segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2019



Quando criei este Blog em fevereiro de 2013 (Deus meu, como o tempo passa), imaginava-me um comentarista cuja verve iria atrair milhares de atentos e sequiosos seguidores, todos ávidos para devorar as ideias e as palavras produzidas por meu inesgotável manancial literário. Ah! as sandálias da humildade. Depois de quase 7 anos, os meus pés estão descalços e esfolados pelo chão áspero da realidade.

In illo tempore, e até recentemente, cria-me acorrentado a uma obrigação anual de brindar afortunados leitores com as minhas esclarecidas análises sobre o ano que ia-se findar - as famosas (e ubíquas) Retrospectivas, praga que acomete, todo final de dezembro, cronistas, editores, jornais, canais de TV e blogueiros, como este seu incorrigível criado. E, assim, vinha repetindo o ritual, a cada final de ano.

Desta vez, pensei em ser diferente e pular o evento. Afinal, quem iria perder seu precioso tempo, antenado em catadupas de imagens captadas pelo Instagram, por textos microscópicos e telegráficos do Twitter e pelos expressivos emojis do Facebook e atentar para um palavrório meu sobre um ano que morre? T’esconjuro.

Mas, o fascínio do calendário me é irresistível. O tempo envolto em cápsulas de 365 (ou 366) dias acaba por suscitar uma pausa de reflexão. E de perguntas. Por que este ciclo, que une convenções a ritmos imutáveis da Mãe Natureza, exerce tanta devoção e tanta expectativa nas gentes? Por que o término de um conjunto de quatro estações e o início de outro enchem-nos de resoluções e esperanças?

Não vou, entretanto, falar do mundo, do que ocorreu de importante no globo. Disto, a Globo, e milhares de outros canais de informação encarregar-se-ão. Não quero ser bis in idem, chover no molhado,

Como eu mesmo já disse por aqui, a história de um determinado ano acontece em vários planos. Ele pode ser lembrado por um acontecimento planetário ou por uma estória individual, particular. Coisas que só a nós causaram impacto. Casamento, nascimento de filhos, primeiro beijo, primeira transa, primeiro emprego.

Para mim, por exemplo, 2019 foi minha glória como torcedor e adepto. No início do ano, o querido Flamengo foi campeão carioca. Viajei para Portugal a tempo de ver o meu Benfica sagrar-se campeão português. A seguir, Portugal ganhou a Liga das Nações e o Brasil a Copa América. Regressei ao Rio para assistir novamente o Flamengo conquistar, com 4 jornadas de antecedência, o Campeonato Brasileiro, 24 horas depois de também ter vencido a Copa Libertadores. Vivesse eu mais 50 anos, e alguém me perguntasse como fora o longínquo 2019, certamente esta seria a sua marca para mim.

E, assim, o ano terá mais de 7 bilhões de resenhas. Reveja a sua. E, como cada um destes bilhões, sinta a esperança de um novo ciclo, de um novo tempo e comece a escrever sua nova estória anual assim que os ponteiros se juntarem na vertical na noite do dia 31.

UM FELIZ 2020!

Oswaldo Pereira
Dezembro 2019

2 comentários:

  1. Mon Dieu como escreves tão bem !Sigo religiosamente os teus blogs e, regra geral ,concordo com as tuas ideias ! Um abraço grande.
    Fernanda

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    1. Quanta bondade de sua parte, querida prima. Como dizia uma tia minha mineira "eu não sou merecendengo"...

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