quinta-feira, 6 de outubro de 2022

FALAM AS URNAS

 


Quando há uma Copa do Mundo, aparecem de repente, no Brasil, duzentos milhões de técnicos de futebol. Assim também, após cada eleição, milhões de analistas políticos surgem de todos os lados, prontos a oferecer aos seus interlocutores as mais abalizadas opiniões sobre os porquês e porcomos do comportamento dos eleitores.

Não perdendo a oportunidade, resolvi, para não ficar para trás, surfar nesta onda. Afinal, também sou gente. Desta forma, os meus parcos, mas abnegados leitores, vão ter de se munir de sua proverbial paciência e dedicar alguns preciosos minutos à minha modesta análise.

Em primeiro lugar, os números mais significativos do pleito ocorrido em dois de outubro último apontam um importante crescimento da Direita ou, traduzindo, do espectro político que apoia Jair Bolsonaro. Só o seu partido aumentou o número de cadeiras no Parlamento para 99 (de 76) e, considerando a união de forças resultante de uma ideologia comum, a base de Bolsonaro na Casa pode chegar a 273 representantes, o que lhe assegura ampla maioria.  No Senado, não foi diferente. Os 14 eleitos (de 27) pelo voto conservador irão alimentar as bancadas ligadas ao atual Governo. Também na disputa dos Governos Estaduais, pelo menos os reeleitos em importantes unidades da Federação (Rio, Paraná e Minas) e os prováveis vencedores no segundo turno (São Paulo e Rio Grande do Sul) já declararam seu incondicional suporte a Bolsonaro.

Isto quer dizer que houve uma demonstração alargada de aplauso à presente administração do país, coisa que os próprios indicadores positivos de satisfação com o seu desempenho, divulgados antes, já mostravam. A pergunta que se faz, então é: se há um claro recado das urnas de apoio ao seu pensamento, por que não elegeram o homem?

O problema é que há, tanto em relação a Bolsonaro quanto a Lula, um conteúdo de rejeição que influencia poderosamente o ato de votar. Conheço muita gente boa que reconhece o trabalho e os méritos do atual Presidente, mas não consegue superar a sua antipatia pela pessoa. E, convenhamos, há momentos em que Bolsonaro perde oportunidades de ouro que, se mais político fosse, teria aproveitado para diminuir esse sentimento desfavorável.

Na direção diametralmente oposta, ambos os candidatos têm multidões de torcedores, aqueles adeptos que continuam amando seus clubes apaixonadamente, mesmo depois de uma goleada adversária ou um rebaixamento de divisão.

Acho que tanto objetores quanto aficionados não irão mudar muito sua escolha até o dia 30.  Será no delicado balanço daqueles percentuais de indecisos é que a eleição se definirá. Se a evidente aprovação que veio das urnas prevalecer sobre a antipatia, Bolsonaro emplacará mais quatro anos. Com uma base parlamentar favorável, poderá governar com mais amplitude e deslanchar as reformas de que este país tanto precisa.

Se, por outro lado, a rejeição ao homem for tão forte que leve o eleitor ainda em cima do muro a esquecer o mar de corrupção que afogou o governo petista em 2018, poderemos ter um Lula lutando contra um ambiente político hostil, que certamente o paralisará. Não creio que ele consiga reeditar as práticas do Mensalão e do Petrolão num Congresso tão renovado.

Em termos simples, a escolha é esta. Alea jacta est.

Oswaldo Pereira
Outubro 2022

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