A
Grande Guerra acabara há dez anos. Os lacerantes efeitos da maior carnificina
que o mundo vira até então ainda feriam os sentidos e a alma dos povos europeus,
cuja juventude havia sido ceifada pela metralha e pelo gás de um conflito de
inimaginável virulência.
A Alemanha perdera. O império austro-húngaro desmoronara. Nos escombros de um continente ainda tentando digerir os efeitos da catástrofe, o escritor Erich Maria Remarque, que lutara e fora ferido no front ocidental, escreveu Im Westen Nichts Neues (No Ocidente Nada de Novo). Publicado em 1929, e baseado nas experiências do próprio Remarque no inferno das trincheiras, a obra é um libelo contra as guerras, contra a insensatez de se opor jovens iludidos por ideologias que não foram por eles criadas e que não as entendem, manipulados por generais protegidos por sua hierarquia, pavoneando seus sonhos de glória longe do fragor e do morticínio.
Instantaneamente, o livro virou um best seller. E, em 1930, foi levado para as telas pela Universal Studios, sob a direção de Lewis Milestone. O filme acabou por ser pioneiro em várias categorias: foi o primeiro baseado em uma obra literária a ganhar um Oscar e o primeiro filme de guerra da era sonora do cinema. Hoje, faz parte da lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos.
Em 1979, uma nova versão para a TV, com o mesmo título de All Quiet on the Western Front (aqui no Brasil, Sem Novidades no Front), foi produzida. Embora procurando manter a mensagem antibélica do original, essa refilmagem, que contava com Ernest Borgnine e Richard Thomas nos papéis principais, não trouxe a mesma pegada e a força cênica do filme de 1930.
Agora, a Netflix traz mais uma roupagem do livro de Remarque. Desta vez, com roteiros, atores, direção e produção alemães. Realizado por Edward Berger e com o conhecido Daniel Brühl no elenco, esta nova leitura do clássico concentra-se quase que exclusivamente nos horrores das casamatas e nas atrocidades de uma guerra insana. Utilizando-se do estado da arte da moderna cinematografia, o filme é um exercício intensamente gráfico da carnificina da Grande Guerra. Talvez por se preocupar mais com o aspecto da crueldade e do sofrimento humanos nas suas duas horas e meia de projeção, Im Westen Nichts Neues abandona o lirismo, a perspectiva e a transmissão da mensagem, tanto do livro como da sua primeira versão para o cinema.
E, no quesito Primeira Guerra, há outros exemplos mais substanciosos, como o recente 1917 e, indo mais para trás, o excelente Paths of Glory (Glória Feita de Sangue).
Eu, que li a obra de Remarque e vi as três produções, ainda prefiro a obra prima de 1930, mesmo em preto e branco e com os rudimentares recursos do incipiente cinema falado de então.
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2022
Eu gostei muito dessa última versão, não me lembro de ter visto a de 30. Fiquei especialmente impressionada com o final do filme, trágico e denunciador das decisões de generais em seus higiênicos gabinetes, em detrimento das "buchas de canhão" que eles transformam os soldados da linha de frente.
ResponderExcluirÉ a história recorrente de todas as guerras modernas. Na Antiguidade, os generais iam à frente; Júlio César, inclusive, usava um manto vermelho para distingui-lo no campo de batalha e inspirar suas tropas. Atualmente, esse comportamento já pode ser observado em oficias superiores, que se posicionam mais perto da frente de batalha (MacArthur e Patton foram exemplos disso na Segunda Guerra.
ExcluirOswaldo, esse comentário "anônimo" é meu, Ana Flores. Me enganei na hora de publicar. Sorry.
ResponderExcluirMeu pai viu as duas versões a de 30 e a de 79. Falou-me detalhadamente da guerra e do cinema. Eu ouvi td e nunca me esqueci. Lembro muito claramente que mto silenciosamente pensei: coisas de homens.
ResponderExcluirSem dúvida! As mulheres são mais racionais...
ExcluirAgora, a Netflix traz mais uma roupagem do livro de Remarque.
ResponderExcluirE qual o nome do filme aqui no Brasil na Netflix?
Zezé