Sete de setembro, quatro da tarde. A comitiva vinha de Santos.
Era mais uma etapa de um périplo que começara a treze de agosto, dia da partida do Príncipe, que deixara a Corte para apaziguar ânimos na Província de São Paulo. Mas, os ânimos não estavam em paz em lugar algum. Havia uma agitação pressaga, um explodir de conflitos que contrapunha um reino europeu a um país em gestação.
Nos mais de seiscentos quilômetros percorridos por D. Pedro e sua comitiva, nos caminhos e nos lugares de pousada ao longo da estrada, o assunto não fora outro. O empuxo das forças antagônicas, exacerbado desde o momento em que o Príncipe Herdeiro resolvera desobedecer às ordens portuguesas e permanecer no Brasil, caminhava para o seu desfecho.
A comitiva não era grande. Uma guarda de quatorze cavalarianos dos dragões, alguns ajudantes e conselheiros, entre eles o Padre Belchior de Oliveira, a quem o Príncipe tinha em alta estima. Haviam decidido fazer um alto às margens de um riacho, antes de seguir para a capital da Província. Os soldados haviam-se dispersado nas margens para aguar suas montarias e comprar mantimentos numa venda ali perto.
Foi aí que os mensageiros Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro encontraram a comitiva. Traziam quatro cartas. De Portugal, vinham duas. Uma das Cortes portuguesas e outra do Rei. Do Rio, as que haviam sido escritas por José Bonifácio e D. Leopoldina. Pressentindo o que estava para escutar, D. Pedro pediu ao padre Belchior que as lesse.
O Príncipe era um homem impulsivo, em nada condizente com seu signo, um libriano explosivo e, se hoje fosse, talvez classificado como bipolar. Com 23 anos, embora temperado pelos deveres do ofício, ainda obedecia aos arroubos da idade. Verdade também seja dita que as pressões que o destino lhe havia imposto nos últimos meses eram um desafio até para o mais cauteloso e comedido governante.
Padre Belchior nem precisou terminar a leitura. O Príncipe arrancou-lhe as cartas portuguesas das mãos, amassou-as e atirou-as ao chão. E agora, Padre?, perguntou. Sua irritação era evidente. Feria-o principalmente o tom de menosprezo que vinha das Cortes de Lisboa. Chamavam-no de rapazinho. Segundo o relato do próprio Belchior, ele teria continuado. Pois vão ver quem é o “rapazinho”. Não quero mais nada do governo português. Proclamo o Brasil separado de Portugal.
Os soldados da guarda perceberam que algo estava acontecendo e se acercaram. Ainda segundo o Padre, D. Pedro montou e, dirigindo-se aos cavalarianos, repetiu em tons mais exaltados o que dissera antes e, num gesto simbólico, arrancou as fitas azuis e brancas, as cores do reino, de seu chapéu. Os soldados fizeram o mesmo. O momento havia chegado.
Quando a comitiva entrou em São Paulo, a notícia chegara antes. Havia um reboliço pelas ruas principais da cidade, sacadas com panos dependurados, à moda das procissões, acenos, gritos e vivas. O destino do Brasil, e de D. Pedro, estava selado. Dizem que, durante a tarde, ele encomendou a um artífice paulista a confecção de um distintivo com bordas douradas e as palavras “Independência ou Morte” para ser aplicado em seu uniforme.
Começava o Primeiro Império. Mas as notícias levaram dias para serem conhecidas. Na Corte do Rio de Janeiro, só após dois dias; nas outras capitais de províncias, muito mais. Lisboa só soube do acontecido duas semanas depois. E, no novo país continente, nem tudo e nem todos reagiram da mesma forma. A emancipação política ainda iria exigir muita determinação para consolidar-se.
Oswaldo
Pereira
Nos corações dos que aqui habitavam, acho que foi esse o momento em que ficamos definitivamente unidos pra sempre.
ResponderExcluirBrasileiros, portugueses, africanos, indígenas, franceses, holandeses, e mais todos os aqui chegaram vindos de toda parte.
AMERICA DO SUL. A PatríaAmada dos povos de Línguas Latinas.
Muito bom.
ExcluirOlá Oswaldo.
ResponderExcluirEra inexorável a independência de uma colônia europeia de diferencias sócio culturais em um novo continente .
Nasceu uma República e com ela a ânsia de governa -la. O que não foi fácil até nossos dias.
Continua Oswaldo
Att
Emílio Gonzalo
Nunca será fácil. De Gaulle, com relação à França, dizia que um país com 360 diferentes qualidades de queijos era ingovernável... Imagine o Brasil, um país continente...
ExcluirObrigada OSWALDO.PASSAREI ADIANTE!FOI PATRIOTISMO E CORAGEM! VERDADEIRO AMOR AO NOSSO BRASIL! O"SERA' NOSSA ESTA TERRA! O DEUS ESTÁ CONOSCO! O VIVA NOSSO PAÍS! E CRESCEU FIRME E DITOSO !
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