Há tempos, escrevi um texto aqui no Blog
em que falava sobre certos artistas e sua capacidade de encarnar um personagem da vida real. E apontava alguns cuja
semelhança física com pessoas conhecidas deveria ser aproveitada pelos
responsáveis do casting na hora de
escalar o time de atores. Assim, mencionei os que eu achava perfeitos para
certos papéis, como Cuba Gooding Jr. na pele de Louis Armstrong, Kevin Kline
como Errol Flynn, Jean Dujardin para representar Gene Kelly e, last but not least, Jonathan Pryce como
o Papa Francisco.
No mesmo escrito, eu também chamava a
atenção para atores que, embora com pouquíssima ou até nenhuma parecença com a figura representada, e
mesmo sem utilizar qualquer truque de maquiagem, faziam-nos ver aquela figura. Neste grupo, eu me
lembrava da simbiose de Leonardo DiCaprio/Howard Hughes e Cate
Blanchet/Katherine Hepburn (em The
Aviator), ou Helen Mirren/Elizabeth II (em The Queen), entre vários outros.
Como não acredito que alguém da Netflix
tenha tomado conhecimento desse meu escrito (ou deste meu Blog, para falar a
verdade), foi com uma boa dose de satisfação que soube do lançamento do filme
Dois Papas (The Two Popes). Nele, não
só a minha escolha para fazer Francisco foi contemplada, como a escalação de
Anthony Hopkins para representar Bento XVI veio confirmar, pela enésima vez,
seus insuperáveis talentos de mimetismo. Com alguns segundos de projeção, o
espectador deixa de ver os atores e passa a enxergar somente Bergoglio e
Ratzinger.
A produção cobre o interregno que vai da
eleição do cardeal alemão à do argentino, ou seja, a história recente da Igreja
Católica, um crucial período de questionamentos, recriminações e
enfrentamentos. No pano de fundo, estão os problemas do próprio clero, a
ocultação dos casos de pedofilia, os escândalos do Banco do Vaticano, as
ligações com regimes ditatoriais, a perda de fiéis e a necessidade de reformas.
Na linha de frente, o encontro de duas personalidades diametralmente opostas,
visceralmente engajadas em linhas de pensamento contrárias relativas a assuntos
de doutrina e a respeito do futuro da Igreja.
A aproximação dos dois dá-se, por
iniciativa de Bento XVI, no momento em que este prepara-se para renunciar ao
trono de São Pedro. Nesta época, descontente com os rumos conservadores
defendidos pelo Vaticano, o Cardeal Bergoglio deseja, também ele, abdicar de
seu posto episcopal.
Nesse contexto, a magistral
interpretação de Pryce e Hopkins faz com que um roteiro constituído quase que
exclusivamente de diálogos e de cenas simples brilhe intensamente. Não vou
contar mais nada para não estragar a festa. Mas, aqui vai uma recomendação.
Católico ou não, interessado ou não em história religiosa, procure não perder o
filme e (grande pecado) as atuações inesquecíveis destes dois magos da cena
cinematográfica mundial.
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2019
Mais incrível do que estarem a discutir a forma da Terra é a Igreja Católica manter-se de pé. "Inabalável",por todos estes séculos. De fato, isso pra mim é um mistério e um milagre.
ResponderExcluirConcordo plenamente. Fés duram mais que filosofias, costumes, políticas e idolatrias. O ser humano parece precisar delas mais do que qualquer outra coisa...
ExcluirTambém me apaixonei pelo filme, as situações discutidas e comentadas pelos dois personagens e - concordando plenamente com você - a atuação excelente dos atores. Abraços.
ResponderExcluirE eu me pergunto: será que a relação dos dois continua nesses mesmos termos?
ExcluirSe tu sugeres...eu vou ver o filmem ,mas parece-me que ainda não chegou ! Um abraço.
ResponderExcluirFernanda
Procure ver, prima. Vale a pena.
ExcluirCenas lindas e a atuação dos dois grandes atores é o ponto alto do filme.Excelente as trilha sonora.
ResponderExcluirClaro é uma ficção essa relação dos dois nos diálogos, mas fatos reias são as renuncias de ambos. bjs Zezé
Os diálogos, embora presumidos e imaginados, mostram bem a profunda diferença entre os dois. A Igreja deu uma volta de 180 gráus.
Excluir