sexta-feira, 4 de novembro de 2022

VIOLETA

 


Nascemos com certas cartas, e com elas jogamos nosso jogo; alguns recebem cartas ruins e perdem tudo, mas outros jogam magistralmente com essas mesmas cartas e triunfam. O baralho define quem somos: idade, gênero, raça, família, nacionalidade, etc., e não podemos mudar essas coisas, só podemos usá-las o melhor possível. Nesse jogo há obstáculos e oportunidades, estratégias e ciladas.

Esta é uma das inspiradoras imagens criadas por Isabel Allende em seu mais recente livro Violeta. São muitas, e elas constroem um rico mosaico de sensações, descobertas, desafios e confissões que preenchem os 100 anos de vida de uma mulher. A personagem central é fictícia, mas o cenário de fundo conta a história do Chile no período entre 1920 e 2020.

A vida de Violeta vai de uma pandemia, a gripe espanhola, a outra, o COVID. Nesse intervalo, o país passa por uma larga transformação, atravessando tragédias naturais, movimentações sociais e sobressaltos políticos que interferem e moldam a trajetória de uma pessoa sempre atenta ao que se passa, enquanto constrói sua família, enfrenta seus conflitos e vive suas paixões.

Sempre centrada no cotidiano de Violeta (o livro é escrito na primeira pessoa, como se fosse um legado escrito da personagem principal), a narrativa é intimista e parte de dentro para fora, o que a torna reveladora e cativante. Igualmente instigantes e magistralmente construídos são os outros atores desse belo drama, homens e mulheres que acompanham (e às vezes traçam) o caminho centenário de Violeta.

A autora, filha de um primo de Salvador Allende, presidente do Chile entre 1970 e 1973, é uma das mais reverenciadas escritoras latino-americanas. A Casa dos Espíritos, seu primeiro romance, foi um grande sucesso literário. Seguiram-se mais de 20 livros, muitos dedicados ao período da deposição de Allende e da ditadura militar que depois se instalou. Violeta mantém a qualidade das obras anteriores e, com suas belas imagens e preciosos momentos, é um prazeroso exercício de leitura.

Oswaldo Pereira
Novembro 2022

 

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