Eu
estava em Paris, numa delicada Casa de Chá do Boulevard Housemann. Era um dia
livre do curso que frequentava no INSEAD e, com outros três colegas, viéramos
de Fontainebleau para curtir a tarde de primavera. Tínhamos apenas acabado de
degustar uns petit fours quando um
dos meus companheiros soltou um tremendo arroto. Foi como se uma bomba
explodisse. Das outras mesas, um eco silencioso de indignação lançado pelos
olhares escandalizados dos outros clientes nos fuzilou. O responsável por este
ato, ignóbil para os franceses, era, nada mais nada menos, do que um dos mais
graduados alunos do curso, um indiano da mais alta casta e Presidente de uma
importante multinacional com sede em Nova Delhi. Ele apenas fizera o que a
etiqueta de seu país recomendava.
Anos
antes, morando na Itália e trabalhando na General Electric em Milão, participei
de uma reunião de negócios entre a empresa americana e uma gigante italiana da
área química, a Montecatini Edison. Esta era representada por um dos seus Vice-Presidentes,
um milanês de sangue nobre e membro da alta roda da sociedade. Pela GE, além de
mim, vinham dois engenheiros estadunidenses, formados nas melhores escolas, mas
em sua primeira experiência internacional. E que não viram nada de mais em
tratar o italiano por seu primeiro nome e colocar os pés em cima de sua mesa,
na clássica postura dos jovens executivos norte-americanos da época. Era de se
ver a expressão do horrorizado milanês.
Por
que estou contando isto?
Porque
costumes, hábitos, posturas e comportamentos diferem bastante de lugar para
lugar, de uma cultura para outra. Todas as pessoas citadas acima haviam
recebido a melhor educação possível em seus países e convivido com o que tinha
de melhor em suas sociedades. Agiam de acordo com os seus códigos de conduta. O
que para uns era uma atitude normal, para outros era uma catástrofe
comportamental.
Foi
isto que o atleta Renaud Lavillenie não percebeu. A vaia nos estádios é quase
um patrimônio cultural brasileiro. Além do minuto de silêncio, na frase
repetida, mas genial, de Nélson Rodrigues, vaia-se tudo nos ginásios pátrios.
Hinos, gestos, discursos, gol contra, autoridades presentes, anúncio de
funeral. Vai parecer desrespeito e falta de educação para outros povos, é
claro. Como os arrotos indianos e a descontração americana, a vaia brasileira pode
causar arrepios, mas nada mais é do que o nosso jeito. Só não avisaram o
francês. Também esqueceram de aconselhá-lo a não falar com a imprensa com a
cabeça quente. Fazer uma comparação do sucedido no Engenhão com o que aconteceu
em Berlim em 1936 foi uma atitude no mínimo infeliz. Parece preconceito. E é.
Então,
tome vaia...
Oswaldo Pereira
Agosto 2016
Não posso concordar, amigo!!
ResponderExcluirFoi uma vergonha!!
OK, amigo, respeito sua opinião. Mas esta nossa maneira de se expressar vem das arquibancadas do futebol, esporte de massa acompanhado por 90% dos brasileiros. Vai precisar muita coisa, e muitas gerações, para que isso mude.
ExcluirUma coisa é seu time ser vaiado, outra é você, o individuo passar por isso.
ResponderExcluirVerdade, os franceses odeiam perder e não aceitam a derrota facilmente, mas essa atitude da torcida brasileira foi "hors de propos" ...
Mas, "par contre", parece que o francês não cumprimentou o brasileiro vencedor, sinal de arrogância !
Na FR a imprensa diz que o BR é somente um pais de futebol, assim, explica, a torcida não sabe se comportar quando de outros esportes (mais finos, mais elite ???). Será ?
É pouco por aí. Acostumados ao "fuzuê" de uma arquibancada cheia e apaixonada, não temos ainda a fleugma de assistir a um salto em altura ou a uma luta greco-romana em respeitoso silêncio. E, não creio que algum dia chegaremos lá...
ExcluirOswaldo,também não aceitei a vaia ao Temer por estar ali representando em ato público o Brasil como seu atual Presidente. Aceitando ou não como presidente ele não se impôs, a situação o colocou ali.Depois de anos com governos sem ética e com mínima cultura, não se poderia esperar nada diferente.Não precisavam bater palmas, mas vaiar???
ResponderExcluirA vaia é, em todo o mundo, uma expressão de desagrado do público com a qualidade de um espetáculo ou com a atuação de um protagonista. Sempre foi assim desde o teatro grego. Considerando a performance dos nossos homens públicos, acho que eles merecem, sim, uma estrepitosa vaia...
ExcluirNa abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em 2014, o Presidente da Fifa, Blatter, ficou indignado com a vaia dirigida a Presidente Dilma,
ResponderExcluirno momento em que foi anunciada sua presença no evento. E tome vai... Acho que jamais o Brasil vai abandonar esta manifestação. Grande abraço.
Eu me lembro. Ele tentou puxar a orelha do público, logo ele, um comprovado corrupto. Levou uma vaia maior ainda, para deixar de ser besta...
ExcluirEstimado Primo,
ResponderExcluirSe não estou fazendo confusão, li em algum veículo de comunicação que na Itália não é comum vaiarem óperas mal sucedidas. E óperas são apresentadas em ambientes de gala.
Ora, somos efusivos, vibrantes; vaiamos estrepitosamente e aplaudimos calorosamente, mas raramente passamos para a agressão. E que continuemos a nos manifestar, pois é uma delícia!
Abraços,
Geraldo
Os italianos vaiam até no templo da ópera, o Scalla de Milão. Nós vaiamos por "default", antes, durante e depois. É como você disse - assim somos nós...
ExcluirOlá Oswaldo.
ResponderExcluirNão gostei da vaia ao atleta francês pois considero que em competições que exigem concentração a uma atividade individual a vaia prejudica sim pois o atleta mesmo que avisado do costume esportivo do pais ele não é preparado para não ligar a vaia.
A vaia como V. mesmo diz é uma manifestação de desagrado, de insatisfação etc. mas não é o caso com o nosso amigo francês.
Abraços
Emilio Telleria
Concordo que a vaia durante a competição não seria devida ao francês. Mas, ao que ele disse depois....
Excluir