sábado, 17 de setembro de 2022

O VOTO



De tempos em tempos, assim como nós, também os países chegam a encruzilhadas do destino. São momentos em que parece que a História nos empurra para decisões cruciais, para uma inadiável escolha entre caminhos diametralmente opostos. São acontecimentos que ficarão para os livros, para deleite dos analistas que viverão num amanhã e que, como sempre, irão desenvolver várias teorias e explicações de como e porque uma nação e seu povo enveredaram para um lado e não para o outro. Será assunto para teses, compêndios e, não sei se será porventura o caso, muita polêmica na Web.

Mas, esses analistas estarão olhando pelo retrovisor, para um passado que, para nós, ainda é futuro. Por mais que as pesquisas pretendam nos fazer ver uma realidade que as ruas desmentem, a única coisa que sabemos é que as eleições brasileiras de outubro de 2022 são uma incógnita. E, pelo bem ou pelo mal, uma democrática incógnita.

Democracia, desde que os gregos a inventaram, é a palavra-chave dos anseios políticos da Humanidade. Embora o termo e o conceito tenham nascido na Grécia, na mítica agora, a suposta praça em que todos os cidadãos levantavam suas mãos para apontar seus governantes, a sua VERDADEIRA prática só foi realidade a partir do final do século XVIII. Foi no jovem Estados Unidos da América que seu exercício teve o poder de levar o país o mais próximo possível de um governo do povo, pelo povo e para o povo.

Entendamos bem, entretanto. Democracia não é uma dádiva. E nem uma bênção. Pressupõe uma série de atributos do grupo que a professa. Uma delas, talvez a principal, seja a Educação. Um povo educado tenderá sempre a fazer escolhas mais sábias e, girando num círculo virtuoso, aquelas que propiciarão o aumento e a disseminação de mais educação, e assim por diante. Em meus aborrecidos textos, tenho repetido sempre que, no meu provecto pensar, a Educação tem de preceder a Democracia, sob pena de, num ambiente de baixa civilidade, ser esta um instrumento de opressão e regresso.

Outra necessidade é a vigilância. Não vou aqui repetir a citadíssima frase de Thomas Jefferson, mas, efetivamente, Democracia exige um trabalho incansável de acompanhamento e cobrança. É preciso entender que na base do exercício democrático está o voto. E este nada mais é do que um mandato, uma delegação. Eu, eleitor, delego ao meu candidato representar-me nos diversos níveis da Administração Pública. Se eu não me mantiver atento à atuação de meu mandatário, todo o sentido do voto foi por água abaixo.

Daqui a mais alguns dias, mais de cento e cinquenta milhões de nós iremos às urnas. Não quero entrar aqui na polêmica da confiabilidade do nosso sistema de apuração. É um campo cheio de considerações técnicas que não entendo e, portanto, é-me impossível emitir qualquer opinião. Prefiro acreditar nele, até que alguma prova evidente me mostre o contrário. O que me preocupa mais é o grau de seriedade com que o eleitor brasileiro irá apertar as teclas de sua escolha. Se o fizer com convicção, de acordo com o que seu grau de informação e seu desejo de uma nação feliz e justa, estará praticando o melhor que a Democracia tem a oferecer. Se, ao contrário, usar seu direito apenas como manifestação de mesquinho despeito, de interesses venais contrariados ou, mesmo, de desinteresse, se terá tornado indigno do momento histórico em que vivemos.

Oswaldo Pereira

Setembro 2022

8 comentários:

  1. E seja o que Deus quiser. E os eleitores também. De preferência com muito juízo e discernimento do que realmente querem para o país. Parabéns, Oswaldo.

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    1. Obrigado Ana. É um grande momento de decisão. Let´s brace ourselves, como dizia Churchill...

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  2. Obrigado Oswaldo por suassabias palavras,precisaremosde muita sabedoria para exercer nosso direito abraço itibere

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    1. Obrigado, grande amigo. Espero que isto seja válido para a maior parte dos 150 milhões que irão às urnas.

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  3. "Por mais que as pesquisas pretendam nos fazer ver uma realidade que as ruas desmentem, ...". Será que desmentem ? Dentro de poucos dias saberemos ... Se os eleitos se empenharem em desenvolver muito o nível de educação geral, terá valido a pena e daqui a alguns anos estaremos bem melhores ...

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  4. Li, ouvi, mas esqueci em q circunstâncias: Educar, governar, psicanalisar... é impossível !

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  5. Olá Oswaldo.
    Estamos prestes a usar o direito ao voto democraticamente.
    Como você diz a democracia não é uma dádiva.
    Já naquele tempo dos gregos a 350 anos AC Isocrates dizia que a democracia se auto destroe por que as pessoas abusam do direito da igualdade e o direito da liberdade por que há ensinado ao ciudadano a considerar a impertinência como um direito e no desrespeito às leis como liberdade e a impertinência das palavras comoi gualdade e a anarquia como felicidade.
    Já era difícil imagina agora. .
    ABS.
    Emílio Gonzalo

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