a derrota é iminente.

Na Antiguidade Clássica, são muitas. Só a César se creditam várias. Veni, vidi, vici. Alia jacta est. Tu quoque, Brutus. Orgulho e denúncia que perpetuaram a saga de um império que durou mil anos. Trezentos anos antes, nas Termópilas, o espartano Leônidas teria respondido, quando confrontado com a notícia de que os persas possuíam tantos arqueiros que suas flechas cobririam o sol – “melhor, combateremos à sombra”...

Todas as religiões as têm. Jacó, Jesus, Buda, Confúcio, Maomé e muitos outros ícones santos cunharam frases que são repetidas em mantras durante suas cerimônias religiosas, difundindo sua fé. Muitas nações celebram em seus símbolos nacionais frases como um resumo perfeito de sua vocação e sua filosofia como país. E Pluribus Unum (De Muitos Um, dos Estados Unidos). Ordem e Progresso, bem, este você sabe...

Ficando, para não alentar muito este post, só nos anos recentes, podemos identificar alguns grandes frasistas. Quase uma unanimidade mundial, a Winston Churchill, primeiro ministro britânico durante a Segunda Grande Guerra, são creditadas algumas das mais inspiradoras frases do século passado.  Quando todos esperavam a rendição das Ilhas após a contundente derrota da França ante os alemães, ele contrapôs com nada menos que três exortações ao povo inglês nas quais ele prometia pouco mais que Blood, Sweat and Tears (Sangue, suor e lágrimas), determinava que We Shall Fight on the Beaches (Lutaremos nas Praias) e acreditava em This Was Their Finest Hour, na qual descrevia que, centenas de anos após a vitória inglesa contra o nazismo, as pessoas consagrariam aquele momento como o mais sublime da Comunidade Britânica.  No desenrolar da Guerra, depois de três anos em que a Inglaterra só colecionava reveses, a vitória aliada no Norte da África foi uma virada do destino. Uma coisa de ser celebrada, mas longe ainda da vitória final.  E Churchill disse, na ocasião: Now, this is not the end. It is not even the beginning of the end. But, perhaps, it is the end of the beginning. (Agora, isto não é o fim. Não é nem mesmo o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo). Mágico.

Outro da mesma hora foi o presidente americano Franklin D. Roosevelt. Político de abundante carisma, usava e abusava de um discurso pragmático, bem ao alcance do americano comum. Antes do ataque japonês a Pearl Harbor, conviveu com um intenso antagonismo à participação do país na guerra “europeia” e, só usando de ardilosos expedientes, conseguiu abastecer seu amigo Churchill de equipamentos bélicos indispensáveis à defesa das Ilhas Britânicas. Quando navios americanos foram postos a pique em 1942, ele aproveitou o incidente para justificar um maior envolvimento num magistral discurso em que disse:
We have wished to avoid shooting. But the shooting has started. And history has recorded who fired the first shot. In the long run, however, all that will matter is who fired the last shot. (Nós quisemos evitar o tiroteio. Mas, o tiroteio começou. E a história registrou quem disparou o primeiro tiro. No longo prazo, entretanto, o que importará será quem disparou o último tiro). Sem dúvida, uma linguagem western. Mas uma mensagem que todo americano entendeu perfeitamente...

No Brasil?

“Independência ou morte”. Inspirador, sem dúvida. Mas, será que D. Pedro disse mesmo isto? Há as incontestáveis, e o nosso passado guarda muitas. “Sigam-me os que forem brasileiros”, a frase símbolo da liderança do Duque de Caxias não permite controvérsias. “Brasil, o País do Futuro”, título de um livro de Stefan Zweig, transformou-se de esperança em quimera. A última sentença da carta-testamento de Getúlio, “deixo a vida para entrar na história”, salvou todo um ideal político e resgatou a imagem de Vargas. O slogan “Cinquenta anos em cinco”, resumo em três palavras do furacão desenvolvimentista de Juscelino, ganhou uma eleição. Embora copiado dos americanos, o “Brasil ame-o ou deixe-o” ganhou um inteligente complemento do Jô Soares (e o último apaga a luz do aeroporto) e tornou-se uma bandeira nos tempos da ditadura. Até algumas de má lembrança terminaram por servir de mea culpa de muitas de nossas mazelas, como o bordão “brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?”.

Hoje temos um deserto de frases. Alguns vão mais além e denunciam um vazio de ideias, um vácuo de criação, uma sociedade vivendo no rarefeito ar do desencanto. Nossos “líderes” preferem o discurso rasteiro. “Nunca antes na História deste país”, repetido ad nauseam por Lula, caiu no ridículo das frases feitas sem respaldo e sem conteúdo real. E o que acaba restando são a fala monótona e incompreensível da Dilma e as expressões chulas de nosso ex-presidente. Uma “babaquice”, sem dúvida...


Oswaldo Pereira
Maio 2014










3 comentários:

  1. Bem plotado. Falar em Churchill: "Success is to go from a failure to another without loss of enthusiasm". A esta altura da vida com isso aí que nos governa, há muita adversidade a enfrentar ainda sem perder o ânimo. A ausência de motes que congregam e a linguagem chula do nosso xurxo, são só um começo do que vem por aí. O que era excêntrico passou a ser central e o umbigo de cada é o centro do universo neste país em que vivemos. Haja entusiasmo!

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  2. Daria para escrever um livro só com frases que marcarm a historia. Uma frase que tambem ficou para a nossa história é "A peteca nunca cai do lado dos Pereira" do excelente frasista Gabriel Pereira.
    Abço, Bruno

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  3. Aqui vai uma frase de Goethe: " O máximo a que o homem pode chegar é a consciência de mentalidades e pensamentos próprios, o reconhecimento de si mesmo, o que lhe dá a condição para reconhecer intimamente também temperamentos alheios. Há homens que nasceram com essa disposição natural, e que a educam, pela experiência, para objetivos práticos." Daí provém a capacidade de, num sentido elevado, ganhar algo do mundo e da sociedade.
    Abr., Cleusa.

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