No dia 22, uma grande
manchete d’O GLOBO informou em caixa alta que o sistema de previdência do
funcionalismo público tem um rombo previsto de R$2,4 trilhões. Isto mesmo,
TRILHÕES. Em outra linguagem, 44% do Produto Interno Bruto deste país. Mas, eu
não me espantei com o número. Me espanta, e muito, é verificar que isto ainda
pode causar surpresa.
Se sempre houve uma coisa
certa, além da morte, esta coisa foi a certeza da inviabilidade do Regime Próprio
de Previdência brasileiro. Para
entenderem melhor o que é isto, explico que este é o nome de um dos mais
generosos sistemas de pensões e aposentadorias do mundo civilizado. Suas normas
de cálculo e concessão de benefícios para os empregados da Administração Pública
nacional obedecem a critérios totalmente diferentes do Sistema Geral de
Previdência, aquele ao qual todos os outros brasileiros são filiados.
Enquanto
que no nosso (porque me incluo na
multidão ignara dos dependentes do INSS) regime convivemos com, e amargamos, a
vilania dos tetos, as inúmeras surrupiadas
impostas por legislações cruéis, o achatamento do valor da minguada
aposentadoria mercê de uma obscena e desonesta política de correção, o
funcionalismo estatal tem suas pensões equiparadas ao valor dos salários dos
funcionários ativos da mesma categoria e recebem o mesmo aumento e nas mesmas
épocas que eles.
Assim, no mesmo passo em que
os pensionistas do INSS, que contribuíram pelo teto de 20 (e depois 10)
salários mínimos, hoje recebem, no máximo, o equivalente a 4,8, os aposentados
estatais mantêm seu ganho intacto. Isto está mais do que evidente no fato de
que a União gasta quase o mesmo valor com os dois sistemas, sendo que o Sistema
Geral tem atualmente quase 20 milhões de beneficiários, e o Regime Próprio,
apenas dois milhões. Ou seja, dois patamares diferentes e, perante os olhos da
República, duas classes de cidadãos.
Como o esforço contributivo
é completamente diferente nos dois regimes, fica também evidente que não há elucubração
matemática que possa fazer o Regime estatal fechar suas contas. Como eu já
disse antes (e várias vezes) aqui neste blog,
sistemas previdenciários, diferentemente dos planos privados de aposentadoria,
funcionam em base caixa. Ou seja,
quem hoje trabalha e contribui paga os benefícios de quem está aposentado.
Isto, é claro, pressupõe uma relação contribuinte/pensionista favorável. A
regra de ouro da Previdência aconselha que essa relação seja de 3 contribuintes
para cada aposentado. Se no Sistema do INSS, com os achatamentos indecentes ao
longo dos anos, esta relação está próxima de 1,3, imaginem então no Regime
Próprio. Segundo o GLOBO, poderá afundar abaixo de um para um em breve,
pressionado em boa parte pelo mesmo fenômeno que influencia todos os regimes de
base caixa do mundo – o aumento da expectativa de vida.
De qualquer maneira, a conta
já não fecha há muito tempo. Já há municípios em que a contribuição para o fundo
de pensão ultrapassa a receita e outros órgãos em que já existem mais ex-servidores
do que funcionários ativos. Como, então, as aposentadorias estão sendo pagas?
Ora, caros amigos, porque verbas vêm e vão ao sabor de algumas canetadas, dadas
por quem de direito e, de repente, a compra de um crucial equipamento
hospitalar é jogada para escanteio afim de permitir a emissão dos contracheques
dos esperados benefícios...
Como disse no início, isto
não é novo. A diferença agora é que, graças ao monumental desgoverno que nos
assola, a grana acabou. Acabou total.
Não dá mais para ensejar a dança das verbas, simplesmente porque elas não estão
lá. E a generosidade de um sistema impossível de ser mantido será revogada da
maneira mais simples, e talvez a mais brutal. Não haverá dinheiro para sustentá-la.
Oswaldo Pereira
Fevereiro 2016
Com minhas sinceras desculpas, "vade retro, Oswaldo".
ResponderExcluirrsrsrsrs...
ExcluirOla Oswaldo
ResponderExcluirEntão pelos seus calculos
é mais efetivo mexer nas aposentadorias de 2 milhões do que tirar mais um pouco da minguada "beneficio" do INSS.
Mais mexer com o poder é complicado.
mas vai ter que acontecer poi o caixa zerou.
Abraços
Emilio
Pois é, caro Gonzalo. Embora os direitos estejam assegurados pelo Regime Único, não haverá "tutu" para pagá-los. Os cofres estão ficando vazios...
ExcluirOla Oswaldo
ResponderExcluirEntão pelos seus calculos
é mais efetivo mexer nas aposentadorias de 2 milhões do que tirar mais um pouco da minguada "beneficio" do INSS.
Mais mexer com o poder é complicado.
mas vai ter que acontecer poi o caixa zerou.
Abraços
Emilio
Será que o MORO pensa em olhar pelos aposentados ?Teríamos que construir milhares de prisões pelo Brasil afora !!!!!
ResponderExcluirAbraço,
Cleusa.
Se fossemos prender todos os salafrários deste país, seria preciso realmente construir muitas prisões. Só que as obras seriam superfaturadas...
ExcluirOswaldo ouço isto em casa ha mais de 25 anos!!! Todas às vezes q comentei isto com pessoas de vies ideológico de esquerda ( vc se lembra da Tania ex do luizinho rsrs) quase apanhei. Enquanto a sociedade brasileira decidir brigar com a matemática e mantivermos uma ideologia dominante pouco racional isto não se resolverá.
ResponderExcluirO socialismo, embora baseado numa filosofia até aceitável, peca por se distanciar frequentemente da realidade. Basta só olhar o Mapa Mundi para ver que seu sucesso como regime é escasso e temporário. O pior é que a esquerda dificilmente entende o que se passa, e não aceita divergências...
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