segunda-feira, 31 de outubro de 2022

DUAS ARENAS

 


Esperando a poeira baixar, enquanto ouço e vejo as explosões de alegria dos apoiadores de Lula e o desespero e a tristeza dos seguidores de Bolsonaro. E, aos poucos, à medida que a névoa da batalha se dissipa e eu me recupero da ressaca de uma esperança contrariada, tento enxergar além deste cenário imediato do pós-pleito.

Para mim, o que tivemos foram duas eleições, duas arenas em que se delineou o que o Brasil realmente quer. Na arena mais ampla, aquela que define o panorama político que vai comandar o Parlamento e a administração dos Estados brasileiros, houve a demonstração de uma clara e indiscutível preferência dos eleitores pela direita conservadora ou, pelo menos, pela fatia que se identificou com o Governo Bolsonaro. Praticamente, todos os seus ex-ministros se elegeram, todos os que tiveram seu incisivo apoio durante a campanha foram, com larga margem, premiados pelas urnas.  Houve uma significativa renovação, tanto na Câmara Federal como no Senado e, na maioria dos Estados mais importantes da União, os candidatos alinhados com o atual Presidente venceram.

Sem medo de errar, podemos dizer que a direita foi a grande vencedora. E isto quer dizer muita coisa. Quer dizer, por exemplo, que muitas das pautas da preferência petista encontrarão uma imensa dificuldade de passar no Congresso. Quer dizer que as casas legislativas estarão prontas a instalar CPI’s à menor indicação de atos irregulares do Governo Lula. E quer dizer também que o próprio STF terá agora pela frente um Senado hostil. Só para brincar de cenário, imaginem se, por exemplo, Sergio Moro for eleito Presidente da casa. Quantos pedidos de impeachment de Alexandre Moraes et caterva vão ser exumados de debaixo do tapete onde Rodrigo Pacheco os colocou?

Mas, tivemos uma outra arena. Uma arena de dois contendores, disputando um round de rejeições. A apertadíssima vitória de Lula nesse ringue dá a dimensão de quão acirradas e diametralmente opostas são as paixões e as preferências pessoais. Deve-se notar, também, que, mesmo apanhando da mídia todos os dias durante os quatro anos de seu mandato, enxovalhado pela classe artística e influenciadores de plantão, e alfinetado constantemente por uma Justiça partidarizada, Bolsonaro quase derrotou Lula.

Disto tudo, percebe-se que Lula terá dificuldade para governar. O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 2002, de 2006, e mesmo de 2010, quando Dilma ganhou as eleições. Para já, há um modo novo de divulgação e propagação de ideias e notícias e, não há dúvidas, é um fator que pode desestabilizar o ambiente político. Além disso, Lula estará muito só no mandato que ele iniciará em primeiro de janeiro de 2023. A esquerda está sem lideranças. Haddad, Boulos, Freixo e muitos outros foram rejeitados pelas urnas. Em contrapartida, duas grandes estrelas da direita estão surgindo e já anunciando seu protagonismo: o mineiro Romeu Zema e o carioca Tarcísio de Freitas.

O que realmente me preocupa é a reconhecida orientação esquerdista de, comendo pelas bordas, cooptar, seja pela corrupção ou pela ameaça, os pilares do poder. É um filme que já estamos assistindo aqui mesmo perto de casa e que já vivenciamos em Pindorama. Outra é a reação internacional. Não aquela que muita gente boa está comemorando, destacando a aceitação de Lula pelos governos estrangeiros. Isto de tapinha nas costas de chefes de Estado é muito bonito para fotografias e discursos. O que me interessa é a aceitação e a confiança dos grandes investidores internacionais, aqueles que trazem dinheiro e criam trabalho e riqueza. Nestes anos de Bolsonaro, o Brasil foi o eleito por eles como porto seguro para seus empreendimentos. Será que Lula não irá assustá-los, como aconteceu na Venezuela, na Argentina, no Chile e agora começa a acontecer na Colômbia?

Isto é o que eu consigo enxergar. Vão ser anos difíceis. Se Lula, paralisado num ambiente político adverso, estagnar o país, logo-logo a lua-de-mel acaba. Até a grande imprensa, que agora perdeu seu Judas preferido para malhar, poderá dar um giro de 180º em suas baterias. A ver.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

terça-feira, 25 de outubro de 2022

BOND 60 (36): GOLDENEYE (PARTE II)



O atraso na retomada da franquia em função da longa batalha legal entre a MGM e Albert Broccoli acabou por influenciar a desistência de Timothy Dalton em continuar no papel. Quando finalmente em 1994 a questão resolveu-se, Dalton já tinha outros planos e não aceitou a oferta de fazer os próximos cinco Bonds, conforme proposto por Broccoli. A procura do substituto, que chegou a ter no radar Mel Gibson, Hugh Grant e Liam Neeson, acabou se decidindo por Pierce Brosnan, que fora descartado quando da substituição de Roger Moore por ser muito jovem na ocasião.

Muita coisa havia mudado também, no período. O Muro de Berlim caíra e a Guerra Fria terminara. A grande era romântica dos espiões chegara ao fim e achava-se que heróis como 007 tinham saído de moda. Isto, e a morte de alguns dos veteranos participantes da equipe original da franquia, como o roteirista Richard Maibaum e o designer das aberturas Maurice Binder, foram responsáveis por importantes mudanças, tanto no redirecionamento conceitual do personagem principal como até da composição do casting.

O cargo de M, chefe do MI6, foi ocupado por uma mulher, a conceituada atriz Judi Dench. O bastão da direção foi para o neozelandês Martin Campbell, depois de John Woo ter declinado, e o script baseou-se numa história do americano Michael France, que iria mais tarde escrever os roteiros dos filmes de Hulk e do Fantastic Four.

JUDI DENCH COMO "M"
A inglesa Samantha Bond substituiu Caroline Bliss como Ms Moneypenny e um BMW Z3 interrompeu a carreira do Aston Martin como o super equipado carro de trabalho de Bond. Os vilões foram um capítulo à parte. Eram 3. O papel da sanguinária Xenia Onatopp coube à atriz holandesa Famke Janssen e o do General Ourumov ao alemão Gottfried John. Inicialmente, o script descrevia o agente tornado criminoso Alec Trevelyan/Janus como uma espécie de tutor de Bond e atores mais velhos como Anthony Hopkins e Alan Rickman chegaram a ser cogitados. Mas, com a mudança de roteiro e a transformação de 006 e 007 em contemporâneos, a escolha recaiu em Sean Bean (os amantes de Game of Thrones iriam vê-lo anos mais tarde no inesquecível personagem Ned Stark). Natalya Simonova, a Bond Girl da vez, foi interpretada pela cantora e modelo sueco-polonesa Izabella Scorupco.

SEAN BEAN COMO JANUS


Em outros papéis, Joe Don Baker, que já trabalhara em The Living Daylights como o corrupto Brad Whitaker (mais uma repetição desnecessária de casting) apareceu como o agente da CIA em São Petersburgo e Robbie Coltrane (recentemente falecido), famoso posteriormente como Hagrid na saga de Harry Potter, encarnou Valentin Zuckowsky, chefe de uma máfia russa.

O francês Eric Serra assumiu a trilha sonora, no lugar do lendário John Barry e a música título foi composta por Bono (do U2) e pelo inglês David Howell Evans, mais conhecido como The Edge. A intérprete foi Tina Turner, mas tanto o fundo musical como a canção tema tiveram pouca aceitação pela crítica. Para ouvi-la, clique neste    LINK.

O filme, entretanto, obteve um bom índice de aprovação na imprensa especializada e foi um sucesso de público (bilheteria até hoje de US$ 355 milhões). Em retrospectiva, Goldeneye, que marcou o retorno de certo modo triunfante de James Bond e o início da era Brosnan, classifica-se bem no ranking dos aficionados do herói de Ian Fleming.

(continua)

Oswaldo Pereira

Outubro 2022

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

NUNCA



O escritor galês Ken Follett, na abertura de seu recente livro Never, diz que, quando fez as pesquisas para seu trabalho anterior, Fall of Giants (Queda de Gigantes) se impressionara ao constatar que a Primeira Grande Guerra foi um acontecimento que ninguém desejava. Nenhum líder europeu tinha intenções de inicia-la. Cada Imperador ou Primeiro-Ministro, um a um, foram tomando decisões – decisões lógicas e moderadas – mas que, cada uma a seu modo, significaram mais um passo em direção ao mais sangrento conflito que o mundo conhecera até então.

Isto acabou por inspirar Follett a escrever Never (Nunca). O título remete ao desejo, expresso quase unanimemente pelos Governos mundiais, de que jamais aquelas condições pudessem acontecer novamente, isto é, que apesar de singularmente desejosos de manter a Paz, interesses e querelas aqui e ali levassem inexoravelmente ao caminho do confronto.

Neste livro, Follett mostra o que pode acontecer se essas condições advierem num ambiente nuclear e até que ponto o medo de uma hecatombe atômica conseguirá impedir os líderes do planeta de apertarem seus botões vermelhos. Partindo de situações sensíveis atualmente localizadas em vários continentes, o que dá ao livro uma certa aura de premonição (escrito antes da invasão da Ucrânia, o livro não contempla mais este inquietante fator), a trama desenrola uma série de implicações, tanto de caráter pessoal dos protagonistas, como de alianças e hegemonias internacionais que, somadas, empurram uma sequência de decisões inevitáveis e provocativas.

Uma disputa no Sahel, um drone americano roubado, uma rebelião na Coreia do Norte, uma Presidente dos Estados Unidos em campanha de reeleição, uma pressão da linha dura chinesa sobre um líder moderado são alguns dos ingredientes que servem de pano de fundo a um micro universo de dúvidas, ambições e frustrações pessoais.  O provérbio chinês dois tigres não podem compartilhar a mesma montanha dá o tom do que está por vir.

Como quase todo livro desse escritor prolífico e detalhista, Never é um “tijolo” de 800 páginas. Acabei de lê-lo e posso dizer que foi uma viagem agradável e instigante. Follett continua sendo o impecável ficcionista histórico que se consagrou com as trilogias de Os Pilares da Terra e de Queda de Gigantes. Vale a pena.

Oswaldo Pereira

Outubro 2022

domingo, 16 de outubro de 2022

COMO FOI POSSÍVEL?

 


Logo após as eleições de 2018, um amigo francês enviou-me um e-mail perguntando: Por que Bolsonaro? Respondi-lhe também por e-mail. Foi uma resposta sucinta e apenas em grandes linhas. Resolvi, porém, qualificar melhor a minha resposta e escrevi um texto sobre o assunto, em que procurei colocar em perspectiva político-histórica o resultado das urnas (se você estiver interessado, poderá lê-lo neste   LINK  ).

Passados quatro anos, e nas vésperas do segundo turno de uma eleição crucial, sou eu que me pergunto: como foi possível chegar ao ponto em que estamos, com Lula disputando palmo a palmo a escolha para a Presidência do país?

Em outubro de 2018, o PT estava de rastros. A gigantesca corrupção que havia sido praticada durante os governos petistas, reveladas pela Operação Lava-Jato, havia horrorizado o povo brasileiro. Pela primeira vez, e devido principalmente ao incontestável teor da desonestidade conluiada entre as grandes empreiteiras e a base política do Governo, vimos, com o aplauso da sociedade brasileira, o revigorante espetáculo da justiça sendo feita. Caciques graduados e antes intocáveis recebendo a visita da Polícia em suas indevidas mansões e indo para a cadeia era a justa retribuição pelos zilhões de dinheiro do nosso esforço como contribuintes que tinham ido para o ralo da roubalheira.

O tenebroso projeto de poder da esquerda, colocando na folha de pagamentos do propinoduto, financiada pelos nossos impostos e à custa da dilapidação de empresas e fundos de pensão estatais, uma considerável fatia do Congresso, bateu fundo na indignação do cidadão pátrio. Umbilicalmente identificado com esse quadro de desonestidade, o PT e seus puxadinhos pareciam ter caído no ostracismo político. A nítida sensação de que Lula e Dilma, chefes da nação durante o período, se não participantes diretos no botim, teriam no mínimo pecado por omissão, havia destroçado seu capital político e sua imagem.

Então, a pergunta. Como se explica a ressurreição de Lula?

Um argumento poderia ter sido uma péssima administração de Bolsonaro. Naquele meu texto, eu repetia o que todos diziam na ocasião: o hercúleo trabalho que o novo Presidente tinha pela frente, ao assumir um Governo aparelhado e uma situação econômico-institucional complicada. Escalando um time de ministros de reconhecida competência e fechando os buracos da malversação do erário, Bolsonaro conseguiu surpreender favoravelmente. Hoje, ninguém duvida do sucesso de seu trabalho, com o país, após enfrentar uma prolongada pandemia, condições climáticas adversas e uma guerra com várias implicações, voltando a crescer, e com inflação e desemprego em queda. Essa aprovação ficou evidente na votação do dia 2. A direita conservadora aumentou consideravelmente sua presença no cenário político.

Assim, não é por aí. O que nos faz voltar ao problema da rejeição. E, neste quesito, eu acho que houve uma inversão de marcha. Nos últimos quatro anos, observou-se uma redução da ojeriza a Lula, dominante em 2018, a ponto de muita gente que o renegava ter bandeado para o grupo que é capaz de apagar seus registros de memória e imaginar que ele possa ser uma alternativa melhor. Lula mudou? É claro que não. Pela retórica de sua campanha, o que ele anuncia é um revanchismo enraivecido e o que se vislumbra é a volta à prática do jabaculê partidário, do toma lá dá cá indecente. Seu currículo e seu retrospecto não permitem esperar nada diferente.

O que operou esta redução? Para mim, a resposta vem de uma estratégia da esquerda que é mais velha do que eu: a cooptação da cultura, da escola e dos meios de comunicação, a célebre e decantada tática gramsciana, que o socialismo brasileiro tão eficazmente soube instalar neste país. Com isso feito e consolidado, ficou fácil capitalizar em cima dos interesses contrariados pela firme atitude anticorrupção de Bolsonaro, diminuir ou simplesmente esconder na mídia os avanços e as realizações do Governo, explorar ad nauseam a belicosidade do Presidente, suas falhas de comunicação e sua personalidade combativa, de quem não gosta de levar desaforo para casa.

E, apesar de a direita ter reagido através das redes sociais, a inimaginável volta por cima de Lula acabou acontecendo. E nos pondo na encruzilhada deste segundo capítulo das eleições.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

BOND 60 (35): GOLDENEYE (PARTE I)



GoldenEye não é título de nenhum livro de Ian Fleming. Mas, é o nome da propriedade onde ele viveu e escreveu a maioria dos livros de James Bond, uma confortável villa localizada na baía de Oracabessa, na Jamaica. Fleming comprara o terreno em 1946, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, e fez ele mesmo o projeto da casa. O nome veio de uma operação comandada por ele durante a guerra, um plano de contingência caso Gibraltar fosse atacada pelos alemães.

E este foi o nome escolhido para o décimo sétimo capítulo da franquia, lançado em 1995, seis anos após o anterior. Uma batalha legal sobre direitos autorais e a escolha de um novo ator para o papel foram os responsáveis pelo atraso. Até uma nuvem de dúvidas sobre o futuro da carreira cinematográfica de 007 chegou pairar sobre o mundo do cinema. Mas ele voltou.

PIERCE BROSNAN: O NOVO 007


A pré-sequência mostra uma ação levada a cabo, em 1986, por dois agentes 00, Bond e seu colega e amigo Alec Trevelyan, nas instalações da planta química soviética de Arkangel, dirigida pelo coronel russo Arcady Ourumov. Entretanto, algo dá errado e Trevelyan é eliminado; Bond consegue escapar e destruir a fábrica. Essa cena, que você pode conferir neste   LINK , traz uma das mais inverossímeis façanhas de 007, na qual ele se atira com uma motocicleta de um penhasco e consegue penetrar na cabine de um monomotor desgovernado em plena queda livre. Analisada por técnicos em sobrevivência e aerodinâmica, a chance de isto acontecer é... zero.

Nove anos depois, Bond está em Monte Carlo, cenário da apresentação aos representantes da OTAN de um helicóptero francês da classe Tiger, capaz de resistir a ataques eletromagnéticos. O aparelho, entretanto, é sequestrado por Xenia Onatopp, uma agente do Sindicato do Crime liderado por um misterioso chefão chamado Janus. A cena seguinte passa-se numa base rastreadora de satélites em Servernaya, na Sibéria. Sem aviso, a base recebe uma visita de Ourumov, agora General e chefe da inteligência russa. Acompanhado de Onatopp, ele apossa-se dos códigos de controle de Goldeneye, uma arma secreta espacial capaz de emitir pulsos eletromagnéticos destruidores, enquanto Onatopp mata os ocupantes da base. Ourumov direciona a mira do satélite-arma para a própria base e escapa com Onatopp no helicóptero roubado em Mônaco.

Neste momento, na sede do MI6, agora dirigido por uma mulher, Bond e a nova M acompanham as imagens dos satélites espiões britânicos focados na base de Servernaya. A Guerra Fria terminara anos antes, com o desmonte da União Soviética, mas os serviços de espionagem, tanto do Ocidente como do Leste, ainda se mantinham mutuamente sob vigilância. A destruição da base aparece nas telas e M, assim como Bond, concluem que se trata de um ato terrorista, praticado por alguém dentro da Rússia. Aproximando o foco dos satélites sobre os destroços do edifício, Bond descobre que alguém sobreviveu ao ataque.

M despacha Bond para São Petersburgo, onde ele se encontra com Jack Wade, operativo da CIA na cidade. Com sua ajuda, 007 visita Valentin Zuckovsky, ex-agente da KGB. Através de Zuckovsky, Bond fica sabendo que a organização de Janus está por detrás do roubo dos controles de Goldeneye.

Bond vai atrás de Janus e descobre que ele é ninguém menos do que Alec Trevelyan, o colega que vira sendo executado por Ourumov no ataque a Arkangel, oito anos antes. Antes de preparar a eliminação de Bond, o ex-006 revela que, na verdade, sua suposta morte fora uma armação. Trevelyan é órfão de cossacos que haviam sido traídos pelos britânicos depois da Guerra e entregues aos soviéticos para serem dizimados. Seu ódio pela Inglaterra fizera com que ele montasse a organização criminosa, cujo objetivo é usar Goldeneye para destruir Londres.

Bond é alvejado por um dardo tranquilizante e manietado dentro de um helicóptero a ser atacado por mísseis, juntamente com Natalya Simonova, a sobrevivente de Servernaya, que, como única testemunha da ação de Ourumov, caíra nas mãos de Janus. Evidentemente, Bond e Natalya conseguem escapar e chegam a avisar o Ministro da Defesa russo da traição de Ourumov e dos planos de Janus. Mas Ourumov consegue invadir o local e assassina o Ministro, tentando colocar a culpa em Bond. Segue-se uma cena de perseguição, com 007 a bordo de um tanque (!!), destruindo meia cidade no encalço de Ourumov.

BOND À BORDO DO TANQUE


A perseguição leva Bond ao quartel-general de Janus, um trem da era soviética. Novo confronto ocorre, com Ourumov sendo morto e Janus, acompanhado por Xenia Onatopp, fugindo. Usando seus conhecimentos como analista de sistemas de rastreamento de satélites, Natalya descobre que uma nova base clandestina foi montada em Cuba por Janus, de onde ele pretende programar Goldeneye para seu ataque à capital inglesa.

Novamente com a ajuda de Wade, Bond voa até a ilha do Caribe. A luta final entre ele e Janus desenrola-se dentro da gigantesca antena da base, com o agente britânico finalmente levando a melhor sobre seu antigo amigo. A base é destruída; Bond e Natalya conseguem escapar. O filme termina com os dois sendo surpreendidos por um batalhão de marines camuflados, no momento em que, acreditando estarem sós, preparam-se para saborear sua vitória...

(continua)

Oswaldo Pereira
Outubro 2022 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

FALAM AS URNAS

 


Quando há uma Copa do Mundo, aparecem de repente, no Brasil, duzentos milhões de técnicos de futebol. Assim também, após cada eleição, milhões de analistas políticos surgem de todos os lados, prontos a oferecer aos seus interlocutores as mais abalizadas opiniões sobre os porquês e porcomos do comportamento dos eleitores.

Não perdendo a oportunidade, resolvi, para não ficar para trás, surfar nesta onda. Afinal, também sou gente. Desta forma, os meus parcos, mas abnegados leitores, vão ter de se munir de sua proverbial paciência e dedicar alguns preciosos minutos à minha modesta análise.

Em primeiro lugar, os números mais significativos do pleito ocorrido em dois de outubro último apontam um importante crescimento da Direita ou, traduzindo, do espectro político que apoia Jair Bolsonaro. Só o seu partido aumentou o número de cadeiras no Parlamento para 99 (de 76) e, considerando a união de forças resultante de uma ideologia comum, a base de Bolsonaro na Casa pode chegar a 273 representantes, o que lhe assegura ampla maioria.  No Senado, não foi diferente. Os 14 eleitos (de 27) pelo voto conservador irão alimentar as bancadas ligadas ao atual Governo. Também na disputa dos Governos Estaduais, pelo menos os reeleitos em importantes unidades da Federação (Rio, Paraná e Minas) e os prováveis vencedores no segundo turno (São Paulo e Rio Grande do Sul) já declararam seu incondicional suporte a Bolsonaro.

Isto quer dizer que houve uma demonstração alargada de aplauso à presente administração do país, coisa que os próprios indicadores positivos de satisfação com o seu desempenho, divulgados antes, já mostravam. A pergunta que se faz, então é: se há um claro recado das urnas de apoio ao seu pensamento, por que não elegeram o homem?

O problema é que há, tanto em relação a Bolsonaro quanto a Lula, um conteúdo de rejeição que influencia poderosamente o ato de votar. Conheço muita gente boa que reconhece o trabalho e os méritos do atual Presidente, mas não consegue superar a sua antipatia pela pessoa. E, convenhamos, há momentos em que Bolsonaro perde oportunidades de ouro que, se mais político fosse, teria aproveitado para diminuir esse sentimento desfavorável.

Na direção diametralmente oposta, ambos os candidatos têm multidões de torcedores, aqueles adeptos que continuam amando seus clubes apaixonadamente, mesmo depois de uma goleada adversária ou um rebaixamento de divisão.

Acho que tanto objetores quanto aficionados não irão mudar muito sua escolha até o dia 30.  Será no delicado balanço daqueles percentuais de indecisos é que a eleição se definirá. Se a evidente aprovação que veio das urnas prevalecer sobre a antipatia, Bolsonaro emplacará mais quatro anos. Com uma base parlamentar favorável, poderá governar com mais amplitude e deslanchar as reformas de que este país tanto precisa.

Se, por outro lado, a rejeição ao homem for tão forte que leve o eleitor ainda em cima do muro a esquecer o mar de corrupção que afogou o governo petista em 2018, poderemos ter um Lula lutando contra um ambiente político hostil, que certamente o paralisará. Não creio que ele consiga reeditar as práticas do Mensalão e do Petrolão num Congresso tão renovado.

Em termos simples, a escolha é esta. Alea jacta est.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

domingo, 2 de outubro de 2022

DOIS DE OUTUBRO

 


Love Me Do/P.S. I Love You
Dr. No

Se você estivesse em Londres no dia 2 de outubro de 1962, talvez pudesse, meio sem saber porque, ter comprado o compacto com as duas músicas da primeira frase acima, lançado naquele dia nas lojas de discos londrinas e, se ainda estivesse de bobeira, ido ao cinema ver a estreia do filme com o título da segunda.

Pronto. O destino o haveria premiado com a magia de ter testemunhado, em primeira mão, o nascimento das duas maiores lendas do entretenimento do século XX – os Beatles e James Bond. Cada um a seu modo, esses dois poderosos ícones iriam impregnar sua imagem na música e no cinema e influenciar centenas de milhões de aficionados mundo afora. Sessenta anos depois, diferentemente de tantos outros fenômenos que nasceram durante seu tempo, tiveram sua medida de sucesso, mas depois ficaram pelo caminho, os Fab4 e 007 ainda suscitam o interesse das novas gerações e alimentam o saudosismo daqueles que os viram surgir.

Entre estes, eu me permito incluir dois veteranos blogueiros. O meu amigo Homero Ventura, alcunhado mui merecidamente de Enciclopédia Beatlanica, dado o seu profundo e inesgotável conhecimento da obra dos Beatles e que, há meses, vem desenvolvendo uma magnífica e antológica resenha sobre o imenso mundo dos garotos de Liverpool, levando-nos aos mais pormenorizados detalhes de suas vidas e de suas canções, um trabalho que o levou a ser convidado a fazer parte da equipe do programa radiofônico “Submarino Angolano” de uma emissora de Luanda. 

O outro, modestamente, sou eu, com a minha série sobre os filmes de Bond. Ambos reverenciamos a data em que, há exatos sessenta anos, inescrutáveis desígnios fizeram coincidir o início de duas fabulosas carreiras.

O que nos faz pensar também sobre o poder de certas datas. Há tempos, escrevi um blog sobre o dia quatro de março de 1968, data da première do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço e do assassinato de Martin Luther King. Este dois de outubro também não fica atrás. Ao mesmo tempo em que comemoramos os milagres do passado, aqui no Brasil joga-se uma cartada importante sobre o nosso futuro. Raramente uma escolha é tão diametralmente oposta e, consequentemente, tão crucial. Não por acaso, dois de outubro é o Dia do Anjo da Guarda...

Uma coisa, entretanto, merece ser dita. Acabei de voltar para casa, depois de votar e não tenho, evidentemente neste momento, qualquer ideia sobre o resultado. Tenho minhas preferências, é claro, mas o que me mais me conforta neste momento é verificar que, de tudo o que eu vi e vivi nestes meus 81 anos de Brasil, sinto hoje a alegria de presenciar um espetáculo genuinamente democrático acontecendo. Um gigantesco colégio eleitoral de 150 milhões de brasileiros está, enquanto escrevo, exercendo seu direito de escolha livremente, sem coações, peias, proibições ou constrangimentos.

Se isto, por si só, não é uma vitória, eu não sei o que é.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022