«Pedro, meu café...»
«Senhor!? Mas... tão cedo. Afinal, hoje
é domingo, o sétimo dia. Não é o dia de
Seu descanso?»
«Seria... Mas hoje quero ver as finais
do Remo, na Lagoa»
«Ah... Olimpíadas do Rio, novamente. Não
está farto desses jogos? Afinal, desde que Milon de Crótona matou aquele touro
com um soco em Atenas que o Senhor vem assistindo a essas competições. Não se
cansa?»
«Pois é... Deveria estar cheio disto, né?... Na verdade, depois daquele sucesso
dos comunistas em 1988 eu meio que me desinteressei. Mas, estas olimpíadas são
especiais...»
«Lá vem o Senhor de novo com esta predileção
pelo Rio e pelo Brasil. Olhe que isto pode começar a dar na vista...»
«Ora, Pedro, não me venha com aquela
piadinha surrada do “vai ver o povinho
que eu botei lá”...»
«Não, é claro que não, mas, puxa, desde
que o Senhor deu aquela sopradinha na vela dos navios de Cabral que eu noto uma
certa predileção.»
«Não exagere, Pedro. Trato todo mundo igual. E também deixo muito para
a iniciativa de cada povo. Egípcios, gregos, romanos... Cada um tem sua época
de ouro. Depois, com ou sem minha ajuda, vem a decadência. Lembra-se da Idade
Média? Deixei correr. Estavam brigando muito. Guerras que duraram cem anos.»
«E aí o Senhor mandou a Peste Negra e
liquidou com um terço da população mundial...»
«Para arrefecer os ânimos... Às vezes, é
necessário...»
«Como as grandes guerras do século
vinte?»
«Não, não. Isto foi obra do fdp do Satanás... Bomba atômica...
Caramba, o cara não faz por menos...»
«Mas, voltando aos brasileiros. O Senhor
deixou que eles ocupassem aquele imenso território. Um escândalo, comparado com
o Uruguai, por exemplo. E as praias?... Meu Deus, quero dizer, meu Senhor...»
«Mas, veja bem Pedro, aquela gente é
super legal. Não gostam de guerras. Entraram numa com o Paraguai porque não
teve outro jeito. Na de 1939, só foram no finzinho. São cordatos...»
«E preguiçosos...»
«Sim, mas e daí? Não foi um xará seu, o
Peter Drucker, que considerava como funcionário ideal o inteligente preguiçoso? É aquele que vai sempre encontrar um jeito
de resolver os problemas com um mínimo de esforço. Depois, vivem deixando para
mim a solução de muita coisa. É um tal de se
Deus quiser, nas mãos de Deus, valha-me Deus. Inventaram até que eu sou
conterrâneo deles...»
«Não acha que é muita bajulação? Deviam
amadurecer, encarar a vida com seriedade. Duas semanas de Carnaval em
fevereiro. Não é demais?»
«Talvez, talvez. Mas, como naquela frase que eu soprei para o Vinícius. É melhor ser alegre do que triste. Quer saber? Vou continuar ajudando. Eles me fazem
rir. Estão vibrando nestas Olimpíadas e ganharam só quatro medalhas até agora.
Não é fantástico?»
«Bem... O Senhor é quem sabe...»
«Sossegue, Pedro. Olhe só que beleza de
cenário. As águas da Lagoa, o morro com a estátua do meu Filho, o verde da
floresta, o azul do céu... Vai lá buscar o meu café que eu não quero perder nem
um lance...»
Oswaldo
Pereira
Agosto
2016
Então, será que Pedro não sabe que Deus é brasileiro?
ResponderExcluirSimão Pedro, o pescador, negou que conhecia Jesus não uma, mas três vezes. Dá para confiar?
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