Quando criei este Blog em fevereiro de 2013 (Deus meu, como o tempo passa), imaginava-me um comentarista cuja verve iria atrair milhares de atentos e sequiosos seguidores, todos ávidos para devorar as ideias e as palavras produzidas por meu inesgotável manancial literário. Ah! as sandálias da humildade. Depois de quase 7 anos, os meus pés estão descalços e esfolados pelo chão áspero da realidade.
In
illo tempore, e
até recentemente, cria-me acorrentado a uma obrigação anual de brindar
afortunados leitores com as minhas esclarecidas análises sobre o ano que ia-se
findar - as famosas (e ubíquas) Retrospectivas,
praga que acomete, todo final de dezembro, cronistas, editores, jornais,
canais de TV e blogueiros, como este
seu incorrigível criado. E, assim, vinha repetindo o ritual, a cada final de
ano.
Desta vez, pensei em ser diferente e
pular o evento. Afinal, quem iria perder seu precioso tempo, antenado em
catadupas de imagens captadas pelo Instagram, por textos microscópicos e
telegráficos do Twitter e pelos expressivos emojis
do Facebook e atentar para um palavrório meu sobre um ano que morre? T’esconjuro.
Mas, o fascínio do calendário me é
irresistível. O tempo envolto em cápsulas de 365 (ou 366) dias acaba por
suscitar uma pausa de reflexão. E de perguntas. Por que este ciclo, que une
convenções a ritmos imutáveis da Mãe Natureza, exerce tanta devoção e tanta expectativa
nas gentes? Por que o término de um conjunto de quatro estações e o início de
outro enchem-nos de resoluções e esperanças?
Não vou, entretanto, falar do mundo, do
que ocorreu de importante no globo. Disto, a Globo, e milhares de outros canais
de informação encarregar-se-ão. Não quero ser bis in idem, chover no molhado,
Como eu mesmo já disse por aqui, a história
de um determinado ano acontece em vários planos. Ele pode ser lembrado por um
acontecimento planetário ou por uma estória individual, particular. Coisas que
só a nós causaram impacto. Casamento, nascimento de filhos, primeiro beijo,
primeira transa, primeiro emprego.
Para mim, por exemplo, 2019 foi minha
glória como torcedor e adepto. No início do ano, o querido Flamengo foi campeão
carioca. Viajei para Portugal a tempo de ver o meu Benfica sagrar-se campeão
português. A seguir, Portugal ganhou a Liga das Nações e o Brasil a Copa
América. Regressei ao Rio para assistir novamente o Flamengo conquistar, com 4 jornadas
de antecedência, o Campeonato Brasileiro, 24 horas depois de também ter vencido
a Copa Libertadores. Vivesse eu mais 50 anos, e alguém me perguntasse como fora
o longínquo 2019, certamente esta seria a sua marca para mim.
E, assim, o ano terá mais de 7 bilhões
de resenhas. Reveja a sua. E, como cada um destes bilhões, sinta a esperança de
um novo ciclo, de um novo tempo e comece a escrever sua nova estória anual
assim que os ponteiros se juntarem na vertical na noite do dia 31.
UM FELIZ 2020!
Oswaldo
Pereira
Dezembro
2019