Como já devo ter escrito algures aqui neste modesto blog, sou fã de carteirinha de George R. R. Martin. Para os menos interessados no tema, Martin é o autor da famosa saga literária A Song of Ice and Fire, obra que deu origem a uma das mais exitosas séries televisivas de todos os tempos – Game of Thrones (A Guerra dos Tronos).
A instigante prosa de Martin, inspirada por uma imaginação e uma criatividade que beiram o extraordinário, fez com que eu, e talvez milhões de outros leitores encantados, atravessassem com permanente interesse os cinco alentados volumes que compõem a coleção. São vários os atributos desse magnífico trabalho de ficção, entre os quais, e não só, o cuidadoso desenho dos personagens, o ritmo rápido e incessante do drama, a pintura dos cenários e o impressionante detalhismo da trama histórica e do mundo imaginário criado pelo escritor.
Para dar uma dimensão do cuidado quase obsessivo de Martin com os pormenores para trazer o mais perto possível da realidade seu ambiente ficcional, ao final de cada um dos livros mais de cinquenta páginas eram dedicadas a elencar todos os componentes dos clãs que povoavam o seu universo, mesmo aqueles que jamais apareceriam em cena; além, é claro, dos elaborados mapas ilustrativos dos continentes imaginados por Martin.
Talvez esta obsessão, somada ao imenso sucesso de Game of Thrones, tenha levado o autor a prosseguir com a trama, desta vez para trás, para os acontecimentos ocorridos centenas de anos antes do aparecimento dos personagens de A Guerra dos Tronos. O resultado foi a obra Fire & Blood (Fogo & Sangue), um “tijolo” de mais de 800 páginas. Como juramentado admirador do “mago” Martin, este modesto escriba aceitou o desafio de lê-lo.
Começando com a tomada de poder pelos Targaryan e a consolidação de sua hegemonia como soberanos dos Sete Reinos, o relato permeia três séculos, até encostar no presente da série anterior. Talvez por isso mesmo, nota-se um certo abatimento do ritmo frenético dos livros iniciais. A prosa é mais narrativa, como convém a um relato eminentemente histórico e quase didático, mas que amortece em certa medida o fulgor candente dos cinco volumes precedentes. Resumindo, é preciso ter a fé inabalável dos iniciados para completar a leitura.
Como não podia deixar de ser, a HBO está levando Fire & Blood para a telinha, e a primeira temporada foi lançada recentemente, em agosto passado. Com o nome de House of The Dragon (A Casa do Dragão), a experiência, como o livro que a inspirou, é uma versão mais abrandada de A Guerra dos Tronos. A trama centra-se na disputa entre dois filhos do Rei Viserys Targaryan, Rhaenyra e Aegon II, pela posse do Trono de Ferro, ocorrida mais de duzentos anos antes do tempo de Robert Baratheon, Jaime Lannister, Ned Stark e companhia.
Não há a menor dúvida de que se trata de uma produção esmerada, com cenários grandiosos, linda trilha sonora e efeitos especiais empolgantes. Há também interpretações magníficas, especialmente a do ator inglês Paddy Considine no papel de Viserys. O problema é o efeito comparativo, quando se tenta equipara-la a Game of Thrones. A ação é focada apenas em um aspecto do drama, e não multifacetada e enriquecida por diversos acontecimentos paralelos, como na série anterior.
E, para mim, a troca dos intérpretes de alguns dos personagens centrais no meio da temporada, para tentar espelhar o seu envelhecimento, foi desastrosa. Primeiro porque o hiato de tempo não era tão grande que um bom trabalho da equipe de maquilhagem não resolvesse; depois, porque outros atores foram mantidos, com a mesma fisionomia, confundindo o espectador e ferindo a autenticidade visual da produção.
De qualquer maneira, o sucesso foi estrondoso, contabilizando, na semana de lançamento, mais de dez milhões de espectadores. Evidentemente, uma segunda temporada já está em andamento.
Oswaldo
Pereira
Esses detalhes cênicos imprecisos, de fato incomodam o espectador atento e exigente. Vc evidentemente jamais deixaria escapar.rs
ResponderExcluirRsrsrs...
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