Em dezembro de 1950, o general americano Douglas MacArthur estava decidido. Convocado pelo Presidente Harry Truman, meses antes, para comandar as tropas de uma coalizão organizada pela ONU e liderada pelos Estados Unidos, ele havia revertido a maré de um confronto que se iniciara em junho daquele ano.
A Guerra da Coreia era, cinco anos após
o término da Segunda Guerra Mundial, a primeira queda de braço entre os dois
vencedores do grande conflito e que, logo após o seu término, haviam-se
colocado em polos ideológica e militarmente opostos. Eram os primeiros choques da Guerra Fria,
cujos episódios se multiplicariam mais tarde, com o bloqueio de Berlim, a
construção do Muro e a
Crise dos Mísseis.
Depois de meses de avanços e recuos de
parte a parte, durante os quais Seul havia trocado de mão quatro vezes, uma
brilhante jogada estratégica de MacArthur tinha permitido ao seu exército irromper
através da linha divisória entre o Sul e o Norte (o famoso Paralelo 38) e espremer
os norte-coreanos até o Rio Yalu, na sua fronteira norte com a China. Com os
americanos às suas portas, os chineses mobilizaram-se e contra-atacaram.
Imediatamente, ante a iminência de uma
batalha de proporções inimagináveis, a ONU resolveu recuar. Ordenado por Truman
a retroceder, MacArthur, dono de um dos maiores egos da crônica militar americana, estava decidido a desacatar a
ordem. Os Estados Unidos eram a única potência nuclear de então e o velho
general insinuava que não hesitaria em fazer uso disso para derrotar os
chineses.
Foi quando Truman proferiu uma de suas
mais conhecidas frases: I’ll fire the son
of a bitch (Vou demitir este fpd)... Dito e feito, e as tropas voltaram a
ficar cada uma em seu lado do Paralelo 38. Só em 1953 é que um armistício (e
não a paz) foi assinado, mantendo a divisão da península em dois países.
Escusado é dizer, essa guerra devastou a
região. Mais uma vez.
A história coreana é uma história de
sofrimento, de destruição e de dor. Colocada geograficamente entre dois
ferrenhos e ferozes inimigos, a Coreia, desde muitos séculos antes da Era
Cristã, vinha sendo imprensada pelas paredes de um torno milenar, com chineses
e mongóis de um lado e os japoneses de outro. Seu território e sua gente,
excluindo apenas alguns hiatos em que conseguiu resistir ao assédio de ambos os
lados, foram, através dos tempos, palco e vítima de avalanches bélicas e de
atrocidades sem fim.
Quando o século 20 começou, a região
fora anexada pelo Império Japonês. Assim ficou até setembro de 1945, servindo
aos nipônicos de celeiro material e humano. Quando os japoneses se renderam e,
devido ao fato de que sua liberação fora
obra de americanos e russos, decidiu-se retalha-la pelo meio, criando-se duas
zonas de influência. A Coreia estava, de novo, espremida entre interesses
poderosos. Não demorou muito para uma nova guerra.
A partir do armistício de 1953, norte e
sul passaram a desenvolver-se de maneira diametralmente oposta. A Coreia do
Norte, debaixo dos olhos soviético-chineses, evoluiu para um regime autocrático
de esquerda e para o culto à família Kim. Hoje, fechada para o mundo e
desprovida do auxílio financeiro que recebia da extinta União Soviética,
definha economicamente, condenando grande parte de sua população ao abismo da
fome. Os poucos recursos são destinados ao aparato militar, às fulgurantes
cerimônias públicas de adoração a um Governo que não admite nem tolera qualquer
resquício de oposição.
A Coreia do Sul, sob influência dos
Estados Unidos, caminhou para um capitalismo em estilo asiático, investindo
profundamente em educação. Atualmente, detém um altíssimo grau de
desenvolvimento técnico, repousado num ambiente democrático e liberal.
Esta dicotomia faz com que a península
coreana seja o exemplo mais visual e explícito da diferença entre duas
filosofias políticas. E, enquanto o Norte se apresenta como um buraco negro de
ideias, o Sul nos oferece sua cultura cada vez mais pujante.
Que o digam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e seus mais de 8.000 eleitores. Na semana passada, pela primeira vez em 92 anos de cerimônias, elegeram uma produção não falada em inglês como Melhor Filme, além de premiá-la nas mais importantes categorias desta edição de 2020. Parasite, do diretor e produtor sul-coreano Bong Joon-ho. Uma cabal prova de que educação e liberdade caminham de mão dadas.
Que o digam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e seus mais de 8.000 eleitores. Na semana passada, pela primeira vez em 92 anos de cerimônias, elegeram uma produção não falada em inglês como Melhor Filme, além de premiá-la nas mais importantes categorias desta edição de 2020. Parasite, do diretor e produtor sul-coreano Bong Joon-ho. Uma cabal prova de que educação e liberdade caminham de mão dadas.
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2020
Fantástico. Sim, educação e liberdade "caminham de mãos dadas".Difícil será a Coreia do Norte conseguir desenvolvolver. Não lutaram quando havia possibilidade. A família Kim usa e abusa da ignorância e talvez medo dos coreanos do Norte. Triste.
ResponderExcluirSeriam precisas muitas gerações para que a Coreia do Norte revertesse o processo. Não vão chegar lá...
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