Seu
nome erudito é pollicipes pollicipes. Isto
mesmo, com repetição e tudo. No mundo gastronômico, seu apelido é ainda mais
nobre – o Rei dos Mariscos. Um quilo de sua espécie chega a custar acima de 100
euros num bom restaurante. No cotidiano, esta iguaria chama-se percebe
(ou perceve nos lugares de língua espanhola) e é reverenciada pelos
gourmets de todo o mundo.
Sua
aparência... Bem, quem o vê pela primeira vez estranha. Seu aspeto grotesco,
composto de uma unha multifacetada
que serve de base a um tubo flexível e escamado fez com que as más línguas
menosprezassem sua denominação real e o alcunhassem de pés de porco. Se você estiver travando conhecimento com eles numa
mesa, só com algum incentivo se disporá a saboreá-los.
E
é bom que o faça. E quando o fizer, destacando delicadamente o tubinho da unha (que não se come),
o bastante para que ele possa ser retirado revelando o seu miolo, ainda agarrado à base, e o levar à boca, agradecerá ao deus
dos oceanos. Nesse momento, todos os mistérios do mar, seus perfumes, seu sal e
suas histórias se diluirão no palato e você pensará com profundo respeito nos
valentes indivíduos que os apanham.
É
uma profissão de risco. Todos os anos, cinco em cada oitocentos perceveiros (que é o nome dado a estes
arrojados pescadores) morrem nas escarpas e nas falésias que vão desde a costa
marroquina até a França. O percebe é uma bicho da rocha, ou de cascos de navios
encalhados ou submersos, em que se aferra com seu pedúnculo, ou tubo, e de onde
só pode ser extraído com extrema habilidade. Para isso, os perceveiros se
esgueiram por escorregadios precipícios de pedra, com as ondas revoltas
castigando seus corpos, como a quererem, por sua vez, arrebatá-los das encostas
e atirá-los às águas movimentadas onde o marisco hermafrodita se reproduz e se
alimenta. Ao final de horas de dura labuta, o pescador, com um saco de muitos
quilos às costas, tem de escalar de volta a parede rochosa. Duro, difícil. Daí
o preço, salgado como próprio petisco.
A
pesca, ou a apanha, do percebe vem crescendo em todo o nordeste do Atlântico,
na medida que a demanda sobe. Como contrapartida, sua população vem declinando,
até porque não há um efetivo sistema de proteção que o defenda da colheita
predatória. Maus presságios para quem o aprecia.
Então,
se você está pela Península Ibérica ou costuma visitar o sudoeste francês,
aproveite. Procure uma marisqueira, uma janela para o mar, uma garrafa de um
branco mais para o seco e delicie-se. Ou ainda, se pratica artes culinárias,
tente a simples receita abaixo, que recolhi de um site português.
Confecção
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Os
percebes cozem-se em água temperada com sal, durante cerca de 15 minutos e
servem-se frios.
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Lavam-se
muito bem em água salgada e cozem-se num caldo temperado de sal, piripiri e
louro, cerca de 2 a 3 minutos. Escorrem-se bem. Podem também ser cozidos em
vinho branco, com cebola, alho e salsa picadinha.
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A
melhor maneira de confeccionar os percebes, é cozê-los na própria água do
mar, sem qualquer tempero. Após a água levantar fervura, introduzem-se os
percebes, e espera-se que a água volte a levantar fervura. A partir deste
momento, os percebes ficam prontos após 5 minutos dentro da água em ebulição.
Caso não se consiga arranjar água do mar, deve ser adicionado sal à agua da
torneira, numa quantidade semelhante à que teria a água do mar. Mais uma vez,
após 5 minutos da água ter entrado novamente em ebulição, os percebes estão
prontos.
Bom apetite!
Oswaldo
Pereira
Julho
2013
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Percebes, ostras (les portugaises) e santola, fêmea, cheia e de preferência em Abril, Maio, ex aequo no 1º lugar do podium.
ResponderExcluirAgora cozinhar percebes, valhas-nos Santa Maria Madalena, em agua do mar e comidinhos mornos.
Alvarinho Soalheiro Primeiras Vinhas, mesmo o de 2012 a 8ºC e muito....a acompanhar!
E, para completar após a comida, um cálice de Highland Park e um Private Stock no. 1, magnífico "puro" da Davidoff...
ExcluirE olha que eu ADORO frutos do mar. Meu prato favorito, mas nunca comi esse "poucepied" na FR. Nunca ouvi falar aqui em Paris ... acho que ele deve fazer mesmo MUITO sucesso é em Portugal. Vou la para provar, se necessario ...
ResponderExcluirFoi muito bom saber sobre os percebes ...
So para completar :
Le Pouce-pied (ou poucepied) de l’Atlantique-est (Pollicipes pollicipes) est un crustacé cirripède marin à pédoncule charnu et court, qui vit fixé aux rochers battus par les vagues. Son aire de répartition se limite à la zone intertidale le long de la côte atlantique de l’Europe et de l’Afrique du Nord. Parfois également appelé à tort « anatife », il est alors confondu avec les véritables anatifes qui appartiennent au genre Lepas et vivent fixés à des objets flottants.
Comestible, il a longtemps été une source de nourriture pour les habitants des côtes. Depuis de nombreuses années, une forte demande existe pour cette ressource en Espagne et au Portugal où il est particulièrement prisé.
Il a fait l’objet d’une pêche intensive qui a conduit à une surexploitation et à un fort déclin de ses populations dans plusieurs régions. La faible productivité de l'espèce, liée à une croissance lente et à une possibilité d'implantation réduite en raison d'exigences écologiques fortes, en fait une ressource peu abondante et fragile à l’exploitation.