Sou carioca. Sempre tive orgulho nisto.
Quando estou fora do país, gosto de ver a expressão das pessoas ao responder à
pergunta de onde você é? À frase sou do Rio de Janeiro, os rostos se
iluminam, uma imagem quente de praias e palmeiras parece brincar em seu olhar,
o sorriso se abre num aaah! de
aprovação fagueira.
Uma mística de paraíso, uma brisa suave
que vem do mar, a garota que ondula a caminho dele, o mosaico sinuoso de
Copacabana, o eco dos tamborins, o Cristo suspenso numa noite clara. É isto que
elas sentem, toda vez que ouvem o nome da minha cidade.
Em tempos recentes, no entanto, o nosso
colorido foi esmaecendo. No preto e branco da realidade, as imagens se estilhaçaram
num caleidoscópio de figuras sombrias, e a cidade-sonho se perdeu na bruma de
seus problemas.
Se os temos? É claro que sim. E são
muitos. O Rio tem características próprias que complicam ainda mais os
percalços comuns a toda megacidade. A beleza natural que o faz deslumbrante, o
espetáculo portentoso dos bairros se esgueirando entre o mar e as montanhas, as
grandes florestas urbanas, o salpicado de lagoas e colinas, e a sua grande extensão
aumentam exponencialmente os problemas de saneamento, mobilidade e segurança.
Administrações descuidadas, para se
dizer o mínimo, ao longo de décadas, contribuíram para piorar o quadro. E a
imprensa, nacional e estrangeira, completou o desserviço, municiando as
manchetes e os âncoras de todo o mundo só com o que havia de mais daninho em
matéria de press release.
A lente de aumento da proximidade das
Olimpíadas fez a propaganda negativa virar paranoia. Uma tempestade perfeita,
que carregava nuvens de mosquitos assassinos, insalubridade das águas, inferno
nas ruas e calamidade financeira, foi sendo anunciada, à medida que os Jogos se
aproximavam.
E aí a coisa passou dos limites. Teve muita
gente torcendo contra, muita Cassandra de araque
vaticinando catástrofes, muita aposta no desastre. Aqui e lá fora, jornais tendenciosos,
colunistas emproados, ispertos cheios
de si, atletas se recusando a vir, talk
show hosts metidos a engraçados, dirigentes esportivos de nariz em pé, e outros palhaços,
debocharam, advertiram, diminuíram, acusaram, fizeram pouco.
E agora, meus caros queridos? E agora que
a linda festa acaba neste dia de chuva e vendaval, e eu aqui neste Maracanã
imerso em luzes e sorrisos, dançando ao som de um samba eterno, vejo gente de
todo o mundo reverenciar os Jogos perfeitos, os Jogos que venceram a zika e o mau agouro, a sombra dos
atentados e da violência, o pessimismo, a cara torcida, o veneno da inveja.
Agora é a minha hora. Minha hora de
mandar um recado no estilo mais carioquês
de que eu sou capaz.
Alô, galera do Washington Post,
New York Times, Guardian e congêneres. Vão lá no arquivo e catem as páginas em
que disseram que uma catástrofe se aproximava. Cortem-nas em pequenos pedaços e
os engulam devagar. Se quiserem, passem um pouquinho de peanut butter para dar gosto. Eu deixo.
Alô, Hope Solo, goleira do time americano.
Tire aquela roupa de escafandrista do armário. Vista-a, vá até a cozinha e
coloque no forno o “frango” enorme que você aceitou no jogo com a Colômbia.
Deixe assar bem. Mas, não passe peanut
butter. Eu não deixo.
Alô, Ryan Lochte, mistura de Mr. Bean
com os Três Patetas. Raspe este cabelo platinado, compre um caderno de
caligrafia e escreva dez mil vezes – Brazil
is NOT a banana republic. Depois, mostre para os outros seus amigos.
Mande-os escrever mesma coisa. Em português.
Alô Renaud Lavillenie. Compre um DVD das
Olimpíadas de 1936. Veja e reveja. Se achar alguma semelhança entre o Estádio
Olímpico de Berlim e o Engenhão em festa, ganha um ingresso grátis para
assistir a um Flamengo e Vasco. No meio da torcida cruzmaltina, tente gritar “Mengooo!”.
Vai ver que vaia é refresco.
Alô, tchurma
que evitou vir ao Rio, com medo do apocalipse. Tirem uns selfies e usem o photo shop para montar uma cena com a Arena de Copacabana atrás.
Depois, postem no Face escrevendo em
baixo Eu Fui!. Em seguida, enfiem a
cara no travesseiro e chorem. Podem deixar. Eu não conto para ninguém.
Por fim, alô meu Rio de Janeiro. Meu
berço esplêndido. Medalha de ouro para você. E, para mim, a ventura de ter ido
às arenas e aos estádios, às ruas e aos bulevares, de ter visto rios de gente
feliz, cascatas de sorrisos, olhos brilhantes de alegria e êxtase, cânticos,
vaias, aplausos, lágrimas e celebrações. Vi, vivi e vou guardar para sempre no
fundo da lembrança este seu momento de glória.
Oswaldo
Pereira
Agosto
2016
Emoção pura..........estava junto o tempo todo e esperando isto para estampar na cara das invejas, principalmente nacionais.....aquelas que põem ideologias acima da pátria.........
ResponderExcluirFoi ótimo curtir tudo isto com você, que ama este Rio com esta mesma intensidade...
ExcluirMuito bom, e parabéns caro amigo: disse tudo aquilo que o carioca gostaria de dizer. Grande abraço
ResponderExcluirObrigado, caro Thomaz. Seu que você também ama este Rio medalha de ouro...
ExcluirNão participei fisicamente, mas acompanhei os acontecimentos... perfeito... emocionante.. lindo...alma lavada...
ResponderExcluirE o primeiro evento olímpico a que assisti foi aí em São Pedro: a passagem da tocha. Um ótimo começo...
ExcluirGrande Oswaldo
ResponderExcluirNão vaticinei desgraça mas temi pelo sucesso pelas mesmas razões que voce conhece. Foram porém dias em que me emocionei e fico extremamente feliz com o resultado positivo desse evento maravilhoso.
Grane abraço
Zé Correa
Uma prova de que, quando queremos, podemos...
ExcluirOla Oswaldo
ResponderExcluirFoi demais Um espetáculo que não esperava que fosse assim de colorido e entusiasmo pese a chuva . que não atrapalhou. Pura emoção O maracanã nunca esteve tão grandioso.
O recado para os grandes jornais que vaticinaram o fracasso foi bem apropriado.
Parabéns Oswaldo
Emilio Telleria
Parabens
Obrigado, caro Almirante, você que é um carioca de coração.
ExcluirTal como bem escreveu, aconteceu uma histórica e bonita festa e, de facto, uma grande lição...
ResponderExcluirForte abraço de PARABÉNS!
Obrigado, Zé. Estamos de malas prontas. Devemos chegar aí no dia 1. Grande abraço.
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