É
difícil escrever sobre um símbolo. Tudo o que eu poderia dizer sobre Pelé, aqui
neste acanhado blog, já foi dito, vezes e vezes sem conta. Foi, e será
sempre, o brasileiro mais conhecido em todo o mundo e por todas as gentes.
Perdi a conta de lugares que visitei, mesmo nas mais recônditas vilas do
Camboja, em aldeias portuguesas, vales da Irlanda, estradas da Índia, bares do
Canadá, ruas da Rússia, nos quais, toda vez que eu declarava que vinha do
Brasil, recebia como resposta: Pelé, dito reverencialmente com um brilho
nos olhos e o polegar para cima. Na maioria das ocasiões, era tudo o que sabiam
sobre o Brasil. E era suficiente.
A única coisa que posso oferecer como homenagem são as imagens dos momentos em que eu tive a fortuna de presenciar, ao vivo e em pessoa, acontecimentos extraordinários de arte desportiva protagonizados por Pelé. Copiando Gonçalves Dias, eu posso proclamar, alto e bom som e com profundo orgulho: meninos, eu vi.
.em 1958, a seleção brasileira titular tinha na meia esquerda (para os novos, era a posição do camisa 10) Dida, jogador do Flamengo que eu, como fervoroso rubro-negro, achava indiscutível. Nos dois primeiros jogos da Copa da Suécia, ainda foi assim. Mas, no terceiro, contra a poderosa União Soviética, a história de um gênio começou a ser escrita. Pelé, chamado então de a novidade por Geraldo Romualdo da Silva, o maior locutor esportivo da época, entrou no time. E o mundo do futebol encontrou o seu Rei;
.Maracanã, 17 de setembro de 1959. Taça Bernardo O’Higgins. Na goleada de 7 a 0 contra o Chile, Pelé faz três gols. Até aí, normal. Mas, já ao final do jogo, ele pega a bola na intermediária brasileira e sai driblando, um após outro, os atordoados chilenos. Prossegue até a grande área adversária. E depois volta, repetindo a dose. Eu e as 120.000 pessoas no estádio, de pé, aplaudimos por mais de um minuto. Magia pura;
.Maracanã, 5 de março de 1961. Torneio Rio-São Paulo. O Santos enfrenta o Fluminense, a melhor defesa da competição. Final do primeiro tempo. Pelé toma a bola ainda na defesa, avança, dribla seis jogadores tricolores e, na saída do excelente goleiro Castilho, marca o mais belo gol que o estádio, e eu, havíamos já visto. Joelmir Betting, ao tempo cronista do jornal O Esporte dá a ideia e uma placa de bronze eterniza o momento. Gol de Placa vai servir para apelidar todos os gols feitos com arte daí para a frente;
.Maracanã, 18 de julho de 1971. Jogo do Brasil contra a Iugoslávia. Ao fim do primeiro tempo, Pelé se despede da seleção brasileira com uma volta olímpica. A emoção toma conta de todos nós. Afinal, não é todo dia que se assiste ao fim de uma era.
A ocasião, entretanto, que mais vive na minha memória foi meu encontro pessoal com o Rei. Quando a seleção voltou vitoriosa do Chile, em 1962, uma recepção foi organizada no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Por obra e arte de um grande amigo, que, por sua vez, tinha um amigo do amigo do amigo de um funcionário do palácio, consegui penetrar na solenidade. E estava mesmo na porta do salão nobre quando os jogadores chegaram. Não sei que fada benfazeja fez com que a primeira pessoa que Pelé visse ao entrar fosse eu. E me deu um grande abraço.
Há outros relatos que me foram prometidos por um fraterno amigo, que prometo repassar assim que me forem enviados. Pelé é grande demais para uma só crônica.
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2022
Que delicia de relato!!!
ResponderExcluirMuito obrigado
ExcluirVocê disse tudo, amigo. E foi tocante para mim, companheira dessa época!
ResponderExcluirUma época inesquecível.
ExcluirSua narrativa tv seja melhor q um filme. Temos a vantagem de poder ver, imaginando até a música q subiu da plateia. Bravooooo !
ResponderExcluirObrigadíssimo.
ExcluirLindo demais. Realmente Pelé merece mais do que uma crônica. A única vez que o vi jogar "ao vivo" foi em 19/11/69, quando ele fez seu milésimo gol. O jogo foi no Maracanã, Santos x Vasco. Valeu ter ido, mesmo o gol sendo de pênalti... Beijão
ResponderExcluirUm momento para sempre...
ExcluirSandra Barroca
ResponderExcluirLinda e Precisa homenagem, talvez o que vai aparecer na Mídia em geral não será tão genuino como o seu relato.
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado.
ExcluirZeze
ResponderExcluirAquela camisa que você estava usando quando abraçou o Pelé em 1962 deveria ter sido emoldurada. Não conhecia essa historia.
ResponderExcluirPodia até ter feito isso. As camisas antigamente duravam muito.
Excluir.
Olá Oswaldo
ResponderExcluirRelato de você e o rei Pelé e justo para ser relembrado sempre.
Eu quando cheguei da Bolívia por primeira vez., vi o Pelé no Maracanã. Escolhi o Santos para torcer. Depois fique sabendo que o time era de São Paulo.
Minha escolha recaiu no Fluminense.
ABS.
Emilio Gonzalo
Pena que ele não jogou no Flamengo...
Excluirvi o jogo no Maracana Santos X Penarol com meu pai que foi me buscatr na faculdade de Economia da antigo UEG (hoje UERJ) efiquei maravilhado
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