Uma
tela em branco.
Uma
página vazia.
Um
momento sem história, sem luz. Um minuto que passa sem propósito, sem adicionar
nada. Perdido, apenas, no vácuo do tempo. Sessenta segundos que se esvaem sem
um ruido, sem um bater de asas, um arrepio de brisa. Mas, neste mesmo intervalo
de eternidade, do outro lado do mundo quantas corações deixaram de bater,
quantos bebês viram a luz do dia pela primeira vez, quantas mães choraram,
quantas riram.
Um
minuto que a mim nada disse, nada trouxe, nada levou. E, a outros, deu o acorde
que faltava para uma sinfonia, a palavra de amor tão procurada, o ás que fechou
o straight flush; a outros mais, o
adeus derradeiro, o rosto que se perdeu na rua de um horizonte que não voltará
mais, o último sorriso, a lágrima final.
Um
minuto que foi nada e foi tudo. Foi igual e diferente, banal e decisivo, um
piscar de olhos e uma vida. No minuto em que eu nasci, alguém apenas acendeu um
cigarro, olhou para o poente, suspirou no tédio de uma tarde vazia.
Somos
colecionadores de minutos desiguais, cada um guardando marcas desencontradas
nos escaninhos de nossas memórias em compassos trocados, feridas e bálsamos em
ritmos alternados. Enquanto eu apenas flutuo no nada, alguém algures encontra
sua órbita e seu destino. Na hora em que eu viro uma esquina crucial, você
simplesmente poderá estar contemplando o futuro.
Somos
ilhas. John Donne disse que não, mas eu discordo. Todos nós temos nossas praias
cativas, florestas de nossa individualidade, montanhas e lagoas que só nós
sabemos como, quando e porque se formaram. Mesmo se, às vezes, temos vocação
para arquipélagos. Estendemos pontes, enviamos barcos. Abrimos nossos portos,
franqueamos nosso cais. Mas, o tesouro enterrado onde guardamos nossos minutos
permanecerá num lugar não assinalado, conhecido apenas e para sempre só por
nós, na geografia pessoal de nossas trilhas e atalhos. Até...
Até
que encontramos um dia o amor verdadeiro. Aquele certo, predestinado,
obstinado. Aquele por que o mar ao nosso redor queda chão e dócil. Aquele por
que nos transformamos em penínsulas, em istmos, em continentes. Aquele por que
desenhamos o mapa que mostra onde está o baú dos nossos sonhos e o entregamos
no delírio de uma noite morna e estrelada.
Assim,
e só assim, deixamos de ser ilhas. Acertamos nossos relógios e nossos minutos
numa hora comum, num tempo uníssono, numa cadência paralela.
Durará
uma vida ou um verão. Ninguém sabe. Mas, poucos ou muitos, serão os minutos
dourados, aqueles compartilhados, na cama ou no facebook, na praia comum de
nossas terras unidas, no céu de um mesmo hemisfério.
E,
se um dia voltarmos a ser ilhas, que entesouremos esses minutos com carinho e
os enterremos onde nós, só nós, saibamos onde...
Oswaldo
Pereira
Julho
2013
Cada um tem sim e cada um sente e vive o seu minuto.
ResponderExcluirBela crônica.
Abraço,
Cleusa.
ADOREI sua crônica ! E ai eu penso : ninguém é dono de ninguém e tem uma coisa que se você quiser ninguém, ninguém mesmo pode compartilhar : o seu PENSAMENTO !!!
ResponderExcluirE tão bom sabermos que ele é nosso, SOMENTE nosso e de mais ninguém, mesmo que você pense em alguém ...
O nosso pensamento é nossa ilha, bem protegida !
Fi²
Oi Oswaldo
ResponderExcluirVocê está certo. O amor é a ponte par o outro. Amar significa partilhar.
Grande abraço.
Zé Correa