terça-feira, 9 de julho de 2013

DESTINOS CERTOS: AÇORES


 
 
 
 
 
Touros, vulcões, baleias e ananases.  Tudo isto, muito mais e o mar. Profundo, eterno e infinito.

Assim são os Açores, nove ilhas que foram surgindo das águas desde o Terciário até 250.000 anos atrás, o que, em termos geológicos, é ontem. E ali ficaram, banhadas pelo azul do Atlântico Norte, esfriando suas rochas negras, esperando serem encontradas por algum marinheiro valente e sedento de aventuras. Dizem que os cartagineses toparam com elas, no século VI antes de Cristo e que, em mapas do século XIV, registrava-se sua presença. Mas o que a História confirma é a chegada dos portugueses, com Gonçalo Velho Cabral à frente, em 1431. Eram os primeiros passos da fantástica epopeia que foram os Descobrimentos. 

Situadas quase meio do caminho entre a Europa e a América, o arquipélago logo foi entendido como uma providencial etapa de reabastecimento para as naus que demandavam a volta ao mundo e um reduto militar de proteção aos comboios marítimos que traziam os frutos da colonização e do comércio de além-mar.  Duas funções que cumprem ainda hoje, como porto de abrigo para velejadores de todas as nacionalidades e lugar da base aérea americana das Lajes, cujo valor estratégico continua inquestionável. Além de uma culinária surpreendente, deslumbrantes paisagens, um clima ameno, águas temperadas pela corrente do Golfo, e um povo que tudo faz para agradar.

 

 TERCEIRA

Touradas e festas. A vocação da ilha Terceira fica evidente logo na entrada de sua capital. A monumental escultura na primeira rotunda de Angra do Heroísmo não deixa dúvidas: esta é uma terra de toiros. Entre corridas na praça e largadas nas ruas, são mais de 400 por ano. Se gosta da adrenalina, junte-se aos destemidos que esperam os bichos ao aberto e lembre-se que a corda que os segura nem sempre é curta o suficiente...

Depois, coma o prato típico. Carne de boi, claro. Atende pelo nome de alcatra regional, mas nada tem a ver com um bife. O lugar para isso é no Chico, onde a vitela vai sendo cozida com carinho num alguidar de barro até vir para a mesa e desmanchar na boca. O que sobra no final é um ossobucco da melhor qualidade. Dos deuses.


Se chegar à Terceira no final no mês de junho, vai encontrar a ilha em festa. No resto do arquipélago, ironizam que isto acontece em qualquer época do ano... Mas as Sanjoaninas são especiais. Há despiques de filarmônicas, danças regionais, fogos de artifício, desfiles de carros alegóricos, tendinhas que vendem de tudo. Permeando  a festa, uma forte tradição tauromáquica.

E suba o Monte Brasil, que domina a enseada. Aí, algo para pensar. O nome foi dado ao morro muitos anos antes de os portugueses chegarem à Bahia e nada tem a ver com o nosso pau-brasil. Vem de brashil, uma palavra celta que quer dizer ilha grande. Em cartas náuticas quatrocentistas, a Terceira assim aparece. Quem sabe foi a terra que deu nome à árvore, e não o contrário?

Mais coisas para ver, como o Algar do Carvão, uma chaminé que entra pela terra até uma caverna de pedras coloridas e um lago cristalino, e mais lugares carregados de história para conhecer, como a praia onde o nosso D. Pedro I derrotou as tropas do irmão, em seu retorno a Portugal.

 

 
FAIAL















Aportar, deixar o registro de sua passagem pintado nas paredes do porto e tomar um gin tonic no Peter Café Sport. A lenda estabelece esses requisitos como essenciais para se ter sorte no mar e velejadores dos sete mares obedecem. Assim é desde o século dezenove e os milhares de barcos ancorados na marina da Horta confirmam.

GIN TONIC DO PETER
 
 
 
 
CALDEIRA
Para o interior, o passado (e o presente) vulcânico do Faial marcam a paisagem. O basalto negro é onipresente, nas casas, nos muros, nas calçadas. E nas caldeiras, algumas extintas, inundadas pela água da chuva e outras nem tanto, como no Vulcão dos Capelinhos, que expeliu lava e fumaça durante um ano inteiro a partir de setembro de 1957 e aumentou a ilha em um terço de seu tamanho. Uma paisagem lunar que, a todo momento, lembra a posição do arquipélago, equilibrando-se em cima do encontro das placas tectônicas americana, euro-asiática e africana.  Não é à toa que os antigos açoreanos chamavam seus sítios vulcânicos de mistérios.

Mas procure não pensar nisto enquanto estiver admirando a espetacular vista do miradouro da Espalamanca e visitando a maior coleção mundial de scrimshaw, que é a delicada arte de gravar desenhos em ossos de baleia, e que, pour cause, fica no segundo andar do Bar do Peter.

 
MONTANHA DO PICO

PICO

O Pico é a montanha mais alta de Portugal, uma pirâmide vulcânica de mais de 2.300 metros de altitude. Em volta dela, uma surpreendente ilha, recoberta com extensões de vinhas quase rasteiras, cultivadas em autênticos currais de pedra basáltica, que produzem um vinho branco claro e potente.

Durante mais de um século, foi também terra mítica de baleeiros.  No auge da caça a baleia, entre meados do século XIX  até a metade do século XX, grande parte dos homens do Pico participava da atividade. Eram agricultores, comerciantes, pedreiros que, ao ouvir o espocar do foguete lançado pelo vigia, largavam o que tinham para fazer e partiam para os botes. Basta olhar para um deles no Museu do Baleeiro em Lajes do Pico para imaginar o que era isso - uma embarcação com menos de dez metros de comprido por um na parte mais larga, com uma vela e sete remadores. Encarapitado na proa, ia o arpoador e sua tosca lança de madeira e ponta de ferro. Para atingir o alvo, tinham de chegar a metros dos cachalotes, alguns com o dobro do tamanho do barco. Coisa para macho. O risco pode ser medido pelo monumento em homenagem aos mais de trezentos baleeiros mortos e à proibição que se fazia na época de membros de uma mesma família entrarem na mesma canoa.
 
 

 
LAGOA DAS SETE CIDADES
SÃO MIGUEL

Em vários pontos da ilha, as pedras fumegam, a água ferve, a terra exala enxofre. São os respiradouros pelos quais os gases do mar de lava a 1.500 metros abaixo do solo escapam. Tipo panela de pressão. Alguém falou em inferno? De maneira nenhuma. O calor que vem das profundezas propicia uma maravilhosa experiência culinária, que é o cozido feito em panelas enterradas no chão. Um must gustativo.


APANHA DO COZIDO
ANANÁS DE SÃO MIGUEL
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Depois de bem atendidos os reclames do estômago, que ainda oferecem iguarias como lapas grelhadas, os famosos queijos fortes e picantes e os ananases de fama internacional, dedique alguns dias à ilha. É a maior de todas, com quase 750 quilômetros quadrados, miradouros deslumbrantes, paisagens inacreditáveis, hortênsias em profusão e muito para ver e fazer.  Sete Cidades, São Tiago, Fogo e Furnas são agora lagoas onde antes eram crateras. Suas águas, ora azuis, ora verdes, repousam dentro dos cones vulcânicos com a placidez de um desejo satisfeito e a promessa de uma natureza em paz.  

LAGOA DE SÃO TIAGO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAGOA DO FOGO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARQUE TERRA NOSTRA
 
 
 
 
 
 
 
Ah, sim. Dê uma volta de charrete pela parte histórica de Ponta Delgada e descubra se a estátua plantada na frente das Portas da Cidade é mesmo do frei Gonçalo Velho, descobridor das ilhas, ou, como contam as más línguas, foi trocada por engano, no atelier em Lisboa, pela do navegador Diogo Cão, que nunca esteve nos Açores, e que deveria ter sido enviada para Angola.

Isto, é claro, não tem a menor importância diante da beleza incontestável dessas fantásticas ilhas.

 

Oswaldo Pereira

Julho 2013

 

 

 

2 comentários:

  1. As referencias ao fogo, às aguas, ao idioma celtico, ao destino certo, ao mar em torno de ¨tudo¨, ao nome do Brasil, ao solo que produz uvas para um claro forte... nolssa fui longe hoje. !!! Bjo Oswaldo, mto bom. claudia

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  2. Bom trabalho. Quanto à presença dos " Fenícios/Cartagineses, em ilhas nas ilhas das costas africanas do Oceano Atlântico estão mais que provado por vestígios arqueológico.Por ali andaram à procura do molusco murex, tirado das rochas marítimas, para tingir os tecidos. Tinham entrepostos comerciais/ feitorias ali perto, e.x. Gades ou Cádiz, Mogador , Lixus, etc. Quanto aos portugueses que aprenderam as técnicas de navegação a remo e à vela com este extraordinário povo, originário das Terras de Canaã e ilhas a Norte da Ilha de Creta - República Hélade descobrirem as referidas ilha , Madeira, Cabo Verde é muito duvidosa a história, quando muito, foram conquistas a outros povos pré - históricos , e g. Guanches ; povos da cultura Ariana / Iraniana , Indiana ; Ibéros da Iberia Oriental que, pelo menos antes do ano 1.000 a.C navegaram pelo Mar Mediterrâneo e depois costas atlânticas do Sul e Norte, Poente.

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