APRENDENDO A LER
РЕСТОРАН.
ВИНО. ВОДКА.
РАДИО.
СТОП.
ВОЛГА.
МОСКВА. РОССИЯ.
E agora?
Inventadas por Cirilo e Metódio, dois
irmãos nascidos em Tessalônica no século IX, estas letrinhas são o primeiro
impacto visual para quem sai do Aeroporto Internacional de Domodedovo, em
Moscou. Teólogos e missionários, estes dois monges iriam usar o alfabeto criado
por eles na conversão dos povos eslavos que habitavam o imenso território
russo. Inicialmente confusos e desorientados, nos perguntamos: por que diabos
fizeram isto?
Está tudo escrito em cirílico. Placas de
trânsito, neons coloridos, nomes de ruas, outdoors, reclames nas janelas dos
ônibus, menus... O jeito é tentar pelo menos decifrar a correspondência destes
caracteres de desenho elegante com nossas letras latinas. E, acreditem, é um
estimulante exercício. Até porque, assim que a névoa da ignorância vai-se
dissipando e, lentamente, as palavras se encaixam nos nossos neurônios, vamos
descobrindo, deliciados, que cerca de trinta por cento do que lemos repousam
suas raízes em solo comum. Querem ver?
Se você aprender que o Р tem som de R, o
С de S, e o Н de N, você vai saber onde matar sua fome ao ler a primeira
palavra deste post. РЕСТОРАН =
RESTORAN. Mais? Com В igual ao nosso V e este invertido И com o som de I, leia
segunda. Vino. Que tal, já vai também
matar sua sede. Algo mais forte? Com os conhecimentos adquiridos acima e
descobrindo que Д é apenas um D com perninhas, a antes impenetrável ВОДКА vai
aquecer-nos internamente.
Mais um pouquinho e já poderá ler o
resto. Uma tabelinha. П=P. Л=L. Г=G. Я=Iá. Pronto. De repente, é como se
saíssemos das trevas do analfabetismo para a luz da sabedoria. É claro que
meramente transpondo as palavras para o nosso alfabeto não nos vai fazer
entender tudo. O russo é um idioma complexo, com extenso vocabulário e várias
declinações. Mas, ajuda. E muito.
UMA
NOITE NO METRÔ
MAPA DO METRÔ DE MOSCOU |
A maioria das grandes capitais europeias
já possuía seus sistemas de transporte subterrâneo quando, em 1935, Moscou
resolveu construir o seu. Era um projeto de afirmação nacional, desenhado para
ser o maior, mais extenso e mais luxuoso do mundo. Stalin não fazia por menos.
ESTAÇÃO KOMSOMOLSKAYA |
Hoje é apenas o quinto do mundo em
tamanho. Mas suas proporções são gigantescas. Treze linhas, 203 estações, 340
quilômetros de extensão e 9 milhões de passageiros por dia. E ninguém o supera
em profundidade (quase 100 metros abaixo da superfície em alguns trechos) e em
beleza. Algumas estações são verdadeiras catedrais, decoradas com esculturas,
pinturas, arcos de clássica imponência, pisos e paredes de mármores
multicoloridos, lustres cintilantes, mosaicos intrincados.
ESTAÇÃO KIEVSKAYA |
Fomos vê-lo à noite, fora das horas de
pico. МАЯКОВСКАЯ. O nome em cima do
portão de acesso não nos mete mais medo. É a entrada de uma das mais lindas
estações de Moscou, Mayakovskaya. Fica
debaixo da praça de mesmo nome e pertence à Linha Verde, talvez a mais
movimentada do sistema. Partindo dela, vamos saltando em várias outras,
baldeando entre as linhas, tirando fotos e mais fotos, caminhando pelas amplas plataformas, subindo e descendo
escadas rolantes, nas profundezas da terra.
ESTAÇÃO MAYAKOVSKAYA |
A profundidade mostrou-se providencial
durante os bombardeios da Segunda Grande Guerra, oferecendo um abrigo seguro
para a população. Entre 1941 e 1945, a ida para as estações durante os ataques
aéreos tornou-se rotina. No período, 300 crianças nasceram entre as imponentes
colunas do metrô moscovita.
UMA
PRAÇA BONITA
A palavra красная (krasnaya), em russo, tem dois significados. Quer dizer vermelha. Mas também quer dizer bonita. Nada mais apropriado do que
assim batizar a imensa praça que se espraia ao longo da fachada leste do
Kremlin, entre a Catedral do Manto da Virgem (mais conhecida como Catedral de
São Basílio, o Beato) e o edifício encarnado do Museu Histórico. Quem, como eu,
que passou a vida assistindo a velhos documentários dos grandiosos desfiles
militares soviéticos, com seus tanques, canhões, soldados em cadência marcial
na sua ordem unida impecável, à sombra dos senhores do poder, encarapitados
solenemente nos palanques sobre o portão principal do Kremlin, não pode ficar
imune. Você está ali!
PRAÇA VERMELHA |
LOJAS DO COMÉRCIO SUPERIOR |
Mas, do outro lado da praça, o passado é
engolido pelo presente. Num gracioso prédio de 5 andares, em rico estilo art-nouveau, estão as galerias das Lojas
do Comércio Superior com tudo o que há de mais sofisticado em termos griffes ocidentais, ícones do
capitalismo internacional.
O que pensaria o avô Lênin?...
(continua)
Oswaldo
Pereira
Outubro
2016
O avô pensaria e tb diria aos seus netinhos. " É isso aí minha gente, o sol nasce para todos" Linda a sua Russia, Oswaldo.
ResponderExcluirIdeologias, ideologias... Vêm, e vão. Deixam muitas cruzes nos cemitérios, muita tinta seca em tratados abandonados, muito sonho virado pesadelo. A quoi bon?...
ExcluirVale a pena conhecer a Russia. Fiz uma viagem fluvial de 12 dias, começando em Moscou e acabando em Saint Petersburg, passando pelo Neva, pelo Volga, varios lagos ... tudo muito lindo, muito rico nas duas grandes cidades. Quando você descreve a Praça Vermelha, o Kremlin e as lindas igrejas, surtout a linda Saint Basile, faz-me relembrar tudo isso. O metrô é incrivel e as estações do anel central são lindissimas.
ResponderExcluirKalinka, kalinka, kalinka moïa! v sadou iagoda malinka, malinka moïa ! Akh, pod sosnoïou, pod zelionoïou, Spať polojite vy menia !
Realmente a lingua é bem complicada (gostei do uso de sua sabedoria para deduções) e o povo não é nada simpatico.
Dans l'attente de la suite ...
Você acertou em cheio. Fiz a mesma viagem (de repente, até no mesmo barco, o Andrei Rublev). Cansei de cantar Kalinka... E o povo realmente é bruto pacas. Mas a Rússia, dos pardieiros da era Kruschev aos ovos de Fabergé, é fascinante. Ay luli, luly, Ay luli luli. Do svidania, Kalinka maya.
ExcluirQue maravilha ! E, a sua facilidade para decifrar esta lingua e aproveitar muito mais a viagem.Tudo grandioso. Agora pergunto. Esta grandiosidade tornaria menos belo o conjunto? Que privilegio tenho eu ouvindo a interpretação de tudo.
ResponderExcluirAguardo mais..., abraço, Cleusa.
Talvez, mas a grandiosidade russa precisa ser entendida como destino. Um pais daquelas dimensões não pode se contentar com nada menos.
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