Agora,
o mar está calmo. A maré é chã, apenas um ligeiro carreiro de espumas
serpenteia a superfície, talvez a única e inocente indicação do extraordinário
berçário de titãs marinhos que, temporariamente adormecido, repousa no fundo,
bem lá no fundo, deste oceano azul.
Estou falando de Nazaré, a pequena vila portuguesa, à beira mar plantada e lugar de História e estórias, lendas e tradições, como também o são as centenas e centenas de vilas que adornam este jardim chamado Portugal.
A aldeia já existia em 1182, quando D. Fuas Roupinho, cavaleiro de D. Afonso Henriques, possivelmente também templário e reconhecido primeiro almirante da nascente marinha lusa, experimentou a graça de um milagre. Entre uma batalha e outra, D. Fuas praticava o esporte real da caça ao veado quando, perseguindo um animal numa manhã coberta de espesso nevoeiro, sentiu de repente, e sem qualquer motivo, seu cavalo empacar bruscamente. Apeando-se em meio à névoa impenetrável, verificou que estava a centímetros de cair de um alto penhasco. Uma ermida edificada no local atesta o reconhecimento desse fenômeno milagreiro.
O SÍTIO DA NAZARÉ |
O penhasco faz parte do Sítio, a parte elevada da vila, de onde se pode vislumbrar o magnífico panorama das praias da Nazaré, onde, por muitos e muitos anos, as mulheres quedavam sentadas à espera de seus maridos pescadores. Lembro-me de, há muito tempo atrás, vê-las, de negro, com suas sete saias a protege-las do vento (mas não da angústia), imóveis e silenciosas sentinelas nas tardes de mar bravio. Stanley Kubrick e Cartier-Bresson foram dois dos muitos cineastas e fotógrafos que captaram a beleza triste destas cenas.
Hoje, porém, Nazaré está no mapa turístico mundial como o lugar das ondas gigantes. Entre novembro e março, o Inverno europeu, um extenso e profundo canyon (ou canhão em bom Português) submarino, com a maré e ventos propícios, produz as maiores vagas do planeta. Esses monstros chegam a bater os 30 metros de altura (só para ter uma ideia, esta é a altura de um prédio de 10 andares...) e são o desafio dos homens e mulheres de aço que os cavalgam em suas pequenas pranchas de silicone. E que fazem o emocionado deleite das centenas de turistas que se aglomeram na segurança do promontório do farol da Nazaré.
É claro que não as vi, no ensolarado dia de maio em que lá estive. Mesmo nos meses frios, é preciso paciência e sorte para observar as ciclópicas ondas. Mas, mesmo sem elas, a visita merece ser feita. A mansidão do mar, a imponência dos penhascos, o perfume praieiro e, nem é preciso dizê-lo, os deliciosos peixes, só na companhia de azeite e batatas, são argumentos mais que suficientes para lá ir.
Oswaldo
Pereira
Maio
2022
Que delícia de relato!
ResponderExcluirTexto, fatos, imagens, história!
Obrigadíssimo!
ExcluirBom dia! Voltei á Nazaré com tua crônica! Parabéns! Perfeito!
ResponderExcluirObrigado! É um prazer e uma honra proporcionar estas viagens...
ExcluirPensei que estava lendo Homerix porque ele postou esse link no nosso grupo. Fantástica, Oswaldo, sua verve criativa para descrever uma quase tragédia e hoje um sítio glamoroso onde o mar esculpe falésias, as ondas proporcionam aventuras e sua imaginação realça a beleza da natureza.
ResponderExcluirObrigado, Laury. Portugal é uma constante fonte de inspiração...
ExcluirFabulosas ondas do mar de Nazaré vi em um documentário. Impresionante a altura que alcançam Seu relato rico em detalhes ascende a vontade de visitar o local. Para Bens pela mensagem
ResponderExcluirEmílio Gonzalo
Venha a Portugal, caro Emilio. Há muito a ver...
ExcluirMeu amigo Oswaldinho, rsrsrs, só tenho um comentário a fazer: vc é simplesmente SENSACIONAL!!!
ResponderExcluirParabéns pelas excelentes crônicas!
Muitíssimo obrigado. Gostei do Oswaldinho...
ExcluirObrigada por esta maravilhosa descrição de um sítio que já esqueci
ResponderExcluirSenti vontade de o revisitar com tempo para passear e poder estar um tempo em época própria! Mas para isso precisava da companhia do meu ZL. Que saudade! Isabel