sexta-feira, 8 de maio de 2015

QUANDO APRENDERÃO?






A cidade está em ruínas. O Portão de Brandenburgo ainda resiste de pé, mas, atrás dele, todos os prédios da Siegesallee, a majestosa Avenida da Vitória, estão destruídos. A Praça Potsdam perdeu os graciosos contornos que circundavam o edifício da Chancelaria e nada mais é do que um cemitério de paredes desabadas. Até onde a vista pode enxergar, o que sobrou foram estruturas ocas onde só as empenas desfiguradas ainda se erguem para um céu descolorido, vazias e trágicas em seu silêncio sem vida.

As pessoas, entretanto, resistem. Em teimoso desafio, buscam uma razão para continuar vivendo, depois que a morte e o desespero as rondou por tanto tempo. Fazem fila para resgatar a pouca água que ainda resta, andam a pé ou de bicicleta para fazer ressurgir algum ofício, encontrar alguma comida, abrigar-se à noite. Quase só há velhos, mulheres e crianças. Têm o olhar duro. Os velhos não sabem explicar como escaparam enquanto uma juventude inteira desapareceu. As mulheres são viúvas e foram, em sua maioria, estupradas por conquistadores sedentos de vingança. As crianças são órfãs. Nada esperam. Em Berlim, é maio de 1945. Para a Alemanha, é o Ano Zero.


Há setenta anos, no dia 8 de maio, a sede da Administração Militar Soviética, uma construção cinzenta no centro de Berlim, ocupada dias antes pelos russos, foi palco do capítulo final da maior hecatombe a se abater sobre o solo da Europa em toda sua história. Pouco antes da meia-noite daquele dia, três marechais, o alemão Wilhelm Keitel, o inglês Sir Arthur Tedder e o russo Georgy Zhukov assinaram o termo de capitulação dos exércitos germânicos em toda frente ocidental da Segunda Guerra Mundial. Foi a segunda parte de uma cerimônia semelhante ocorrida no dia anterior em Reims, na França, com a presença dos generais Alfred Jodl e Walther Bedell Smith. Os canhões continuariam a atirar e as bombas a cair, mas longe dali, no Extremo Oriente, onde o Império Japonês agonizava. No continente europeu, no entanto, era hora de contar os mortos, recuperar os feridos, reconstruir a vida.

O MARECHAL KEITEL ASSINANDO A RENDIÇÃO
Para além da outrora orgulhosa capital do Terceiro Reich, as cenas de cidades reduzidas a esqueletos de pedra e ferro retorcido multiplicavam-se aos milhares, na Alemanha, na França, na Bélgica, na Holanda, na Inglaterra, na Itália, na Áustria, na Polônia, na União Soviética. Sessenta milhões de mortos, entre soldados e civis, em cinco anos, oito meses e sete dias de luta. Ainda hoje os números assustam.

Quando terminou a cerimônia e a notícia ganhou as manchetes dos jornais, uma explosão de regozijo pôde ser ouvida de Moscou a Los Angeles. O riso franco do alívio e as lágrimas da alegria desenharam em milhões de rostos a esperança de que isto não mais se repetiria. Nunca mais. O preço fora alto, muito alto. A lição tinha de ser aprendida, para sempre.



Pois é. Todos nós sabemos a continuação desta história. E ficamos repetindo Bob Dylan: Oh When will they ever learn...


Oswaldo Pereira
Maio 2015

2 comentários:

  1. Não aprendemos.......alguns alegam que as guerras se fazem necessárias para conter o excesso de população, ou renovação cultural.......cruéis ou realistas sua visão tem eco em todos aqueles que as incentivam criando angústia em outros que são da Paz.....

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  2. Oi Oswaldo
    Por acaso estou aqui na França onde o dia de hoje é feriado em comemoração ao fim da segunda guerra, mas como você mesmo disse, parece que a humanidade não vai aprender nunca. A sede de poder é muito maior do que a vontade de paz.
    Grande abraço
    Zé Correa

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