domingo, 9 de fevereiro de 2020

LUTO



Um estimado amigo e, como eu, fervoroso rubro-negro, sugeriu que escrevesse sobre este doloroso assunto. Não pude deixar de atende-lo.

Airá Ocrespo é um artista de rua. Com o pseudônimo de MC Grafiteiro, é um dos mais conceituados de sua arte, com obras espalhadas pelos muros do Rio de Janeiro.

Há dias, MC Grafiteiro começou a pintar, na parte externa do Estádio do Maracanã que dá para a Radial Oeste, os rostos de dez meninos. Suas idades variavam entre 14 e 17 anos. Seus nomes.
Rykelmo
Christian
Jorge Eduardo
Athila
Gedson
Vitor Isaías
Arthur Vinicius
Bernardo
Pablo Henrique
Samuel

No dia 8 de fevereiro do ano passado, todos eles morreram queimados, dentro de um container, num campo de treino chamado de Ninho do Urubu. Para aqueles que não têm familiaridade com o futebol carioca, esse campo de treino pertence ao Flamengo, um dos mais tradicionais clubes do Brasil.

Todos eles eram alunos da escolinha que forma jogadores da base e prepara-os para um futuro profissional nas equipes de ponta. No dia 8 de fevereiro, esse futuro deixou de existir para eles.

O container havia sido a forma prática que o Flamengo encontrara para alojar aqueles alunos que, ou por morar longe, ou por quererem economizar na passagem, haviam preferido permanecer no campo de treino durante a semana.

O caminho para a fatalidade foi sendo pavimentado aos poucos. Containers não são soluções adequadas para servir de dormitórios. Nem temporárias e muito menos permanentes, como afinal o clube a resolvera considerar. O calor de uma instalação desse tipo no verão tropical do Rio determinou a indispensável montagem de um sistema de refrigeração. A falta de um disjuntor e um curto-circuito num dos aparelhos de ar-condicionado deflagrou um incêndio que, alimentado pelo material das divisórias, transformou em segundos o alojamento numa ratoeira infernal. O container só tinha uma porta.

Da tragédia até hoje, o Flamengo vem negociando indenizações com as famílias das vítimas. Algumas já fecharam acordos com a direção do clube. Outras discutem o valor. Mas, como valorizar uma vida abruptamente terminada em seu início? Como colocar preço num futuro que não aconteceu? O que cada um desses jovens poderia ter sido? Um grande jogador, já que este era o seu sonho? Que tipo de contribuição daria?

Num dos anos esportivos mais gloriosos de sua história, este espinho vai continuar doendo por muito tempo na carne rubro-negra. E ele só poderá ser extirpado quando culpas e desleixos forem devidamente apurados, reconhecidos, identificados, corrigidos. E punidos.

Oswaldo Pereira
Fevereiro 2020

3 comentários:

  1. É o mínimo que o nosso querido clube deve fazer.

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  2. Estou com 78 anos e sou torcedor do Flamengo desde os 8 anos, e nestes anos todos não me lembro de tragédia tão grande. Abalou os torcedores de todo Brasil, principalmente os rubro-negros de coração. Lamentei muito e peço a Deus uma grande graça, amenizando o sofrimento dos familiares. Deus abençoe a todos! Grande abraço do Thomaz Magalhães

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    1. Caro Thomaz, sinto exatamente como você. Um acontecimento tão triste num clube tão cheio de glórias.

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