Esperando
a poeira baixar, enquanto ouço e vejo as explosões de alegria dos apoiadores de
Lula e o desespero e a tristeza dos seguidores de Bolsonaro. E, aos poucos, à medida
que a névoa da batalha se dissipa e eu me recupero da ressaca de uma esperança
contrariada, tento enxergar além deste cenário imediato do pós-pleito.
Para mim, o que tivemos foram duas eleições, duas arenas em que se delineou o que o Brasil realmente quer. Na arena mais ampla, aquela que define o panorama político que vai comandar o Parlamento e a administração dos Estados brasileiros, houve a demonstração de uma clara e indiscutível preferência dos eleitores pela direita conservadora ou, pelo menos, pela fatia que se identificou com o Governo Bolsonaro. Praticamente, todos os seus ex-ministros se elegeram, todos os que tiveram seu incisivo apoio durante a campanha foram, com larga margem, premiados pelas urnas. Houve uma significativa renovação, tanto na Câmara Federal como no Senado e, na maioria dos Estados mais importantes da União, os candidatos alinhados com o atual Presidente venceram.
Sem medo de errar, podemos dizer que a direita foi a grande vencedora. E isto quer dizer muita coisa. Quer dizer, por exemplo, que muitas das pautas da preferência petista encontrarão uma imensa dificuldade de passar no Congresso. Quer dizer que as casas legislativas estarão prontas a instalar CPI’s à menor indicação de atos irregulares do Governo Lula. E quer dizer também que o próprio STF terá agora pela frente um Senado hostil. Só para brincar de cenário, imaginem se, por exemplo, Sergio Moro for eleito Presidente da casa. Quantos pedidos de impeachment de Alexandre Moraes et caterva vão ser exumados de debaixo do tapete onde Rodrigo Pacheco os colocou?
Mas, tivemos uma outra arena. Uma arena de dois contendores, disputando um round de rejeições. A apertadíssima vitória de Lula nesse ringue dá a dimensão de quão acirradas e diametralmente opostas são as paixões e as preferências pessoais. Deve-se notar, também, que, mesmo apanhando da mídia todos os dias durante os quatro anos de seu mandato, enxovalhado pela classe artística e influenciadores de plantão, e alfinetado constantemente por uma Justiça partidarizada, Bolsonaro quase derrotou Lula.
Disto tudo, percebe-se que Lula terá dificuldade para governar. O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de 2002, de 2006, e mesmo de 2010, quando Dilma ganhou as eleições. Para já, há um modo novo de divulgação e propagação de ideias e notícias e, não há dúvidas, é um fator que pode desestabilizar o ambiente político. Além disso, Lula estará muito só no mandato que ele iniciará em primeiro de janeiro de 2023. A esquerda está sem lideranças. Haddad, Boulos, Freixo e muitos outros foram rejeitados pelas urnas. Em contrapartida, duas grandes estrelas da direita estão surgindo e já anunciando seu protagonismo: o mineiro Romeu Zema e o carioca Tarcísio de Freitas.
O que realmente me preocupa é a reconhecida orientação esquerdista de, comendo pelas bordas, cooptar, seja pela corrupção ou pela ameaça, os pilares do poder. É um filme que já estamos assistindo aqui mesmo perto de casa e que já vivenciamos em Pindorama. Outra é a reação internacional. Não aquela que muita gente boa está comemorando, destacando a aceitação de Lula pelos governos estrangeiros. Isto de tapinha nas costas de chefes de Estado é muito bonito para fotografias e discursos. O que me interessa é a aceitação e a confiança dos grandes investidores internacionais, aqueles que trazem dinheiro e criam trabalho e riqueza. Nestes anos de Bolsonaro, o Brasil foi o eleito por eles como porto seguro para seus empreendimentos. Será que Lula não irá assustá-los, como aconteceu na Venezuela, na Argentina, no Chile e agora começa a acontecer na Colômbia?
Isto é o que eu consigo enxergar. Vão ser anos difíceis. Se Lula, paralisado num ambiente político adverso, estagnar o país, logo-logo a lua-de-mel acaba. Até a grande imprensa, que agora perdeu seu Judas preferido para malhar, poderá dar um giro de 180º em suas baterias. A ver.
Oswaldo
Pereira
Outubro
2022