sexta-feira, 13 de maio de 2022

BOND 60 (18): LIVE AND LET DIE (PARTE II)

 


Certo de sua vitória, Kananga resolve dar fim a seus prisioneiros, enviando Solitaire para a morte em um ritual cabalístico e Bond para uma fazenda de criação de crocodilos. Após uma das cenas mais conhecidas do filme, em que o agente britânico escapa de ser devorado pelos famintos répteis numa pequena ilhota literalmente andando por cima deles, seguem-se eletrizantes cenas de perseguição, envolvendo um velho ônibus londrino, carros policiais e lanchas supervelozes numa doida corrida pelos bayous da Luisiana.

Naturalmente, tudo acaba bem para o nosso herói, que salva Solitaire, vence Kananga numa luta mortal no esconderijo deste e, como bônus final, ainda dá cabo de Tee-Hee, um lugar-tenente de Kananga que possui uma tenebrosa prótese-gancho numa das mãos, em mais uma luta dentro de um trem.

Live and Let Die foi o primeiro da série em que o inimigo não era nem a USSR ou a SPECTRE ou ainda qualquer visionário diabólico com ganas de dominar o mundo. Mr Big/Kananga era apenas um chefão da droga. Mas, como a maioria dos vilões eram negros, o filme foi tachado de fazer parte da blaxploitation, um termo cunhado pela comunidade afrodescendente americana para designar produções culturais que ofendiam ou aviltavam a sua raça (black + exploitation). O roteiro seguira a mesma linha do livro, mas Ian Fleming o escrevera quase vinte anos antes, numa época em que movimentos como os Panteras Negras nem sonhavam em existir.

De qualquer forma, Live and Let Die foi sucesso de bilheteria e crítica. Afinal, trazia um Bond repaginado, era abarrotado de ação e trazia um belo elenco. Jane Seymour, em seu segundo trabalho para a telona, foi Solitaire; Yaphet Kotto, já com várias atuações no teatro e no cinema, encarnou o vilão. Os outros papéis femininos foram interpretados por Madeline Smith (a agente italiana Miss Caruso)  e Gloria Hendry (Rosie Carver), a primeira Bond girl negra da história.  David Hedison é Felix Leiter (e o seria em outros filmes) e Clifton James faz o atrapalhado xerife caipira J. W. Pepper, um personagem cômico criado dentro do espírito mais leve dos filmes de Roger Moore.

JANE SAYMOUR (SOLITAIRE)


YAPHET KOTTO (MR BIG/KANANGA)

A batuta continuou na mão de Guy Hamilton. Ele e o roteirista Tom Mankiewicz foram os responsáveis pelas inúmeras adições à trama original de Fleming, especialmente após uma visita dos dois a Nova Orleans, onde tiveram a ideia de incluir a espetacular sequência das lanchas e o confronto de Bond com os crocodilos. Aqui um detalhe interessante: o dono da fazenda de criação de crocodilos era um folclórico descendente de índios Seminole chamado Ross Kananga. Mankiewicz logo adotou este nome, que não existia no livro de Fleming, para batizar o vilão. Além disso, Kananga atuou como dublê de Moore na cena dos crocodilos. Teve de repeti-la cinco vezes, até dar certo...

Live and Let Die marcou uma das poucas ocasiões em que os dois maiores ícones do entretenimento britânico cruzaram seus caminhos (uma outra está no meu texto Beatles & Bond, que você pode conferir neste   LINK  ). A trilha sonora foi composta por Linda e Paul McCartney e a canção título cantada pelo Wings foi candidata ao Oscar.

Finalmente, a curiosidade é que Moore, que recusara o papel de 007 em duas ocasiões anteriores, já fora James Bond uma vez, no programa humorístico da TV inglesa Mainly Millicent, em 1964, em que contracena num divertido sketch com a atriz Millicent Martin. (Se quiser conferir, é só clicar em   Mainly Millicent ).

(continua)

Oswaldo Pereira
Maio 2022

 






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