Até a CNN já admite.
Num artigo publicado pela emissora,
cujos embates com o Presidente americano são famosos, a reeleição
de Trump é encarada como uma real possibilidade. Partindo de onde veio, é uma
constatação importante. E esta constatação deriva de múltiplos fatores.
Um deles é a situação
econômica do país. A sensibilidade deste item no coração
do eleitor americano foi enfatizada durante a campanha de Bill Clinton em 1992.
Competindo contra George Bush, pai, então presidente e candidato republicano, a
frase criada pelo coordenador político de Clinton, James Carville (“It’s the Economy, stupid” ou “É a
Economia, idiota”) tocou no âmago da questão. Apesar de Bush ter atingido uma
assombrosa popularidade após a invasão do Kuwait, a recessão econômica
americana de então mudou o foco do eleitor e Clinton ganhou.
Crescimento acima do esperado,
desemprego em baixa, bolsa em alta e confiança do consumidor são benesses
estatísticas que soam como música celestial para qualquer economia de mercado.
E isto Trump, em decorrência de seu moto “America
First”, vem conseguindo.
O outro é a filosofia de política
externa, que podemos chamar de truculência
de resultados, adotada por Donald Trump para resolver situações de comércio
exterior, tratados bilaterais e relacionamento com a União Europeia, o Médio
Oriente, a Rússia, a Coreia do Norte e, principalmente, a China. Neste
ambiente, suas cartadas de grande jogador, disposto a correr riscos elevados,
propiciaram ganhos consideráveis e asseguraram posições de força em várias
negociações comerciais e políticas.
Sob sua batuta, um dos chefões da Al
Qaeda e o segundo homem da hierarquia iraniana, dois mentores do terrorismo
mundial, foram eliminados nas barbas do inimigo. Retaliação zero. A queda de
braço com os chineses acabou por trazê-los à mesa de negociações e abandonarem
práticas pouco recomendáveis de comércio. O quente-frio
de sua dança com Kim Jong-il tem defasado a ameaça coreana, a mesma tática
que Trump usa para manter Putin ora na defensiva, ora no ataque.
O terceiro fator é a inexistência (até
agora, a dez meses do pleito) de um candidato democrata que lhe possa fazer
frente. Bernie Sanders é muito à esquerda para o gosto da maioria dos
americanos. E a idade conta. Joe Biden está em visível declínio. Michael
Bloomberg, ex-prefeito de Nova Iorque, bilionário e conservador, é muito Trump-alike para ganhar as prévias
democratas. Elizabeth Warren mostra pouca segurança em suas plataformas e se
preocupa mais em atacar Bloomberg do que apresentar programas. O melhor
pré-candidato é Pete Buttigieg. Jovem, bom debatedor, com boa compreensão dos
grandes itens da sociedade americana, seria o sopro de um novo vento para o
Partido Democrata. Mas, lamentavelmente, não creio que a Middle America esteja suficientemente madura para eleger um
Presidente com a sua opção sexual.
Então, tudo indica que teremos mais do
mesmo. Mais quatro anos de uma figura imprevisível, errática, centrada em si
mesma e sempre disposta a desrespeitar tratados e acordos. Isto para uns. Para
outros, um Presidente corajoso, com instintos de um grande jogador e totalmente
dedicado a defender, acima de tudo, os interesses nacionais.
O mundo que se prepare. Já há cenários
prováveis. A disputa com a China mudará de patamar. O pomo de discórdia estará
na cibernética. Desconfiado de que a tecnologia 5G da Huawei, empresa
financiada pelo Governo chinês, é na realidade um meio para sugar bilhões de
informações em todo o planeta, Trump vetará sua entrada nos Estados Unidos e,
caracteristicamente, retaliará contra os países que tomem o caminho oposto.
Este mantra de quem não está comigo está
contra mim poderá desencadear uma cisão grave em vários outros campos,
conflitos e mercados. Há quem preconize um retorno a algo parecido com a Guerra
Fria dos anos 1950-1960.
Que Deus nos proteja...
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2020
Ótima e triste análise!
ResponderExcluirE acresça-se o pífio desempenho de Bloomberg no primeiro debate!
Four more years daquilo...
Será que nós, e o mundo, vamos aguentar?
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